“... A obediência e a resignação, duas
virtudes companheiras da doçura, muito ativas, embora os homens as confundam
erradamente com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o
consentimento da razão, a resignação é o consentimento do coração...” (O Evangelho
Segundo o Espiritismo – Allan Kardec, Capítulo 9, item 8.)
A subserviência
pode esconder falta de iniciativa, passividade indesejável, complexo de
inferioridade e uma imaturidade de personalidade.
Obedecer não é
negar a vontade e o sentimento, mas exercitar o próprio poder de escolha para
cooperar com os outros na produção de algo maior e melhor do que aquilo que se
faria sozinho.
Assim
considerando, a obediência deve ser uma postura interna, racional, lógica,
compreensiva e a mais consciente possível.
Os problemas do
servilismo ou da subserviência nas criaturas foram gerados em muitas
circunstâncias na infância, quando pais instigavam o medo e a ameaça como forma
de obter obediência dos filhos. Trata-se de um propósito cômodo e muito rápido,
mas contra-indicado na complexa tarefa de educar.
Adultos que
herdaram tal formação familiar, se não forem espíritos maduros e decididos, com
farta bagagem espiritual e valores desenvolvidos, poderão viver com essa “intrusão
educacional”. Esse modo forçado de obedecer aos outros desenvolve neles uma
postura de anulação das próprias metas, pois substitui sua independência pela
vontade alheia.
Outros tantos
trazem das vivências anteriores sentimentos de culpa por abandonarem sem
nenhuma consideração entes queridos. São verdadeiros ‘clichês mentais’
arquivados no inconsciente profundo, que detonam em forma de obediência e
servidão compulsória, para compensar o passado infeliz.
A Psicologia,
por seu turno, assevera que certos indivíduos desequilibrados por conflitos
herdados na infância trazem enraizados em sua personalidade uma necessidade
enorme de satisfazer seus “sentimentos de mando” e “de autoridade”, sempre
impondo ordens, métodos e regras que, obedecidos passivamente, lhes trazem um
enorme prazer e satisfação.
Essas pessoas ao
entrarem em contato com personalidades submissas, compensarão sua neurose de “dar
ordens”, e em muitos casos, somam ao seu impulso agressivo a “neurose de
autoridade”, satisfazendo assim suas características sádicas, dominando e
afligindo essas criaturas servis, por anos e anos.
O ser humano que
se sujeita a ordens de comando vive constantemente numa confusão mental,
absorvendo na atmosfera íntima uma sensação de “não ter agradado o suficiente”.
Numa tentativa inútil de cumprir e concordar com ordens recebidas, cai quase
sempre na decepção, na revolta e na indignação, pois esperava receber amor e
consideração pela obediência executada.
Muitos de nós
tivemos pais que nunca se importaram em nos “impor limites”, fatores
indispensáveis para que a criança aprenda a conhecer o “não”, evitando a ilusão
de que terá tudo a seu dispor e que jamais encontrará obstáculos e dificuldades.
Viver querendo
ter sempre nossos desejos realizados e executados é “exigir obediência”, a
qualquer preço, daqueles que nos cercam.
Paralelamente,
com o passar do tempo, essa postura pode se tornar inversa. Ao invés de
exigirmos sujeição de todos os nossos pontos de vista, passamos a “nunca dizer
não”, sempre tentando satisfazer os outros, sempre dizendo “sim”, ainda que
precisemos ir às últimas conseqüências.
Por outro lado,
uma pessoa que “nunca diz não” só pode ser “desonesta”, porque diz que “faz” e “dá”
muito mais do que “tem” e “pode”, expondo-se sempre ao risco de ser tachada de
hipócrita e, além de tudo, de não realizar sua própria missão na Terra, porque
se arvorou em correr atrás das realizações dos outros.
“A obediência é
o consentimento da razão”. Quem consente alguma coisa permite que se faça ou
não, conforme achar conveniente à sua maneira de agir e pensar. “A resignação é
o consentimento do coração”, ou melhor, os sentimentos falarão mais alto e a
criatura abdicará o seu direito em favor de alguém, ou de uma causa, por livre
e espontânea vontade, já que o direito era de sua competência.
Efetivamente, a
obediência e a resignação, virtudes às quais Jesus de Nazaré se referia, não
são aquelas que “os homens as confundem erradamente com a negação do sentimento
e da vontade”, conforme bem define o espírito Lázaro no texto em reflexão.
Lembremo-nos,
portanto, de que servir nem sempre será considerado virtude, visto que essa
postura de nossa parte pode simplesmente estar camuflando uma obrigação
compulsiva de agradar a todos, bem como pode estar desviando-nos de nossa real
missão na Terra, que é crescer e amadurecer espiritualmente.
Livro: Renovando
Atitudes.
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.
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