“Qual seria o
médium que se poderia chamar de perfeito? Perfeito, ah! Bem sabeis que a
perfeição não está sobre a Terra, de outro modo não estaríeis nela; dizei,
pois, bom médium, e isso já é muito, porque são muitos raros.” (Livro dos
Médiuns – Allan Kardec, 2ª parte – cap. XX, item 226 – 9º).
O trigo morre para
nascer o pão; as flores, para crescer os frutos; a crisálida, para surgir a
borboleta. As sementes têm um poder de brotar e gerar vida nova. Nenhuma transformação
é imediata; a Natureza exige constância e paciência como preço do desenvolvimento.
Somos almas em crescimento, precisamos estar em harmonia como o processo da
vida.para liberarmos nossas potencialidades e fluirmos naturalmente.
A Natureza e o
indivíduo fazem parte de um todo unificado. O homem é apenas uma parcela dessa
grande sinfonia da evolução na Terra.
O crescimento do
ser ocorre por meio de um encadeamento de fatos espontâneos e inerentes à vida
humana, enquanto que o perfeccionismo é uma aspiração obstinada e torturante.
A atitude de
teimosia demonstra: “quero já, porque quero”. O obstinado usa seu
livre-arbítrio a serviço de sua “incompreensão exigente”, porque desconhece os
procedimentos ou etapas das leis divinas. “fluir com a vida” é a virtude do que
sabe conquistar, enquanto que “obrigar-se” é o constrangimento que se impõe o
impulsivo.
Aprender a tocar
violino requer de nossa parte exercícios constantes de notas musicais. Em seguida,
nos habilitamos para executar os acordes, e esses se tornam cada vez mais
melodiosos à medida que cresce nosso aprendizado. Enquanto que o perfeccionismo
busca efeitos imediatistas, o crescimento é um mecanismo perfeito e gradual.
Um pomar
floresce durante a primavera e oferece frutos no verão. No outono, as folhas
caem; durante o inverno, desagregam-se paulatinamente, para se transformarem em
fertilizantes para o solo. Os quais irão revitalizar a árvore na nova
primavera. Os ciclos naturais fazem parte de uma sucessão ordenada e harmônica regida
pela Divina Providência.
Muitas pessoas
acham sinal de fraqueza admitir que são falíveis. Na realidade, quando
admitimos nossa vulnerabilidade, afastamos a tensão do “egoísmo defensivo” de
tudo saber ou conhecer. Somos propensos a cometer “erros de cálculo”. Enganos são
inerentes à condição humana.
Esperar de nós e
dos outros a perfeição é profundamente destrutivo para nosso relacionamento
interpessoal. O perfeccionismo nos coloca num estado tão grande de ansiedade e
inquietação, que cometemos mais erros do que o normal, porque, em vez de
aceitarmos a possibilidade de desacerto, ficamos amedrontados com a expectativa
da perfeição.
Aquele que se
sente superior nutre um desdém arrogante sobre os outros, supõem ser o melhor,
em virtude de seus supostos padrões morais e intelectuais, mas ele se esquece
de que “(...) a perfeição não está sobre a Terra, de outro modo não estaríeis
nela (...)”.
O perfeccionista
não possui apenas rótulo de “meticuloso” ou “devotado ao zelo”, mas também o de
“disciplinador intransigente” ou reformador inflexível”. Quanto mais alguém se
aproxima da perfeição, menos rigoroso é para como os outros.
Uma das causas
que turvam as faculdades psíquicas é o comportamento perfeccionista. A fiscalização
excessiva do próprio comportamento caminha de mãos atadas com o pensamento
rígido e metódico, afastando o sensitivo das expressões fenomênicas da
expontaneidade e dos insights. O controle exagerado do sentimento o conduz a um
bloqueio das forças espirituais.
A “mascara da
perfeição” nos faz perder o contato natural e criativo como o mundo astral,
impedindo a identificação nítida como as correntes espirituais que se assimilam
nos transes mediúnicos. Quando recorre à representação de papéis prejudica seu
crescimento humano e/ou espiritual, por viver na irrealidade.
O perfeccionista
perde sua autenticidade. Não toma o curso de sua vida nas próprias mãos, pois
não percebeu em si a beleza única que Deus colocou dentro de cada pessoa.
Encontra-se num
enorme “esforço de ser o melhor” para confirmar sua opinião sobre si mesmo e
pela necessidade da admiração alheia. Portanto, vive competindo e comparando-se
com os outros, e esse comportamento exaltado o leva a obstruir a originalidade
peculiar de sua faculdade psíquica.
A mediunidade
possibilita a ligação entre as inúmeras dimensões vibracionais do Universo, mostrando
que a vida é ampla e infinita e, para que possamos ser bons instrumentos da
Vontade Divina, precisamos apenas viver a normalidade da condição humana.
Por não termos “senso
de humanidade”, é que não aceitamos o atual estágio evolutivo, ou seja, não
admitimos viver, no momento presente, a etapa existencial que o Criador nos
destinou.
O médium que
estabelece para si padrões de comportamento perfeccionista vê em sua tarefa mediúnica
mais um reforço para provar sua “perfeição” do que um método de crescimento a
ser cultivado na própria intimidade.
Livro: A
Imensidão dos Sentidos.
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.
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