“Não olvideis que o objetivo essencial,
exclusivo, do Espiritismo é o vosso adiantamento, e é para alcança-lo que é
permitido aos Espíritos vos iniciar quanto à vida futura, vos oferecendo
exemplos que podeis aproveitar. Quanto mais vos identificardes com o mundo que
vos espera, menos lamentareis aquele em que estais agora. Esse é, em suma, o
objetivo atual da revelação.” (Livro dos
Médiuns – Allan Kardec, 2ª parte – Cap. XXVI, item 292 – 22º).
O termo
arquétipo se origina do grego e quer dizer “o que é impresso desde de o início”.
Ainda na antiguidade, passou a significar também as “formas imateriais” ou o “mundo
das ideias”, na concepção de Platão.
Carl Gustavo
Jung denominava de “arquétipos” as imagens primordiais, definindo-os como
matizes sem conteúdo próprio que servem para estruturar ou dirigir o material psicológico
– elementos organizadores, modelos ou formas universais – profundamente gravado
no inconsciente coletivo de toda criatura humana. O “arquétipo” pode ser
exemplificado como uma espécie de canal seco escavado por um curso d’água, o
qual, à medida que o leito comece a ser novamente banhado, organiza e modela
inteiramente as características do rio. São condutores ou orientadores do
comportamento e das atividades mentais.
Os “arquétipos”
se firmam no inconsciente, só surgindo no consciente através de figuras, de
representações ou de sonhos, como conteúdos arquetípicos. Manifestam-se como
estruturas psíquicas universais, inatas (não aprendidas), com possibilidades de
reproduzir ideias semelhantes nas criaturas humanas; por isso, aparecem
coletivamente, de forma simbólica, na literatura, nas artes e nos mitos de
todos os povos.
A expressão
inconsciente coletivo, segundo o conceito junguiano, é uma herança psicológica,
um tipo de memória da raça ou da espécie, onde se encontram conteúdos de
estruturas psíquica, padrões universais ou arquétipos existentes na intimidade
de todos os serem humanos.
Essas ideias de
Jung muitos se afinam com certas conceituações da Doutrina Espírita. Por
exemplo: o Espírito, ao reencarnar , traz consigo valores, conhecimentos e
experiências acumuladas através da noite dos tempos. Nasce equipado com um
arcabouço psicológico – repertório de estruturas mentais em formas de vocações,
tendências, sentimentos e ideais -, que, em contato com o meio ambiente da
atual encarnação, se manifesta espontaneamente, sem que criatura se aperceba,
aparecendo até mesmo nas situações mais corriqueiras do seu mundo diário.
A noção espírita
das “vidas sucessivas” considera que toda cirança, no instante do nascimento,
traz em si conteúdos psicológicos em potencial. O ambiente e as pessoas com
quem e onde ela convive só podem aprimorá-la, não determinando integralmente
seu jeito de ser, agir e pensar. Na criança apenas desperta o que já existia
nela, ou seja, seus arquivos da alma, armazenados no corpo perispiritual. O
Espírito encarnado veste uma roupagem – sua personalidade atual – e vivencia
diversas personalidade, interpretadas no “teatro da vida”, palco das múltiplas
existências.
Não obstante
encontrarmos uma ampla variedade de “arquétipos”, classificados por Jung e sucessivamente
por seus discípulos, analisaremos, aqui, o “arquétipo do herói”, encontrado nos
clássicos, nos dramas, nas poesias e nos livros sagrados das mais antigas
culturas, em forma de lendas e de epopeias mitológicas. No entanto é importante
ressaltar que as características pessoais da personalidade humana apresentam
alterações naturais e compreensíveis nas configurações dos “arquétipos”, devido
ao grau evolutivo ou ao padrão psicológico em que estagia.
Quem tem um “herói”
dentro de si tem igualmente um outro lado, um “mártir”. As pessoas em cuja
existência predomina o “arquétipo do herói” vivem heroicamente estressadas. Caminham
com a fronte projetada de forma imponente e o corpo (guerreiro) inclinado pra
frente como se estivessem sempre prontas para lutar. Exigem perfeição de si
mesmas e daqueles que estão a sua volta. Não expressam sua verdadeira
realidade, ou seja, não querem ser ou não querem viver como são – seres humanos.
Inconscientemente, acreditam que são super-humanos. Rejeitam o processo natural
que nos impôs o Criador: Viver a normalidade da natureza humana.
Em
contrapartida, a recíproca é verdadeira. A criatura que vive de modo intenso
numa estrutura mental de “herói” irá gerar, consequentemente, uma estrutura
oposta – o culto à dor e ao martírio. Essas estruturas se interagem. Ora a
personalidade está numa crise de “heroica bravura”, ora na crise de “sofredora
impotente”.
Ao longo dos
tempos, muitos de nós desenvolvemos a crença de que nos privando das alegrias
da vida, cultuando o sofrimento, não cuidando de nós mesmos, sendo austeros e
mártires, desempenharíamos bem a nossa missão terrena e, como resultado, estaríamos
cumprindo nossa tarefa mediúnica.
Não à glória em
sofrer por sofrer! Não existe nenhuma recompensa em cultuar a dor; na verdade ,
não estamos aqui para mostrar como temos sido padecentes, mas sim para
aprendermos como cessar as amarguras que nos afligem, como crescermos
espiritualmente, como superarmos nossos pontos fracos e como recuperarmo-nos
dos equívocos, prosseguindo no cultivo do progresso interior, com tranquilidade
e satisfação de viver.
“Não olvideis
que o objetivo essencial, exclusivo, do Espiritismo é o vosso adiantamento, e é
para alcançá-lo que é permitido aos Espíritos vos iniciar quanto à vida futura
(...)”
É importante
observarmos que, segundo os Guias da Humanidade, a principal finalidade da manifestação
dos Espíritos é o nosso adiantamento: em virtude disso, “ser médium” tem como
ponto fundamental e indispensável a edificação do Reinos dos Céus dentro de nós
mesmos. Portanto, ser médium não é necessário ser herói nem mártir, mas
simplesmente cultivar o mundo interior – a melhoria pessoal. “(...) Esse é, sem
suma, o objetivo atual da revelação.”
Os seres humanos
são pluridimensionais, guardando no reino interior características comuns a
todos, representadas pelos subprodutos do conjunto dos “arquétipos” presente em
sua estrutura psíquica.
Sensitivos ou
não, todos temos matrizes ou imagens de heróis ou de mártires profundamente
arraigadas em nossa intimidade. A mentalidade heroica é um mito elitista, que
tem como principio a personificação de que certas pessoas nasceram privilegiadas
e para ser servidas.
Enquanto o “idela
martirizante” modela as pessoas para o sacrifício e para uma abnegação
exagerada para agradar a Deus, visando a uma troca para adquirir a salvação
eterna, o “papel de vítima” costuma ser usado, em muitas ocasiões, para
dissimular uma grandeza inexistente na alma. Oculta igualmente uma máscara de
resignação, para que o individuo não descubra ou não tome consciência do que
ele realmente é.
Jesus Cristo, o Médium
de Deus, entregou-se ao holocausto em prol da missão de amor pela humanidade,
que para Ele foi a plenitude da implantação de uma vida consciente e amorosa em
todas as criaturas da Terra. É compreensível que muitas almas sublimadas se
entreguem a atos heroicos ou ao martírio de si mesmas. Para a exemplificação e
glorificação dos ideais superiores da Divina Providencia. O Mestre, porém, não
se deixou crucificar para ser reconhecido como herói ou mártir, mas para semear
os princípios da “sabedoria que eleva” e do “amor incondicional” n coração de
todas as criaturas.
Os médiuns devem
exercitar a capacidade de distinguir entre o “sacrifício regenerador” e o “culto
ao sofrimento” causado pela fraqueza e pela credulidade, filhas das crenças
injustas e absurdas.
Na vida, cada
ser está estagiando num determinado grau evolutivo; por isso existem diversas
missões e inúmeros encargos nos caminhos existenciais.
Médiuns! Qual é
o seu conceito sobre mediunidade? Vocês a veem como método educacional ou como
exaltação à dor? Será que sua vivência atual (heroísmo ou martírio) é um
produto necessário a seu desenvolvimento e crescimento espiritual, ou simplesmente
fruto de uma auto-punição ou de um auto-engano?
Livro: A
imensidão dos Sentidos.
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.