Cingidos estejam vossos corpos e acesas as vossas candeias.
As condições em
que despertaremos, na Espiritualidade, após a morte corporal, dependem, efetiva
e indisfarçavelmente, do nosso estado evolutivo.
Do rumo que
tivermos imprimido aos nossos passos. Do esforço evangélico empreendido.
Da maneira como
tivermos sabido valorizar o tempo.
O Espiritismo
tece, sobre este assunto, oportunas e valiosas considerações, aclarando, assim,
o pensamento do Mestre.
A situação do
homem, após a desencarnação, suscita o interesse para os primeiros instantes
de vida na esfera subjetiva!
O acordamento,
em si mesmo, como fenômeno insólito, estranho, surpreendente, inesperado.
A recuperação
gradual da memória, no perispírito, com a consequente lembrança dos fatos que
nos poderão dar paz ou desassossego.
O reencontro com
amigos e adversários, em planos determinados pelo nosso peso específico.
A resposta da
Lei à nossa vigilância na fraternidade ou à nossa insensatez ante a
grandeza da vida, mediante indefiníveis júbilos ou insuportáveis
tormentos.
O conhecimento,
espontâneo ou compulsório, segundo as circunstâncias e necessidades educativas,
de outras existências, assinalando, nos quadros da memória supranormal, reminiscências
suaves e doces, ou dolorosas e amargas.
O grau, a
natureza, a duração de nossos retrospectos mentais. Tudo isso, expressando a
realidade imanente, condicionar-se-á aos próprios valores morais e espirituais
de quem parte no rumo da Eternidade...
Resultará do
plantio que tivermos feito, pois colheremos o que semearmos. Representará a
indefectível reação da Lei às nossas atitudes, palavras e pensamentos na vida terrena,
onde, há cerca de dois milênios, vimos caminhando sob a luz do Evangelho da Redenção.
Tudo
isso — repetimos — dependerá da maior ou menor firmeza com
que nos tivermos conduzido no Mundo. A palavra de ordem, portanto, enquanto
estamos no plano físico, deve ser:
Vigilância,
vigilância, vigilância...
Evidentemente, o
Mestre não pede santificação da noite para o dia. Ninguém adormece pecador,
para despertar angelificado.
Mas é possível
ao homem deitar-se vazio de ideias nobilitantes, escravo da preguiça e da incerteza,
descrente e amorfo, e levantar-se, na manhã seguinte, renovado e feliz,
desejoso de trocar o encardido vestuário da indolência e da irresponsabilidade,
pela túnica singela, mas bem cuidada, do servidor operoso.
A santificação,
de fato, exige muito; mas a boa vontade custa menos. Há um ditado, bem
conhecido, que assegura:
— “A noite
é boa conselheira.” Contudo, aqueles que o divulgam ignoram, em sua maioria, a
substância, a essência do enunciado popular.
O Espiritismo
faz luz sobre o assunto. Explica que, ao adormecermos, o nosso Espírito,
parcialmente liberto, reúne-se, em certas ocasiões, a entidades amigas e
generosas que lhe transmitem sábios conselhos, preciosas advertências,
sugestões benevolentes que nos fazem despertar mais felizes, mais esperançosos,
mais lúcidos, mais inspirados na solução dos problemas da vida.
No jogo
das aparências, em que se comprazem os homens, de fato é a noite “boa conselheira”.
Na realidade,
porém, excelentes companheiros — carinhosos instrutores espirituais
— é que nos esperam, durante o repouso físico, para traçarem valiosas
diretrizes que possibilitem o equacionamento de complexas questões de
nossa experiência evolutiva.
Urge, pois,
exerçamos a vigilância. Preservemos a saúde do corpo e a harmonia do Espírito.
Santifiquemos os olhos diante do mal. Eduquemos o ouvido. Controlemos a língua.
Imprimamos
direção evangélica aos nossos passos. Evitemos animosidades — monstros que se
prolongam além da vida física.
Absorvamos,
enfim, o perfume que se evola das eternas lições que o Divino Amigo nos legou,
cingindo nossos corpos e acendendo as nossas candeias.
* * *
Enquanto no
Mundo, é possível refletir com segurança e agir com relativo
equilíbrio.
No entanto, após
o desenlace corporal, quando se patenteiam e se evidenciam os nódulos espirituais
e os desajustes psíquicos, o problema da segurança e do equilíbrio se torna
menos fácil.
Sem o refúgio do
vaso físico, a preservá-la do assédio das sombras, a alma que se não movimentou no
bem se recomporá com mais dificuldade.
Imprevisível é a
hora da grande transição.
Compete-nos,
destarte, permanecermos na vigilância, na identificação com o Reino de Deus e
Sua Justiça, a fim de que partida e chegada não sejam ocorrências dolorosas.
Especialmente a chegada.
Viver no bem
— aprendendo e servindo, amando e perdoando — para que o
adormecer seja suave, e o despertar sublime.
Cinjamo-nos,
pois, com a túnica da benevolência e do perdão incondicional, para que a candeia
da fé e do conhecimento superior ilumine nossos passos, além da morte,
assegurando-nos, assim, a alegria que se não extingue. E a felicidade que se
não acaba...
Livro: Estudando
O Evangelho.
Martins Peralva.
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