“A faculdade
mediúnica é indicio de um estudo patológico qualquer, ou simplesmente anormal?
Algumas vezes anormal mas não patológico; há médiuns de uma saúde vigorosa; os
que são doentes, o são por outras causas." (Livro dos Médiuns – Allan Kardec, 2ª
parte – Cap. XVIII, item 221 – lº. ).
Na antiguidade a
cura das doenças era assunto dos sacerdotes e, portanto, da religião. Os
médicos de clero tratavam os doentes por meio de rituais e cantos mágicos em santuários
enormes. A enfermidade era considerada como a cólera de Deus, e os religiosos
atuavam como intermediários ou “pontes” entre a Divindade e os homens. Operavam
como “pontífices”, ou seja, “construtores de pontes” (do latim “pontifex”,
palavra para designar sacerdote). Há muito tempo a tradição católica presta
homenagem ao Papa, conferindo-lhe o titulo de Sumo Pontífice.
No passado, as
enfermidades eram vinculadas à culpa, isto é, aos pecados. O arrependimento dos
erros estava intimamente ligado à cura do doente; a penitência reconciliava a
criatura novamente com Deus.
Como os médiuns,
na atualidade, são denominados “intermediários” ou “pontes” entre o mundo físico
e o espiritual, e a mediunidade é vista, muitas vezes e de forma confusa, como “dádiva
sagrada” ou “corretivo divino”, isso pode levar as criaturas a tirar conclusões
equivocadas.
Todos nós somos herdeiros
de inúmeras experiências do pretérito. Encontram-se impressos em nossos painéis
do inconsciente profundo ideias e conceitos incorretos, remanescentes do
passado distante, depositados desde os tempos imemoriais em nosso arcabouço psicológico.
É preciso renovarmos essas concepções inadequadas sobre a Espiritualidade, para
melhor entendermos os mecanismos da Vida Providencial. Em muitas
circunstâncias, interpretamos novos conhecimentos sem dissociar nossos velhos
conceitos.
A capacidade mediúnica
é considerada uma percepção inerente à estrutura psíquica das criaturas; por
isso é que a encontramos nos mais diferentes níveis de consciência da
humanidade. Ela não é moral, mas sim amoral. É simplesmente uma das funções psicofisiológias
do ser humano.
Em virtude
disso, podemos enquadrá-la como um dos sentidos de que a alma se utiliza a fim
de manifestar-se e desenvolver-se, gradativamente, para a plenitude da vida.
A faculdade
medianímica não gera doenças. Ela não pode ser responsabilizada pelo estado patológico
das criaturas; é, antes de tudo, uma excelente ferramenta para ajudá-las a
despertar espiritualidade e a compreender a si mesmas, os outros seres e o
Universo. Quando exercitada, porém, de modo imprópio pode trazer riscos às
pessoas psicologicamente frágeis ou vulneráveis.
O fenômeno psíquico
em si não produz a insanidade. No entanto, em toda e qualquer faculdade, quando
exercida de forma exaustiva e prolongada, pode conduzir à fadiga ou à
enfermidade.
Uma pessoa tem
alto grau o dom de cantar e o utiliza, ou para glorificar as belezas da terra,
ou para exaltar canções obscenas. Mas, neste caso não pode ser julgada imoral.
Os olhos, além
de transmitir nossos sentimentos e intenções, também colhem as impressões puras
e sadias, que nascem do coração, como também inveja e revolta, que exalam um
brilho estranho de hipocrisia. Contudo, a visão não pode ser acusada de agente
de falsidade ou desequilíbrio.
As mãos quando
empregadas na canalização da energia nuclear, podem iluminar e aquecer os
lares; assim como podem explodi-los se utilizadas indevidamente.
O sexo é um dos
departamentos mais sublimes da natureza humana. Cria, através das emoções
sexuais, as energias necessárias para a manutenção dos afetos e a
materialização das formas. Há porém, quem o utilize para a satisfação das sensações
mais grosseiras e torpes. Isso, contudo, não lhe tira o mérito sublime para o
qual foi criado.
É sempre a
criatura que, servindo-se de seus sentidos, dá à sua existência um destino
construtivo ou destrutivo. Nós é quem decidimos que fim vamos dar aos nossos
recursos e possibilidades. Todavia, não podemos nos esquecer de que somos
livres para colher atos e atitudes, mas prisioneiros de suas consequências.
Precisamos
aprender a usar a mediunidade, assim como usamos normalmente as nossas
capacidades humanas – a percepção, a atenção, o bom senso, a memória, o
critério lógico, a linguagem, enfim todas as atividades do nosso reino
interior.
Por sua vez, não
é recomendável utilizar as faculdades psíquicas para explorar “outros mundos”,
até que tenhamos o pleno controle do mundo em que estamos vivendo aqui e agora.
Desenvolver nosso “sexto sentido” não é
um meio de resolver problemas comportamentais cuja solução está em nosso
alcance; de buscar auxílios imediatistas, de tirar proveitos pessoais, de
conseguir respostas paliativas para problemas reais. Quando começamos a
vivenciar experiências extra-sensoriais, é a hora urgente de intensificarmos a
análise distintiva da realidade e da ilusão. Em muitas ocasiões,
habilidade transcendentais quando mal
elaboradas podem nos levar ser “servos apaixonados”, mas “discípulos distraídos”.
A compreensão da
faculdade mediúnica torna-se confusa e difícil para nós a medida em que também
vemos os traços característicos de certas doenças mentais. Pois os sinais
precursores da mediunidade podem eclodir e ser confundidos com os sintomas das
deficiências fisiopsíquicas. Em razão disso, nem sempre se pode compreender com
facilidade, ou ver com clareza, a distinção entre as manifestações mediúnicas,
em seu início, e os estados doentios.
Mediunidade é um
produto do processo de desenvolvimento da natureza humana. Médiuns não são “agraciados”
nem “enfermos”. São uma verdadeira “ponte para a sanidade”. Podem, sim,
tornar-se verdadeiros pontífeces (“construtores de pontes”) em busca da saúde
integral – estado de consciência em harmonia plena com as leis naturais do
Universo. Religando a si mesmos com a Fonte Divina, eles são capazes de
preparar caminhos para que se estabeleça a cura real para a humanidade.
Diante dessas
nossas considerações, finalizamos com a resposta dos Espíritos Superiores
quando afirmam a Allan Kardec que o fenômeno mediúnico pode ser considerado “algumas
vezes normal, mas não patológico; há médiuns de uma saúde vigorosa; os que são
doentes, o são por outras causas.”
Livro: A
Imensidão do Sentido.
Espírito: Hammed
Médium:
Francisco do Espírito Santo Neto.
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