sábado, 27 de abril de 2013

MÃOS LAVADAS

“Então chegaram a ele uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos quando comem o pão. E ele, respondendo, lhes disse: E vós também, por que transgredis o mandamento de Deus, pela vossa tradição? Porque Deus disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e o que amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, morra de morte. Vós outros, porém, dizeis: Qualquer que disser a seu pai ou a sua mãe: Toda a oferta que faço a Deus te aproveitará a ti, esta cumprindo a lei. Pois é certo que o tal não honrará a seu pai ou a sua mãe. Assim é que vós tendes feito vão os mandamentos de Deus, pela vossa tradição. Hipócritas, bem profetizou de vós outros Isaías, quando diz: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração esta longe de mim. Em vão, pois, me honram, ensinando doutrinas e mandamentos que vêm dos homens. E chamando a si as turbas, lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem. Então, chegando-se a ele os discípulos, lhe disseram: Sabes que os fariseus, depois que ouviram o que disseste, fiaram escandalizados?  Mas ele, respondendo, lhes disse: Toda a planta que meu Pai não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os; cegos são, e condutores de cegos. E se um cego guia a outro cego, ambos vêm a cair no barranco. E respondendo Pedro, lhe disse: Explica-nos essa parábola. E respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce ao ventre, e se lança depois num  lugar escuso? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo; porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O comer; porém, com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem.” (Mateus, XV: 1-20).
E quando Jesus estava falando, pediu-lhe um fariseu que fosse jantar com ele, e havendo entrado, sentou-se a mesa. E o fariseu começou a discorrer lá consigo mesmo sobre o motivo por que não se tinha lavado antes de comer: E o Senhor lhe disse: Agora vós outros, os fariseus, limpais o que esta por fora do copo e do prato, mas o vosso interior esta cheio de rapina e de maldade. Néscios, quem fez tudo o que está de fora não fez também o que está de dentro? - (Lucas, XI: 37-40).
Os Judeus haviam negligenciado os verdadeiros mandamentos de Deus, apegando-se a prática de regras estabelecidas pelos homens, e das quais os rígidos observadores faziam casos de consciência. O fundo, muito simples, acabara por desaparecer sob a complicação da forma. Como era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que se reformar moralmente, de lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a essas práticas e continuavam como eram, sem se modificarem, pois lhes ensinavam que Deus não exigia nada mais. Eis porque o profeta dizia: “É em vão que esse povo me honra com os lábios, ensinando máximas e mandamentos dos homens”.
Assim também aconteceu com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser deixada em segundo plano, o que faz que muitos cristãos, a semelhança dos antigos judeus, creiam que a sua salvação esta mais assegurada pelas práticas exteriores do que pelas da moral. É a esses acréscimos que os homens fizeram a lei de Deus, que Jesus se refere, quando diz: “Toda a planta que meu Pai não plantou, será arrancada pela raiz”.
A finalidade da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem não chega a Deus enquanto não se fizer perfeito. Toda religião, portanto, que não melhorar o homem, não atinge a sua finalidade. Aquela em que ele pensa poder apoiar-se para fazer o mal, é falsa ou foi falseada no seu inicio. Esse é o resultado a que chegam todas aquelas em que a forma supera o fundo. A crença na eficácia dos símbolos exteriores é nula, quando não impede os assassínios, os adultérios, as espoliações, as calúnias e a prática do mal ao próximo, seja qual for. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem.
Não é suficiente ter as aparências da pureza, é necessário antes de tudo ter a pureza de coração.
“Porque a sua boca fala o de que está cheio o coração.” (Lucas: 6-45)
“Ouvi e entendei não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem”. (Mateus, XV: 1-20)
É muito mais fácil observarem-se preceitos materiais do que preceitos morais. Isso porque os preceitos materiais se apoiam em finalidades exteriores, em ritos, em ostentação, em exibição, em extravasamento de orgulho, de egoísmo e de vaidade. Ao passo que a observância de preceitos morais apóia na regeneração íntima do indivíduo; sem a reforma íntima não é possível praticá-los.
Por isso, muitos são os que negligenciam as Leis de Deus, apegando-se a prática de regras estabelecidas pelos homens. É a esses que Jesus se dirige na lição.
Os preceitos materiais constituem doutrina, regras e convenções moldados segundo a conveniência da casta sacerdotal dominante. Sua finalidade é fazer com que o fundo dos Mandamentos de Deus desapareçam sob a complicação da forma, que melhor lhe convém.
As palavras de Jesus proferidas naquela época continuam atualíssimas. Por isso, segundo se lê em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capitulo VIII, item 1o - “Como era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que reformar-se moralmente”, de “lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a essas práticas e continuavam como eram, sem se modificarem, pois lhes ensinam que Deus não exigia nada mais”. Eis porque o profeta dizia: “E em vão que esse povo me honra com os lábios, ensinando máximas e mandamentos dos homens” (Isaias 29: 13).
A transgressão de um preceito higiênico físico em nada é comparado com a transgressão de uma lei moral.
Quando os homens se acomodam e aceitam lideranças sem analisar, todo o resultado é falseado e a fé acaba não se aliando a razão. Quase sempre, quando inquiridos sobre esta ou aquela razão de agir, não sabem responder, mas continuam fanáticos.
         Livro: FEESP – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO – 2º ANO

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