Reunião pública
de 23/2/59
Dizes-te pobre;
entretanto, milionários de todas as procedências dar-te-iam larga fortuna por
ínfima parte do tesouro de tua fé.
Dizes-te
desorientado; contudo, legiões de companheiros, cujo passo a cegueira física
entenebrece, comprar-te-iam por alta recompensa leve migalha da visão que te
favorece, para contemplarem pequena faixa da Natureza.
Dizes-te
impedido de praticar o bem; todavia, multidões de pessoas algemadas aos catres
da enfermidade oferecer-te-iam bolsas repletas por insignificante recurso da
locomoção com que te deslocas, de maneira a se exercitarem no auxilio aos
outros.
Dizes-te
desanimado, sem te recordares, porém, de que vastas fileiras de mutilados
estariam dispostos a adquirir, com a mais elevada quota de ouro, a riqueza de
teus pés e a bênção de teus braços.
Dizes-te em
provação, mas olvidas que, na triste enxovia dos manicômios, inúmeros
sofredores cederiam quanto possuem para que lhes desses um pouco de equilíbrio
e de lucidez.
Dizes-te
impossibilitado de ajudar com a luz da palavra; no entanto, mudos incontáveis
fariam sacrifícios ingentes para deter algum recurso do verbo claro que te
vibra na boca.
Dizes-te
desamparado; entretanto, milhões de criaturas dariam tudo o que lhes define a
posse na vida para usar um corpo harmônico qual o teu, a fim de socorrerem os
filhos da expiação e do sofrimento.
Por quem és, não
lavres certidão de incapacidade contra ti mesmo.Lembra-te de que um sorriso de
confiança, uma prece de ternura, uma frase de bom ânimo, um gesto de
solidariedade e um minuto de paz não têm preço na Terra.
Antes de
censurar o irmão que traz consigo a prova esfogueante das grandes propriedades,
sai de ti mesmo e auxilia o próximo que, muita vez, espera simplesmente uma
palavra de entendimento e de reconforto, para transferir-se da treva à luz.
E, então,
perceberás que a beneficência é o cofre que devolve patrimônios temporariamente
guardados a distância das necessidades alheias, e que a caridade, lídima e
pura, é amor sempre vivo, a fluir, incessante, do amor de Deus.
Livro: Religião
dos Espíritos.
Emmanuel / Chico
Xavier.
Estudando O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
Caridade e amor
do próximo
888. Que se deve
pensar da esmola?
Resposta: Condenando-se
a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma
sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do
fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que
não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade
de alguns.
888a) - Dar-se-á
reproveis a esmola?
Resposta: Não; o
que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é
dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao
encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão.
A verdadeira
caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira por
que é praticado. Duplo valor tem um serviço prestado com delicadeza. Se o for
com altivez, pode ser que a necessidade obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas
o seu coração pouco se comoverá.
Lembrai-vos
também de que, aos olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício.
Disse Jesus: “Ignore a vossa mão esquerda o que a direita der.” Por essa forma,
ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho. “Deve-se distinguir a
esmola, propriamente dita, da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o
que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez
sofre sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir
procurar, sem ostentação. “Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, lei divina,
mediante a qual governa Deus os mundos. O amor é a lei de atração para os seres
vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria inorgânica”.
Não esqueçais
nunca que o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento, sua
situação como encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um
superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que
cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos, praticando, não só a
caridade que vos faz dar friamente o óbolo que tirais do bolso ao que vo-lo
ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede
indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de votardes desprezo
à ignorância e ao vício, instruí os ignorantes e moralizai os viciados. Sede
brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior. Sede-o para com
os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à lei de Deus. - SÃO VICENTE DE
PAULO.
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