Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por
base o aniquilamento do corpo, e o
dos materialistas, que se baseia no
rebaixamento da alma.
Duas
violências quase tão insensatas uma quanto
a outra. Ao lado desses dois grandes
partidos, formiga a numerosa tribo dos
indiferentes que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar.
Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver?
Em
parte alguma; e o grande problema
ficaria sem solução, se
o Espiritismo não viesse em auxílio dos pesquisadores, demonstrando-lhes
as relações que existem entre o corpo e a alma e dizendolhes que, por serem necessários uma ao outro, importa cuidar de ambos. Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento daquela.
Desatender
às necessidades que a própria Natureza
indica, é
desatender a lei de Deus. Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto
o cavalo, mal dirigido, pelos acidentes
que causa. Sereis, porventura,
mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, nem menos orgulhosos
e mais caritativos para com o vosso próximo? Não,
a perfeição não está nisso, está toda
nas formas por que fizerdes passar
o vosso Espírito. Dobraio, submeteio,
humilhaio,
mortificaio: esse o meio de o tornardes dócil à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição.
O instinto
sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas da vida,
orientando os processos da evolução. Toda criatura consciente traz consigo,
devidamente estratificada, a herança incomensurável das experiências sexuais,
vividas nos reinos inferiores da Natureza.
De existência a
existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos de séculos, na
esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em si mesma todo
um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis superiores que
governam a vida.
A princípio,
exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem avança, de
ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na monogamia, reconhecendo
a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de amor; no entanto,
ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos estímulos
sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento, reclamando
educação e sublimação.
Depreendese
disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada taxa de
carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço de
palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez que
instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um,
que as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e
elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender,
portanto, que do erotismo, como fator de magnetismo sexual humano,
na romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou
desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tão somente as
inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico, e aqueles
irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da idiotia,
por força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles próprios, antes
do berço terreno.
Os Espíritos
sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado divino,
por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada
evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e
provas do gênero humano.
E os
companheiros temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos
atravessam períodos mais ou menos longos de silêncio emocionados,
destinados a reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos
– repetimos –, já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de
exteriorização da mente, através dos quais refazem atitudes e
recondicionam impulsos afetivos em preciosas tomadas e retomadas de
consciência.
À vista do
exposto, é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida
ou renascida sob o patrocínio do sexo, carreia consigo
determinada carga de impulsos eróticos, que a própria criatura aprende,
gradativamente, a orientar para o bem e a valorizar para a vida.
Diante do sexo,
não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro para as
trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do
Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos
estímulos espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos,
em regime de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento
entre os homens.
Cada homem e
cada mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em
processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na
alma, traz, evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais,
a se expressarem por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas
lavras da experiência, errando e acertando e tornando a errar para acertar com
mais segurança, que cada um de nós – os filhos de Deus em evolução na
Terra – conseguirá sublimar os sentimentos que nos são próprios, de modo
a erguernos em definitivo para a conquista da felicidade celeste e do
Amor Universal.
Livro: Vida e
Sexo.
Emmnuel / Chico
Xavier.
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