Desde os
primórdios da organização religiosa no mundo, há quem estime a vida
contemplativa absoluta por introdução imprescindível às alegrias celestiais.
Cristalizado em
semelhante atitude, o crente demanda lugares ermos como se a solidão fosse
sinônimo de santidade.
Poderá, contudo,
o diamante fulgurar no mostruário da beleza, fugindo ao lapidário que lhe apura
o valor?
Com o Cristo,
não vemos a idéia de repouso improdutivo como preparação do Céu.
Não foge o
Mestre ao contacto com a luta comum.
A Boa Nova em
seu coração, em seu verbo e em seus braços é essencialmente dinâmica.
Não se contenta
em ser procurado para mitigar o sofrimento e socorrer a aflição.
Vai, Ele mesmo,
ao encontro das necessidades alheias, sem alardear presunção.
Instrui a alma
do povo, em pleno campo, dando a entender que todo lugar é sagrado para a
Divina Manifestação.
Não adota
posição especial, a fim de receber os doentes e impressiona-los.
Na praça
pública, limpa os leprosos e restaura a visão dos cegos.
À beira do lago,
entre pescadores, reergue paralíticos.
Em meio da
multidão, doutrina entidades da sombra, reequilibrando obsidiados e possessos.
Mateus, no
capítulo nove, versículo trinta e cinco, informa que Jesus “percorria todas as
cidades e aldeias, ensinando nos templos que encontrava, pregando o Evangelho
do Reino e curando todas as enfermidades que assediavam o povo”.
Em ocasião alguma
o encontramos fora de ação.
Quando se dirige
ao monte ou ao deserto, a fim de orar, não é a fuga que pretende e sim a
renovação das energias para poder consagrar-se, mais intensamente, à atividade.
Certamente, para
exaltar os méritos do Reino de Deus, não se revela pregoeiro barato da rua, mas
afirma-se, invariavelmente, pronto a servir.
Atencioso,
presta assistência à sogra de Pedro e visita, afetuosamente, a casa de Levi, o
publicano, que lhe oferece um banquete
Não impõe
condições para o desempenho da missão de bondade que o retém ao lado das
criaturas.
Não usa
roupagens especiais para entender-se com Maria de Magdala, nem se enclausura em
preconceitos de religião ou de raça para deixar de atender aos doentes
infelizes.
Seja onde for,
sem subestimar os valores do Céu, ajuda, esclarece, ampara e salva.
Com o Evangelho,
institui-se entre os homens o culto da verdadeira fraternidade.
O Poder Divino
não permanece encerrado na simbologia dos templos de pedra.
Liberta-se.
Volta-se para a
esfera pública.
Marcha ao
encontro da necessidade e da ignorância, da dor e da miséria.
Abraça os
desventurados e levanta os caídos.
Não mais a
tirania de Baal, nem o favoritismo de Júpiter, mas Deus, o Pai, que, através de
Jesus Cristo, inicia na Terra o serviço da fé renovadora e dinâmica que, sendo
êxtase e confiança, é também compreensão e caridade para a ascensão do espírito
humano à Luz Universal.
Livro: Roteiro.
Emmanuel / Chico Xavier.
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