sexta-feira, 6 de junho de 2014

A Evolução da Humanidade – Rodolfo Calligaris

Em que pese à Opinião dos Cépticos e das criaturas mal informadas, um exame atento e sem juízo preconcebido da conduta humana há de levar-nos à conclusão irrefutável de que, a despeito dos inúmeros males Sociais que ainda nos assoberbam a Humanidade tem progredido, afastando-se pouco a pouco, do egoísmo, da crueldade e da injustiça, fazendo que prevaleçam os sentimentos nobres, inspiradores dos mais belos e puros ideais.
Graças àqueles que, em vez de julgarem o Mal uma fatalidade, se dispõem, ao contrário, a trabalhar pela vitória do Bem, dia a dia mais se desenvolve a noção de solidariedade para com os semelhantes, mais vivazes se mostram os anseios pela abolição da guerra e maiores avanços se verificam na luta em prol dos direitos humanos. (questão 797.)
Uma boa prova disso no-la dão as Nações Unidas no relatório correspondente aos seus vinte anos de existência, iniciada a 24 de Outubro de 1945. Digna de destaque, nesse documento, a informação de que algumas das nações mais prósperas estão doando seus excedentes agrícolas e outros gêneros alimentícios para amenizar os graves efeitos da fome em outras áreas do mundo, fornecendo-lhes, em complemento, vultosos empréstimos, em condições de resgate bastante vantajosas, bem assim assistência técnica, visando ao aumento da produção de víveres e consequente melhoria de seus padrões de nutrição.
Ressalte-se, por outro lado, o compartilhamento de conhecimentos científicos promovido pelas Nações Unidas, tendo em vista o desenvolvimento de todos os países e a eficiente ajuda da Organização Mundial da Saúde, um de seus órgãos, na elevação das condições sanitárias de toda a Humanidade, seja amparando e fomentando a pesquisa médica internacional, seja auxiliando a erradicação de doenças epidêmicas ou de disseminação em massa, como a febre amarela, a varíola, a malária, a tuberculose, etc.
Perguntamos: Essa colaboração espontânea dos povos mais adiantados em benefício dos menos desenvolvidos não constitui indicio seguro de que estamos caminhando rumo ao altruísmo, ou seja, ao solidarismo cristão?
As relações amistosas entre as nações vão, a seu turno, ganhando extensão e profundidade. Haja vista que, através de mediações ou negociações entre as partes litigantes, vários conflitos armados foram evitados ou tiveram fim nestas últimas duas décadas, evitando-se, com tais soluções conciliatórias, o sacrifício de milhões de vidas.
O magno problema do desarmamento, inclusive a proscrição das armas de destruição maciça, um dos objetivos precípuos da ONU, tem sido alvo, igualmente, de persistentes debates no seio da Assembleia Geral e, apesar das divergências entre as principais potências nele interessadas, notáveis progressos já foram alcançados, dando-nos a esperança de que um acordo geral venha a ser firmado em breve, garantindo-se, finalmente, a segurança e a paz internacionais.
Enquanto esse dia não chega, as guerras continuam flagelando diversas regiões, obrigando milhares de pessoas a deixar suas pátrias em busca de refúgio em outros países. Sob os auspícios das Nações Unidas, porém, esses refugiados (menores de idade, em grande parte) recebem abrigo, alimentação, cuidados médicos, educação e formação profissional, tornando-se, assim, capazes de se auto-sustentarem onde quer que venham a viver.
Tais realizações revelam que entre os homens não existe apenas ódio, mas também muita bondade e muito esforço sincero no sentido de acabar com o sofrimento.
Fecunda e incansável, do mesmo modo, tem sido a porfia da Organização das Nações Unidas pela implantação da justiça social em todas as partes do mundo, e daí o haver elaborado e proclamado, a 10 de Dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, segundo a qual todos, indistintamente, têm “direito à vida, à liberdade e segurança física, à liberdade de movimento, de religião, de associação e de informação; o direito a uma nacionalidade; o direito de trabalhar sob condições favoráveis, recebendo remuneração igual por igual trabalho realizado; o direito ao casamento e a constituir família”.
Certos setores especializados, como os direitos da mulher, os direitos da criança e a eliminação da discriminação racial na educação, no emprego, nas práticas religiosas e no exercício dos direitos políticos, têm-lhe merecido, outrossim, acurados estudos, dos quais resultaram declarações especiais, juntamente com a solicitação a, todos os seus Estados membros de providências efetivas para a concretização dos princípios aprovados.
Não é só. Agindo em consonância com os propósitos gerais da Organização, as Nações Unidas utilizaram fortes estímulos junto aos povos dependentes para que reivindicassem o autogoverno, resultando desse apoio o surgimento de grande número de novas nações independentes, notadamente na Ásia e na África, fazendo que seu quadro de membros, que abrangia apenas 51 Estados fundadores, subisse para 114. Isso equivale a dizer que “as liberdades fundamentais do homem” vigoram, hoje, em mais do dobro dos países que, há vinte anos, gozavam desse privilégio.
A evolução da Humanidade, como se vê, é “palpável”. Não enxergá-la, pois, é dar mostra de acentuada miopia espiritual.
Livro: AS LEIS MORAIS
RODOLFO CALLIGARIS.

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