O celibato
voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de
Deus? Não, e os que assim vivem, por egoísmo, desagradam a
Deus e enganam o mundo. Da parte de certas pessoas, o
celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais
completo, ao serviço da Humanidade? O
caso é muito diferente. Eu disse: por
egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto
maior o sacrifício, tanto
maior o mérito. (O LIVRO DOS ESPÍRITOS Questões 698 e 699)
Abstinência, em
matéria de sexo e celibato, na vida de relação pressupõe experiências da
criatura em duas faixas essenciais – a daqueles Espíritos que escolhem
semelhantes posições voluntariamente para burilamento ou serviço,
no curso de determinada reencarnação, daqueles outros que se vêem
forçados a adotá-las, por força de inibições diversas.
Indubitavelmente,
os que consigam absterse da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos
os recursos instrumentais para se aterem ao conforto de uma
existência a mais, com o fim de se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que
traçam a si mesmos escaladas mais rápidas aos cimos do aperfeiçoamento.
Agindo assim,
por amor, doando o corpo a serviço dos semelhantes, e, por esse
modo, amparando os irmãos da Humanidade, através de variadas maneiras,
convertem a existência, sem ligações sexuais, em caminho de acesso à
sublimação, ambientandose em climas diferentes de criatividade, porquanto a
energia sexual neles não estancou o próprio fluxo; essa energia
simplesmente se canaliza para outros objetivos – os de natureza
espiritual.
E, em
concomitância com os que elegem conscientemente esse tipo de experiência,
impondose duros regimes de vivência pessoal, encontramos aqueles outros, os
que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência
sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão
pelos quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas
que lhes facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos
do espírito.
Num e
noutro caso, identificamos aqueles que se fazem chamar, segundo os
ensinamentos evangélicos, como sendo “eunucos” por amor do Reino de
Deus. Esses eunucos, porém, muito ao contrário do que geralmente se afirma, não
são criaturas psicologicamente assexuadas, respirando em climas de negação da
vida. Conquanto abstêmios da emotividade sexual, voluntária ou involuntariamente,
são almas vibrantes, inflamadas de sonhos e desejos, que se omitem, tanto
quanto lhes é possível, no terreno das comunhões afetivas, para satisfazerem
as obrigações de ordem espiritual a que se impõem.
Depreendese daí
a impossibilidade de se doarem a quaisquer tarefas de reparação ou
elevação sem tentações, sofrimentos, angústias e lágrima: e, às vezes, até
mesmo escorregões e quedas, nos domínios do sentimento, de vez que os
impulsos do amor nelas se mantêm com imensa agudeza, predispondoas à
sede incessante de compreensão e de afeto.
Entendendose os
valores da alma por alimento do espírito, impossível esquecer que a produção do
bem e do aprimoramento se realiza à base de atrito e desgaste.
A semente é
segregada no solo para desvencilharse dos empeços que a constringem, de modo a
formar o pão, e o pão, a rigor, não se completa em forno frio.
A força no carro
não surge sem a queima de combustível, e o motor não lhe garante movimento sem
aquecerse em nível adequado.
Abstinência e
celibato, seja por decisão súbita do homem ou da mulher, interessados
em educação dos próprios impulsos, no curso da reencarnação, ou
seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera física, em
obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem anestesia do
sentimento.
Celibato e
abstinência, em qualquer forma de expressão, constituem tentames
louváveis do ser experiências de caráter transitório, nos quais a fome de
alimento afetivo se lhes transforma no imo do coração em
fogo purificador, acrisolandolhes as tendências ou transfigurando
essas mesmas tendências em clima de produção do bem comum, através
do qual, pela doação de uma vida, se efetua o apoio espiritual ou a
iluminação de inúmeras outras.
Tais
considerações nos impelem a concluir que a vida sexual de cada criatura é terreno sagrado para ela
própria, e que, por isso mesmo, abstenção, ligação afetiva, constituição
de família, vida celibatária, divórcio e outras ocorrências, no campo
do amor, são problemas pertinentes à responsabilidade de cada um,
erigindo se, por essa razão, em assuntos, não de corpo para corpo, mas de
coração para coração.
Livro:
Sexo e Vida.
Emmanuel
/ Chico Xavier.
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