"Dizeis vós
que ainda há quatro meses para a ceifa? eu, porém, vos digo: Erguei os vossos
olhos e contemplai esses campos, que já estão branquejando próximos da ceifa. E
o que ceifa, recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna, para que assim
o que semeia, como o que sega, juntamente se regozijem. Pois nisto é verdadeiro
o provérbio, que um é o que semeia e outro o que sega." (Evangelho.)
No campo
espiritual a época da sementeira é, a seu turno, a época da sega. Semear e
ceifar são tarefas que se realizam simultaneamente. Não há estações exclusivas
para semear ou para ceifar. Em todas elas se espalham as sementes, e em todas
elas se recolhem as messes. O que semeia num tempo, recolhe as primícias de outros
tempos. Na lavoura espiritual a solidariedade é lei inelutável. Não há obreiros
cujo mister consista exclusivamente em semear ou em ceifar. O que semeia colhe,
e o que colhe semeia. O que sega alegra-se na colheita cuja sementeira foi
trabalho de outrem; por isso ele semeia também, a fim de que outros recolham o
fruto dos labores. Trabalho e justiça, justiça e amor.
Os tempos são
sempre chegados. A hora vem, e agora é. Só os ociosos aguardam épocas
longínquas, que jamais chegam. Os laboriosos não perdem tempo: os campos branquejam
para a colheita, as leiras esperam pela sementeira. Não existe pretérito, não existe
futuro; existe o presente eterno convidando o Espírito ao trabalho. Todos são capazes,
todos são aptos: é bastante querer. O chamado persiste, a seara é incomensurável.
A geração atual
goza em todo o sentido uma grande soma de benefícios, de comodidades e direitos
que, em seu conjunto, representa o esforço, a luta e o sacrifício de gerações
passadas. O presente é a conseqüência do pretérito, assim como o futuro será a
resultante do presente. Em matéria de liberdade, fruímos hoje as conquistas dos
mártires de outrora, que pela liberdade se sacrificaram. É certo que ainda
perduram os vestígios da tirania e do despotismo de outras eras. Cumpre,
portanto, trabalharmos por extingui-los totalmente, preparando para os
vindouros um mundo melhor, onde a liberdade e a justiça sejam soberanas.
É ilícito
receber e não dar. O egoísmo é contraproducente; quem ceifa contrai a obrigação
de semear. De mais, para quem semeamos? para quem será o mundo melhor, o mundo
escoimado de iniquidades, de hipocrisias, de vícios e de crimes? Para quem estaremos
preparando a Nova Jerusalém, a terra onde há-de habitar a justiça? Tudo fazemos
para nós mesmos; pois as gerações que se sucedem no cenário terreno somos nós
próprios, são os nossos filhos, os nossos irmãos, os objetos do nosso amor.
Nossa existência passa como sombra; "somos de ontem, e ignoramo-lo"!
Nada de egoísmo,
pois; nada de ócios infindáveis. Obreiros da vinha do Senhor! mãos à obra;
semeai e colhei, porque na seara espiritual todas as estações são próprias, todas
as épocas são favoráveis, todos os tempos são bons, tanto para semear como para
colher.
A hora vem, e
agora é.
Livro: Nas
Pegadas do Mestre.
Vinícius.
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