"O Reino dos Céus
se assemelha a um rei que, querendo festejar as bodas de seu filho, despachou
seus servos a chamar para as bodas os que tinham sido convidados, mas estes não
quiseram vir "(Jesus /Mt 22:2-3).
Desejando
festejar as bodas de seu filho, o rei ordenou que seus servos fossem chamar os
convidados para participarem do banquete real. Mesmo diante deste convite
fraterno, os convidados não quiseram ir, alegando várias razões de ordem
material. Outros, além de se recusarem a comparecer, agarraram os servos,
ultrajando-os e matando-os. O rei, enchendo-se de cólera, ordenou que seus
exércitos exterminassem os assassinos, queimando-lhes a cidade. A seguir,
dirigiu-se a outros servos, ordenando que eles fossem às encruzilhadas,
chamando para as bodas todos aqueles que encontrassem — bons e maus, ricos e
pobres, sãos e aleijados, e finalmente o salão real ficou repleto.
Entrou em
seguida o rei para ver os que estavam à mesa, e dando com um homem que não
vestia a túnica nupcial, disse-lhe: "Meu amigo, como entraste aqui, sem a
túnica nupcial?". O homem calou-se, e então disse o rei aos serventes:
"Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores, onde há choro
e ranger de dentes, porquanto muitos serão os chamados e poucos os escolhidos Jesus
/ Mt 22:1-14.
À primeira
vista, tem-se a impressão de ser esta parábola um tanto singela, pois narra um
estranho banquete para o qual o anfitrião precisou enviar seus servos a chamar
os convidados e estes, além de se recusarem a ir, atentaram contra a vida dos
emissários. No entanto, esta parábola é bastante incisiva, pois nela Jesus
compara o Reino dos Céus, onde tudo é ventura e alegria, a um grande festim.
Deus, em Sua
infinita misericórdia, deliberou verificar o grau de fé e aprimoramento dos
hebreus, pois sendo a única comunidade monoteísta da época, deveriam ter
atingido maturidade espiritual suficiente para assimilar a nova revelação que
Jesus viera trazer.
O primeiro
convite foi formulado quando da Primeira Revelação ocorrida através de Moisés,
ao receber no monte Sinai o Decálogo, cujo objetivo era concitar o povo a
refrear seus instintos e se precaver dos prazeres mundanos. O povo hebreu foi
assim convidado a uma reflexão de ordem espiritual, ressaltando-se a
transitoriedade dos valores terrenos.
Mas, isto
significava o abandono de inúmeras vantagens e prazeres de ordem material e,
portanto, o chamado não foi atendido. Os emissários do rei foram os profetas e
missionários encarregados de despertar as criaturas para a prática do bem,
tornando-as dóceis aos desígnios de Deus; contudo, suas admoestações não foram
ouvidas. Muitos foram massacrados, tal como ocorreu com os servos da parábola.
Foi por isso que Jesus, pouco mais tarde, lamentando a sorte de Jerusalém,
vaticinou: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que
te são enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintainhos debaixo de suas asas, e tu não quiseste!" (Jesus
/ Mt 23:37).
Em face da
relutância em aceitar o chamado para o festim, novamente o convite foi feito,
de forma mais abrangente, generalizando-se a todos os povos, inclusive aos
pagãos e aos idólatras; estes, acolhendo o convite, demonstraram disposição de
participar das bodas, tal é o caso de Paulo de Tarso, Barnabé, Lucas, Timóteo e
tantos outros, que foram os fiéis portadores da boa-nova.
E o banquete
espiritual de Jesus encheu-se de trabalhadores de todos os matizes; mas, no
meio deles estavam também os interesseiros e falsos profetas os quais, apesar
de se beneficiarem do banquete evangélico, insurgiram-se contra as leis de Deus
ao deturparem os ensinamentos de Jesus: erigiram suntuosas casas de oração,
criaram tribunais religiosos, formularam orações intermináveis, estabeleceram,
em nome de Deus, dogmas incoerentes, como os do pecado original, céu e inferno,
penas eternas, e tantos outros, que não condizem com a bondade divina.
A parábola do
festim das bodas preconiza uma grande verdade: não basta ser seguidor de uma
determinada crença religiosa, para fazer jus ao Reino dos Céus e participar do
seu banquete celestial; não basta ser convidado, não basta dizer-se cristão; é
necessário estar revestido da túnica nupcial, ou seja, ter pureza no coração e
cumprir os preceitos das leis de Deus. Não basta ser seguidor de determinada
crença, se não se exercita a caridade, o amor, o perdão, virtudes que capacitam
todas as criaturas a conquistarem o Reino dos Céus e partilharem da verdadeira
felicidade.
Livro: Curso
Básico de Espiritismo – 2º ano.
Fonte: O
Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec, Cap. XVIII, itens 6 a 9.
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