A virtude não é
veste de gala para ser envergada em dias e horas solenes. Ela deve ser nosso
traje habitual. A virtude precisa fazer parte de nossa vida, como o alimento que
ingerimos cotidianamente, como o ar que respiramos a todo instante.
A virtude não é
para ostentação: é para uso comum. É falsa a virtude que aparece para os de
fora, e não se verifica para os familiares. Quem não é virtuoso dentro do seu lar,
não o será na vida pública, embora assim aparente. Ser delicado e afável na sociedade,
deixando de manter esses predicados em família, não é ser virtuoso, mas hipócrita.
A virtude não tem duas faces, uma interna, outra externa: ela é integral, é perfeita
sob todos os aspectos e prismas. Não há virtude privada e virtude pública: a virtude
é uma e a mesma, em toda parte.
O hábito da
virtude, quando real, reflete-se em todos os nossos atos, do mais simples ao
mais complexo, como o sangue que circula por todo o corpo.
As conjunturas
difíceis, as emergências perigosas, não alteram a virtude quando ela já
constitui nosso modo habitual de vida.
A virtude assume
as modalidades necessárias para se opor a todos os males, sem prejuízo de sua
integridade. Há um matiz para resolver cada caso, para se opor a cada vício,
para vencer cada paixão, para enfrentar cada incidente; mas sempre, no fundo, é
a mesma virtude. Ela é como a luz, que, iluminando, resolve de vez todos os
obstáculos e tropeços, franqueando-nos o caminho. O hábito da virtude é fruto
de uma porfiada conquista. Possuí-la é suave e doce. Praticá-la é fonte perene
de infindos prazeres. A dificuldade não está no exercício da virtude, mas na
oposição que lhe faz o vício, que com ela contrasta. É necessário destronar um
elemento, para que o outro impere. O vício não cede o lugar sem luta. A virtude
nos diz: eis-me aqui, recebei-me, dai-me guarida em vosso coração; mas
lembrai-vos de que, entre mim e o vício, existe absoluta incompatibilidade. Não
podeis servir a dois senhores.
A verdadeira
religião é a da virtude. Fora da virtude não há salvação. "Vós sois o sal da
Terra", disse Jesus aos seus discípulos. Se ele hoje viesse ao mundo
reunir seus escolhidos, não se valeria certamente das denominações e títulos
dos vários credos religiosos para os distinguir; a virtude seria o sinal
inconfundível por onde os descobriria, por mais dispersos e disfarçados que
estivessem.
É pela virtude
que as almas se irmanam entretecendo entre si liames indissolúveis. Os homens
de virtude entendem-se num momento, ao passo que os séculos não são suficientes
para firmar acordo entre aqueles que dela vivem divorciados.
Propaguemos a
religião da virtude: só ela satisfaz o senso da vida, conduzindo o espírito à
realização dos seus destinos.
Livro: Nas
Pegadas do Mestre.
Vinícius.
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