"Os
bons Espíritos jamais ordenam: não se impõem, aconselham, e, se não são escutados,
se retiram. Os maus são imperiosos; dão ordens, querem ser obedecidos e
permanecem mesmo assim. Todo Espírito que se impõe trai sua origem. São
exclusivos e absolutos em suas opiniões, e pretendem ter, só eles, o privilégio
da verdade (...)" - (Livro dos Médiuns / Allan Kardec - 2ª Parte - cap. XXIV, item 267-1
02.)
"Controladores"
são indivíduos que possuem um estilo de comportamento que constrange, domina e
impõe. Por meio de uma simulação consciente, ou não, tentam forçar os eventos
da vida a acontecer quando e como querem. O maior desatino dos
"controladores" é que para dominar precisam, antes de tudo, viver
distanciados de seus próprios sentimentos, que, acreditam, poderiam deixá-los
vulneráveis diante dos outros. Não se arriscam a mostrar como se sentem
realmente. Em outras palavras, por medo de serem usados, maltratados ou
desmascarados, escondem seus sentimentos mais profundos para assegurarem- se de
que não existe possibilidade de qualquer pessoa ter poder sobre eles. Têm uma
enorme necessidade de ordenar e passam anos a fio dizendo a si mesmos que a
maneira certa de agir é ter as rédeas de tudo em suas mãos.
Os
"controladores" fazem o trabalho em segredo, usando técnicas de
comando indiretas, passivas. Agem de maneira tão sutil, dócil e educada, que
não são identificados como tais. Podem ter consciência ou não do hábito de
controlar, mas uma coisa é certa: esse comportamento faz-lhes muito mal, pelo
desgaste energético em que vivem — impacientes, incapazes de relaxar e ficar
sem fazer nada.
Procuram
exaltar sua importância pessoal, tomando nomes e sobrenomes imponentes para se
impor perante os mais desavisados e crédulos. Alguns se utilizam de argumentos
capciosos e aparentemente lógicos, que tornam suas idéias difíceis de ser
questionadas. Muitos controlam, expondo fraqueza e dependência; lamentam e
choram, afirmando ser indefesos e vítimas. Às vezes, a "máscara da
fragilidade" é um recurso utilizado pelos mais poderosos
"controladores" .
Usam
qualquer tática, desde que funcione; mas, independente dos planos ou meios, os
objetivos são os mesmos: obrigar outrem a fazer o que eles querem que seja
feito. São mais doentes, ou mais ignorantes de si mesmos, do que propriamente
maus. Quase sempre "exigem uma crença cega e não apelam à razão, porque
sabem que a razão os desmascararia" .
Os
"controladores" , além de guardarem uma convicção inabalável de que o
comando de tudo e de todos é essencial, ainda são motivados por recompensas ou
estímulos inconscientes que os ajudam a perpetuar o jogo da manipulação. Aqui
estão algumas das atitudes mentais que integram o sistema de sobrevivência
psicológica dos indivíduos imponentes:
—
satisfazem suas necessidades de poder ou domínio por sentirem enorme vazio
interior;
— confirmam
uma auto-imagem deficiente que idealizaram como maravilhosa;
— fazem com
que se sintam respeitados, para se protegerem de uma possível humilhação;
—
fortalecem seu desejo de impressionar terceiros, pois se consideram socialmente
inadequados;
— têm medo
de ser rejeitados, ridicularizados e magoados.
Encontramos
os "controladores" não somente no mundo espiritual, mas também usando
a vestimenta carnal de pais, filhos, cônjuges, namorados, parentes e amigos. São
tipos autoritários, considerados "egomaníacos com baixa auto-estima"
, que empregam o controle para suprir uma vida interior deficitária.
Inseguros,
receiam ser manipulados, obrigados a fazer o que não desejam ou ficar
sobrecarregados com enormes responsabilidades. Convictos de que a melhor defesa
é um bom ataque, tentam impor-se aos outros antes que estes os controlem. Reagem
ao medo e à insegurança, recorrendo ao domínio sobre o próximo e sobre as circunstâncias.
Isso lhes parece amenizar ou resolver seus conflitos íntimos.
"Os
bons Espíritos jamais ordenam: não se impõem, aconselham, e, se não são
escutados, se retiram."
Nossa mais
devastadora ilusão é pensar que podemos controlar a vida dos outros. Imposição
é o oposto da liberdade e extermina tanto a autonomia do que domina como a do
dominado.
Apenas
escolhendo o autocontrole é que atingiremos a verdadeira libertação. Não
conseguiremos evoluir emocional, intelectual e espiritualmente se estivermos
desgastando nossas energias para comandar a vida dos outros.
"...e
onde se acha o Espírito do Senhor aí está a liberdade." Os bons Espíritos
são livres porque dão liberdade a todos que os cercam. Reconheceram a
importância de se desvencilharem das afeições possessivas, pois respeitam
integralmente a condição natural de todos — seres livres, filhos de Deus.
A
Espiritualidade Superior nos ensina que somos convocados a compartilhar com os
outros a afetividade e a mútua proteção, mas isso se torna um desequilíbrio quando
exigimos apropriação do ser amado. Que deveríamos nos sentir recompensados, e
não intimidados, quando constatamos que os que amamos têm interesses
independentes, confiança em si mesmos e auto-suficiência.
Quando
delegamos o controle de nós mesmos a uma outra criatura, seja ela quem for, talvez
estejamos renunciando ao nosso mais importante direito inato: a liberdade. Ela
pressupõe senso de dignidade, escolha e auto-respeito. Sem senso de valorização
próprio, nos julgaremos uma nulidade e sentiremos um grande vazio na alma, isto
é, uma sensação de "não ser".
A
propósito, recordemos Victor Marie Hugo, o mais ilustre poeta e escritor
francês do século XIX, quando escreveu: "O pior uso que se pode fazer da
liberdade é abdicar dela".
Livro: A Imensidão dos
Sentidos.
Hammed / Francisco do Espirito
Santo Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário