Uma vez que os Espíritos simpáticos são induzidos a
unir-se, como é que, entre os encarnados, frequentemente só de um lado há
afeição e que o mais sincero amor se vê acolhido com indiferença e, até, com
repulsão? Como é, além disso, que a mais viva afeição de dois seres pode
mudar-se em antipatia e mesmo em ódio?
Não compreendes então que isso constitui uma punição,
se bem que passageira? Depois, quantos não são os que acreditam amar
perdidamente, porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver
com as pessoas amadas, não tardam a reconhecer que só experimentaram um
encantamento material. Não basta uma pessoa estar enamorada de outra que lhe
agrada e em quem supõe belas qualidades. Vivendo realmente com ela é que poderá
apreciá-la. Tanto assim que, em muitas uniões, que a princípio parecem
destinadas a nunca ser simpáticas, acabam os que as constituíram, depois de se
haverem estudado bem e de bem se conhecerem, por votar-se, reciprocamente,
duradouro e terno amor, porque assente na estima! Cumpre não se esqueça de que
é o Espírito quem ama e não o corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material,
o Espírito vê a realidade. “Duas espécies há de afeição: a do corpo e a da
alma, acontecendo com frequência tomar-se uma pela outra. Quando pura e
simpática, a afeição da alma é duradoura; efêmera a do corpo. Daí vem que,
muitas vezes, os que julgavam amar-se com eterno amor passam a odiar-se, desde
que a ilusão se desfaça”.
Seja qual seja o motivo em que o tédio se fundamente, recorram
os companheiros imanizados em mútua associação no lar ao apoio recíproco mais
profundo e mais intensivo. Com isso, estarão em justa defesa da harmonia
íntima, sem castigarem o próprio corpo. E reeducar-se-ão, sem hostilizar os
que, porventura, lhes demonstrem afeto, mas acolhendo-o, não mais na condição
de cúmplices das aventuras deprimentes, a que se renderam outrora, e sim por
irmãos queridos, com quem podemos fundir-nos, em espírito, no mais alto amor
espiritual.
Livro:
Vida e Sexo.
Emmanuel
/ Chico Xavier.
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