No futuro, a
religião superior ou natural só será fundamentada na mais afetuosa fraternidade
e professada individualmente pela criatura que. superou o "ser
religioso" e desenvolveu em si o "ser religiosidade".
A vida é um
processo evolutivo e todos somos "seres caminhantes" nesse processo. Ainda
nos falta longo trajeto a percorrer para atingirmos o desenvolvimento total de nossas
potencialidades inatas. As Mãos Divinas nos criaram perfectíveis (O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec, questão 776), isto é, fomos concebidos potencialmente
perfeitos. Já estamos prontos, concluídos; a Vida Providencial apenas espera
nosso despertar, ou seja, agora só nos resta sair do sono da inconsciência de
nós mesmos.
Na maioria das
vezes, por ser tão vasto o campo do potencial humano, direcionamos nossa visão
somente às informações, aos conceitos e às idéias pessoais e particulares. Não
vemos claramente os processos interligados que fazem parte de uma mesma rede de
relações invisíveis que ocorrem em nossos mundos interno e externo.
É oportuno
recordarmos trecho do discurso do chefe indígena norte-americano Seattle: "Tudo
o que acontece com a Terra acontece com os filhos da Terra. O homem não tece a
teia da vida; ele é apenas um fio. Tudo o que faz à teia ele faz a si mesmo".
Esse pequeno
texto sintetiza os pilares do que podemos chamar de "ecologia
divina". Todo e qualquer ser vivo tem seu valor intrínseco, sendo os seres
humanos somente um dos fios da imensa série de elos da vida. Essa foi a mais
exata e essencial definição de fraternidade - como devemos nos relacionar no
mundo.
É preciso termos
uma "visão holística" (do grego bolos: todo) de tudo o que nos
rodeia. "O Criador está em tudo e em todos", mas Ele não pode ser
circunscrito a nada. Assim como a assinatura do artista está em sua obra, Deus,
igualmente, está presente nas suas criações através de suas leis divinas ou
naturais (o Livro dos Espíritos – Allan Kardec, questão 621).
A fraternidade é
o entrelaçamento sagrado entre as criaturas. Ela possui a condição de afetividade
fecunda e frutífera; é a única e verdadeira forma de união humana.
Uma tomada de
consciência dessa natureza exige de cada um de nós uma mudança radical quanto
ao modo de encarar as criações e criaturas. Essa maneira de ver e perceber a
existência produz uma profunda conscientização de religiosidade sobre a realidade
de quem somos e de como vivemos.
Se nós,
criaturas humanas, considerarmos que o Universo é uma imensa malha interligada
e agirmos de conformidade com esse princípio, não estaremos fazendo nada mais
do que reforçar e vivenciar a essência da palavra religião (do latim religare: ligar
novamente). Aliás, o Cristo veio ao mundo para religar os homens a Deus, e Ele assim
se referiu à autêntica religião do porvir: "(...) Deus é espírito e
aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade." (Jesus / João,
4:24)
No futuro, a
religião superior ou natural só será fundamentada na mais afetuosa fraternidade
e professada individualmente pela criatura que superou o "ser
religioso" e desenvolveu em si o "ser religiosidade".
O amadurecimento
e o crescimento do indivíduo se fazem por meio da sucessão das existencias
corporais. Ela "estabelece entre os Espíritos laços que remontam às
existências anteriores. Pai muitas vezes, decorrem as causas da simpatia entre
vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos".
" Uma vez
que temos tido várias existências, a parentela remonta além da nossa existência
atual' (O Livro dos Espíritos – Allan Kardec, questão204) e, como resultado, cada vez mais aumenta a
afetividade entre as criaturas, sedimentando nelas os laços da fraternidade.
O que é
fraternidade? E ter afeto por todos, considerando-os como irmãos; é o nome que
se dá ao sentimento que une irmão a irmão. Palavra oriunda do latim: frater,
tris —"irmão pelo sangue ou por aliança". Fraternizar, na real
acepção da palavra, não é apenas comungar das mesmas idéias, dos mesmos ideais
ou convicções, mas acima de tudo, respeitá-los.
A convocação da
nossa época é mais para "atos de fraternidade" do que para "atos
de beneficência". Se os primeiros existirem, com certeza os segundos serão
conseqüências naturais.
No "mundo
ético", a busca é a do bem comum e da fraternidade. No "mundo moralista"
não há afetividade de irmãos; a busca é por se enquadrar nas leis sociais, que
possuem um manto fictício de direitos humanos, mas que, quase sempre, constituem
regras ou normas partidárias, cruéis e desumanas. A humanidade atual é mais
moralista do que ética.
Hoje, muitos
indivíduos estão presos à "robotização dos costumes". São excessivamente
ajustados aos "hábitos impensados"; até realizam atos de caridade -colocam
em prática os ensinos de Jesus -, sem perceber, porém, qual é o verdadeiro significado
do amor fraterno.
São criaturas
que utilizam constantemente a palavra fraternidade, nomeando as pessoas de
"queridos irmãos". Todavia, não possuem a convicção real de que,
quando um ser humano chama o outro de irmão, é porque já validou em si mesmo um
senso de valor segundo o qual o bem coletivo e o progresso da humanidade estão
acima da religião que professa.
Os seres que
desenvolveram uma afetividade fraternal aprenderam que a humanidade inteira faz
parte de um todo interligado, regido por uma só lei, natural ou divina. No entanto,
nada os impede de cooperar fraternalmente com toda e qualquer pessoa do planeta,
pois têm plena compreensão da maneira pela qual as raças e os povos vivem e entendem
a religiosidade. Sabem que há inúmeros meios de ver a realidade - nós próprios,
as outras pessoas, o Universo, a vida e Deus. Por isso, aceitam de forma pacífica
as diferenças.
Reconheceram que
cada um de nós vê parte da verdade diante do Universo, e que todos nós temos
uma "visão de mundo" proporcionalmente reduzida ao tamanho da nossa
cegueira espiritual ou distorção da realidade.
Na ética ou na
fraternidade, a vida social do planeta se transforma numa melodia executada por
muitos instrumentos afinados na mesma tonalidade; todos vibram em conjunto,
embora uma só música seja tocada.
Livro:
Os Prazeres da Alma.
Espírito:
Hammed.
Médium:
Francisco do Espírito Santo Neto
Estudando O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
204. Uma vez que
temos tido muitas existências, a nossa parentela vai além da que a existência
atual nos criou?
Não pode ser de
outra maneira. A sucessão das existências corporais estabelece entre os
Espíritos ligações que remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas
vezes, a simpatia que vem a existir entre vós e certos Espíritos que vos
parecem estranhos.
621. Onde está
escrita a lei de Deus?
Na consciência.
621a) - Visto
que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe
ser ela revelada?
Ele a esquecera
e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.
776. Serão
coisas idênticas o estado de natureza e a lei natural?
Não, o estado de
natureza é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado de
natureza, ao passo que a lei natural contribui para o progresso da Humanidade.
A.K.: O estado
de natureza é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu
desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o
gérmen do seu aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente
no estado de natureza, como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele
estado é transitório para o homem, que dele sai por virtude do progresso e da
civilização. A lei natural, ao contrário, rege a Humanidade inteira e o homem
se melhora à medida que melhor a compreende e pratica.
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