sábado, 24 de novembro de 2012

Imposições


“... Não é o que entra na boca que enlameia o homem, mas o que sai da boca do homem. O que sai da boca parte do coração, e é o que torna o homem impuro...” “... mas comer sem ter lavado as mãos não é o que torna um homem impuro...” (Evangelho Segundo O Espiritismo – Allan Kardec, Capítulo 8, item 8.)

Os costumes de uma época refletem de tal maneira sobre os indivíduos que eles passam a vê-los primeiramente como “normas sociais”, depois como “valores morais”, culminando finalmente como “ordens divinas”.
A liberdade de pensar e agir é um dos direitos mais sagrados do homem e, portanto, asas poderosas para o seu adiantamento espiritual. Liberdade da qual ele nunca deverá abrir mão, em hipótese alguma. Pessoas amarradas por normas opressoras mal podem respirar o ar de suas próprias idéias e mal podem se locomover para o crescimento interior, porque aspirações são anuladas, gestos são vigiados, anseios são negados constantemente.
“Não é o que entra na boca que enlameia o homem, mas o que sai da boca do homem.” - adverte Jesus de Nazaré às criaturas de seu tempo, que se apegaram às práticas e regulamentos preestabelecidos pelos homens e dos quais eles mesmos, por ser pessoas ortodoxas e intolerantes, faziam “casos de consciência”.
 Os judeus, por confundirem freqüentemente leis divinas com leis civis, atribuíam ao costume de lavar as mãos antes das refeições, à circuncisão, às questões do sábado e a outras tantas situações sociais, motivos geradores de polêmicas religiosas, porque se prestavam mais às práticas exteriores do que aos verdadeiros anseios de renovação das almas.
As pessoas de bem, no início do século, declaravam que os senhores dignos e respeitáveis deveriam somente sair à rua de chapéu, paletó e gravata, bem como, as honradas senhoras, de forma alguma, andariam desacompanhadas da família, devendo vestir também toda uma “toilette” impecável com imprescindíveis luvas, chapéus, leques e lenços perfumados,como elementos de “bem se compor” das elites da época.
No tempo de Jesus não poderia ser diferente. Ele, vivendo entre criaturas radicais, fanáticas pelas crenças religiosas do passado, que cultuavam “normas” e “regras” dadas pelos antigos profetas, haveria de não ser compreendido por sua postura de relacionamento livre de preconceitos e por ensinar sempre novos aspectos de ver e sentir a vida.
O Mestre tinha “senso de alma”, ou seja, bom senso, porque usava sua sensibilidade e lógica para orientar a si mesmo e aos outros que lhe escutava mas lições de sabedoria, pois era contrário à superstição e à hipocrisia dos que “honravam com os lábios, mas não com o coração”.
O que é moral ou imoral é relativo, em se tratando de costumes e regras sociais, porque em cada tempo, em cada era e em cada povo mudam-se as leis sociais, mudam-se os valores, muda-se a moral social.
No entanto, a moral à qual se reportava o Cristo de Deus não era aquela estabelecida pelos padrões imperfeitos do conhecimento humano, nem a que faz comparações do que é adequado ou inadequado, nem a que faz estatística e rotula coisas e pessoas. Entende-se que nossa alma tem sua própria história de vida, que somos totalmente individualizados por termos sido expostos a diversos estímulos e experiências diferentes ao longo da nossa jornada, na multiplicidade das vidas, e, portanto, devemos ser vistos de conformidade coma nossa vida interior.
Ele sabia que grande parte do nosso sofrimento ou conflitos internos provinha do fato de nos considerarmos errados, por não estarmos dentro dos moldes convencionados pela sociedade em que vivemos.
Matar será sempre imoral perante as Leis Divinas, apesar de que, dentro dos padrões da “moral social”, matar na guerra é motivo de condecorações com medalhas e honrarias.
Dessa forma, analisemos, raciocinando com discernimento: a que moral nós estamos nos prendendo? A das leis passageiras da elite de uma época, ou a das leis eternas e verdadeiras de todos os tempos?
Pesquisemos atentamente os alicerces de nossa conduta moral. Eles podem ser os frutos de nossa dor, por permanecermos presos ao conflito de “lavarmos ou não as mãos”; ou podem ser as raízes de nossa felicidade, por seguirmos Jesus escutando a voz do nosso coração.
Livro: Renovando Atitudes
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.

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