quinta-feira, 6 de junho de 2013

ABSTINÊNCIA E CELIBATO

O celibato voluntário representa um estado de perfeição  meritório aos olhos de Deus? Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a  Deus e enganam o mundo. Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade?  O  caso é muito diferente. Eu disse: por  egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto  maior o sacrifício, tanto maior o mérito. (O LIVRO DOS ESPÍRITOS  Questões 698 e 699)
Abstinência, em matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe experiências da criatura em duas faixas essenciais –  a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou  serviço, no  curso de determinada reencarnação, daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de inibições diversas.
Indubitavelmente, os que consigam abster­se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a mais, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do  aperfeiçoamento.
Agindo assim, por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por  esse modo, amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à sublimação, ambientando­se em climas diferentes de criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou  o  próprio fluxo; essa energia simplesmente se canaliza para outros objetivos – os de natureza espiritual.
E, em concomitância com os que elegem conscientemente esse tipo  de experiência, impondo­se duros regimes de vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos quais sanam erros do pretérito ou  se recolhem a pesadas disciplinas que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do espírito.
Num e noutro  caso, identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os ensinamentos evangélicos, como sendo “eunucos” por amor do  Reino de Deus. Esses eunucos, porém, muito ao contrário do que geralmente se afirma, não são criaturas psicologicamente assexuadas, respirando em climas de negação da vida. Conquanto  abstêmios da emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente, são almas vibrantes, inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto quanto lhes é possível, no terreno  das comunhões afetivas, para satisfazerem as obrigações de ordem espiritual a que se impõem.
Depreende­se daí a impossibilidade de se doarem a quaisquer tarefas de reparação ou  elevação sem tentações, sofrimentos, angústias e lágrima: e, às vezes, até mesmo escorregões e quedas, nos domínios do sentimento, de vez que os impulsos do  amor nelas se mantêm com imensa agudeza, predispondo­as à sede incessante de compreensão e de afeto.
Entendendo­se os valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste.
A semente é segregada no solo para desvencilhar­se dos empeços que a constringem, de modo a formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno  frio.
A força no carro não surge sem a queima de combustível, e o motor não lhe garante movimento sem aquecer­se em nível adequado.
Abstinência e celibato, seja por decisão súbita do homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no  curso da reencarnação, ou  seja por deliberação assumida, antes do  renascimento na esfera física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do sentimento.
Celibato e abstinência, em qualquer  forma de expressão, constituem tentames louváveis do ser experiências de caráter transitório, nos quais a fome de alimento afetivo se lhes transforma no imo do  coração em fogo purificador, acrisolando­lhes as tendências ou transfigurando essas mesmas tendências em clima de produção do  bem comum, através do qual, pela doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a iluminação de inúmeras outras.
Tais considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada criatura é terreno sagrado para ela própria, e que, por isso mesmo, abstenção, ligação  afetiva, constituição de família, vida celibatária, divórcio e outras ocorrências, no  campo do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de cada um, erigindo­ se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas de coração  para coração.
         Livro: Sexo e Vida.
         Emmanuel / Chico Xavier.

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