As enfermidades,
além de corrigirem os desacertos e os vícios de que os terrícolas, em geral,
ainda se ressentem, constituem, também, a única terapêutica eficaz para
sanar-lhes defeitos e imperfeições outras, mais graves de que resultam danos e
sofrimentos a outrem.
O intelectual,
por exemplo, que coloca sua inteligência a serviço da corrupção, da mentira e
de outras formas do mal, será presa da demência ou da idiotia para que, de
futuro, aprenda a fazer bom uso de tão nobre faculdade.
O orgulhoso e o
déspota, não há como abatê-los e domá-los, senão por meio de enfermidades
asquerosas que os segreguem do convívio social. Conhecendo-as, suas altanarias
cederão lugar à humildade, virtude esta indispensável ao aprendizado da ciência
do bem.
O egoísta, o
insensível, aqueles que nunca estão dispostos a auxiliar o próximo, para que
evoluam até o pólo oposto – o altruísmo, terão que ser provados pela desgraça
ou pela falta de saúde em uma série de existências, nas quais, privados de
recursos, verão quanto é penoso depender de que e outros os atendam e sirvam em
suas necessidades.
O Avarento e o
usurário, que amealhar mais uma moeda, impõem, aos que deles dependem,
sacrifícios e privações inomináveis, que chegam, às vezes, às raias do
depauperamento, como padecerão a movimentar os bens em proveito da coletividade
sem que se sofram, a seu turno os horrores de semelhante tratos?
O voluntarioso,
o pouco resignado, como hão de adquirir paciência, conformidade e submissão à
vontade divina sem que sejam trabalhados pelas doenças, principalmente aquelas
que lhes tolhem a capacidade de locomoção.
Não se creia que
estamos a forjar tal filosofia. É o evangelho que assim no-lo ensina. Além
daquela afirmação do Cristo, a que já nos referimos, vejamos o que Paulo,
apóstolo, nos diz a respeito.
Em sua II
epístola aos Coríntios, 12:9, declara ele textualmente: “A virtude se
aperfeiçoa pela enfermidade”, e em Hebreus, 12:5-11, assim se expressa:
“Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido
(provado no sofrimento), porque o Senhor castiga ao que ama e açoita a todo o
que recebe por filho. Perseverai firmes na correção. Deus se vos oferece como a
filhos; porque, qual é o filho a quem não corrige seu pai? Além disso, se, na
verdade, tivemos a nossos pais carnais, que nos corrigiam e os olhávamos com
respeito, como não obedeceremos muito mais ao Pai do Espíritos, e viveremos? E
aqueles, na verdade, em tempo de poucos dias nos corrigiam segundo a sua
vontade, mas este castiga-nos, atendendo ao que nos é proveitoso para receber a
sua santificação. Ora toda correção ao presente, na verdade, não parece ser de
gozo senão de tristeza, mas ao depois dará um fruto mui saboroso de justiça os
que por ela têm sido exercitados.”
Não maldigamos,
pois, as enfermidades; elas desempenham missão purificadora e redentora para as
nossas almas. Tratemos, antes, de suportá-las cristãmente, sem protestos e sem
revoltas contra Deus, porque, a não ser assim, longe estaremos de alcançar a
saúde completa a que todos aspiramos.
Finalizando este
estudo, cumpre ressalvar que nem smepre uma existência prenhe de amarguras e
padecimentos significa expiação de faltas anteriores. Às vezes, são provas
buscadas pelo Espírito, a fim de concluir sua depuração e ativar o seu
progresso. Pode ocorrer também que algum ser, de grande elevação, se haja
determinado vir a Terra em missão, e não em cumprimento de penas, suportando
com exemplar resignação os maiores reveses da vida, qual Job, para ensinar a
nós outros, míseros calcetas, de que maneira se deve sofrer para tirar do
sofrimento o abençoado fruto da evolução espiritual.
Livro: Página do
Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
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