9. Os Espíritos,
como foi dito, têm um corpo fluídico ao qual se dá o nome de perispírito. A sua
substância é haurida no fluido universal, ou cósmico, que o forma e o alimenta,
como o ar forma e alimenta o corpo material do homem. O perispírito é mais ou
menos etéreo segundo os mundos e segundo o grau de depuração do Espírito. Nos
mundos dos Espíritos inferiores, a sua natureza é mais grosseira e mais se
aproxima da matéria bruta.
10. Na
encarnação, o Espírito conserva o seu perispírito: o corpo não é para ele senão
um segundo envoltório mais grosseiro, mais resistente, apropriado às funções
que deve cumprir, e do qual ele se despoja na morte. O perispírito é o intermediário entre o
Espírito e o corpo; é o órgão de transmissão de todas as sensações.
Para aquelas que
vêm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a
transmite, e o Espírito, o ser sensível e inteligente, a recebe; quando o ato
parte da iniciativa do Espírito, pode-se dizer que o Espírito quer, que o
perispírito transmite, e o corpo executa.
11. O
perispírito, de nenhum modo, está encerrado nos limites do corpo, como numa
caixa; pela sua natureza fluídica, ele é expansível; irradia ao redor e forma,
em torno do corpo, uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem
estender mais ou menos; de onde se segue que as pessoas que, de nenhum modo,
não estão em contato corporal, podem estar pelo seu perispírito e se transmitir
impressões, com o seu desconhecimento, alguma vezes mesmo a intuição de seus
pensamentos.
12. Sendo o
perispírito um dos elementos constitutivos do homem, desempenha um papel importante
em todos os fenômenos psicológicos e, até um certo ponto, nos fenômenos fisiológicos
e patológicos.
Quando as ciências
médicas tiverem em conta a influência do elemento espiritual na economia, terão
dado um grande passo, e horizontes inteiramente novos se abrirão diante delas;
muitas causas de enfermidades serão então explicadas e poderosos meios de
combatê-las serão encontrados.
13. É por meio
do perispírito que os Espíritos agem sobre a matéria inerte e produzem os diferentes
fenômenos das manifestações.
A sua natureza
etérea não poderia ser um obstáculo, uma vez que se sabe que os mais poderosos
motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos e fluidos imponderáveis. Não
há, pois, de nenhum modo, lugar para se espantar de ver, com a ajuda dessa
alavanca, os Espíritos produzirem certos efeitos físicos, tais como pancadas e ruídos
de todas as espécies, levantamento de objetos, transportados ou projetados no
espaço.
Não há nenhuma
necessidade, para disso se dar conta, de recorrer ao maravilhoso ou aos efeitos
sobrenaturais.
14. Os
Espíritos, agindo sobre a matéria, podem se manifestar de várias maneiras
diferentes: por efeitos físicos, tais como os ruídos e o movimento de objetos;
pela transmissão do pensamento, pela visão, o ouvido, a palavra, o toque, a
escrita, o desenho, a música, etc., em uma palavra, por todos os meios que
podem servir para colocá-los em relação com os homens.
15. As
manifestações dos Espíritos podem ser espontâneas ou provocadas. As primeiras ocorrem
inopinadamente e de improviso; elas se produzem, frequentemente, nas pessoas
mais estranhas às ideias espíritas.
Em certos casos,
e sob o império de certas circunstâncias, as manifestações podem ser provocadas
pela vontade, sob a influência de pessoas dotadas, para esse efeito, de
faculdades especiais.
As manifestações
espontâneas ocorreram em todas as épocas e em todos os países; o meio de
provocá-las, certamente, era também conhecido na antiguidade, mas era o
privilégio de certas castas que não o revelavam senão a raros iniciados, sob
condições rigorosas, e escondendo-o ao vulgo, a fim de dominá-lo pelo prestígio
de uma força oculta.
Não obstante, perpetuou-se
através das idades até os nossos dias, em alguns indivíduos, mas quase sempre desfiguradas
pela superstição ou misturada às práticas ridículas da magia, o que havia contribuído
para desacreditá-la. Isso não fora, até então, senão germes lançados aqui e
ali; a Providência reservara à nossa época o conhecimento completo e a
vulgarização desses fenômenos, para livrá-los de suas más ligas e fazê-los
servirem para a melhoria da Humanidade, hoje madura para compreendê-los e deles
tirar as consequências.
Livro: Obras
Póstumas – Allan Kardec.
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