quarta-feira, 18 de março de 2015

A Primeira Escola – Martins Peralva.

Deixai vir a mim os pequeninos...
Quando Jesus atribuiu  a si mesmo a qualidade de Caminho, Verdade e Vida, não fez, logicamente, uma declaração de ordem pessoal, mas se referiu, decerto, à mensagem que trouxera ao Mundo, em nome e por delegação do Pai.
Reportou­-se o Mestre, sem dúvida, aos ensinos, ao  roteiro que traçava por norma de aperfeiçoamento, à moral que pregava e exemplificava.
O Evangelho é Caminho, porque, seguindo-­o, não nos perderemos nas sombrias veredas da incompreensão e do ódio, da injustiça e da perversidade, mas perlustraremos, com galhardia e êxito, as luminosas trilhas da evolução e do progresso — da ascensão e da felicidade que se não  extingue.
O Evangelho é Verdade, porque é eterno. Desafia os séculos e transpõe os milênios. Perde­-se no Infinito dos Tempos...
O Evangelho é Vida, porque a alma que se alimenta dele, e nele vive, ganhará a vida eterna. Aquele que crê em Jesus e pratica os Seus ensinos viverá — mesmo que esteja morto.
* * * 
Deixar ir a Jesus os pequeninos, levar as crianças ao Mestre não significa, pois, organizar, objetiva e materialmente, uma caravana de Espíritos de meninos — encarnados ou desencarnados —  para, em luminosa carruagem, romperem as barreiras espaciais, vencerem as distâncias cósmicas e prostrarem-­se, devotamente, ante o Excelso Governador Espiritual do Mundo, com a finalidade inconcebível, porque absurda, de Lhe tributarem pomposas homenagens.
Conduzir as crianças a Jesus significa incutir-­lhes nos corações os preceitos evangélicos, a fim de que os seus atos possam revelar, no futuro, nobreza e dignidade.
O Espiritismo, através das Escolas de Evangelho, vem cuidando de levar os pequeninos ao Mestre, fazendo­-os apreender as imortais lições da Boa Nova do Reino.
Urge, contudo, que o meritório esforço das nossas instituições, polarizando-­se na criança, não encontre obstáculos na despreparação evangélica dos pais, para evitar que a criança “ouça”, nos Centros, luminosos conceitos de espiritualidade e moral, mas “veja” e “sinta”, dentro de casa, no próprio lar, inadequadas atitudes de egoísmo e torpeza.
Não basta, pois, evangelizar a criança nas Instituições Espíritas.
É imprescindível que essa educação alcance, também, os genitores ou  responsáveis, evitando­-se, destarte, se estabeleça na incipiente alma infantil a desastrosa confusão de ver e ouvir”, em casa, atitudes e conceitos bem diversos dos que “vê” e “ouve” nas aulas de Evangelho e Espiritismo.
A primeira escola é o lar.
E o lar evangelizado dá à criança, grava-­lhe, na consciência, as firmes noções do  Cristianismo sentido e vivido.
Imprime-­lhe, no caráter, os elementos fundamentais da educação. É necessário que a criança sinta e se impregne, no santuário doméstico, desde os primeiros instantes da vida física, das sublimes vibrações que só um ambiente evangelizado pode assegurar, para que, simultaneamente com o seu  desenvolvimento moral e intelectual, possa ela “ver” o que é belo, “ouvir” o que é bom e “aprender” o que é nobre. Se o lar não é evangelizado, as lições colhidas fora dele podem ser, apenas, um conhecimento a mais, no campo religioso, para a inteligência infantil.
Um conhecimento a mais não passa de um acidente instrutivo. E o que devemos buscar é a realidade educativa, moral, que tenha sentido de perene renovação.
Cuidar da criança — esquecendo os pais da criança — parece-nos esforço incompleto. Não adianta ser a criança aconselhada, na Escola de Evangelho, por devotadas instrutoras ou instrutores, a se expressarem de maneira conveniente, se observa ela em casa palavrões e gírias maliciosas, impropriedades e xingamentos.
Se o lar é uma escola A PRIMEIRA ESCOLA e se os pais representam para os filhos, como primeiros educadores, o que há de melhor, sob o ponto de vista de cultura e respeito, experiência e autoridade, evidentemente a criança será inclinada —  entre os pais que proferem palavrões e grosserias e a professora de Evangelho que ensina boas maneiras e sobriedade no  vocabulário — a seguir os primeiros. Com os pais a criança dorme, levanta­-se, faz refeições e convive, diuturnamente.
O convívio da criança, na Aula de Evangelho, com os instrutores, verifica­-se uma vez por  semana, durante uma hora ou pouco mais.
E não nos esqueçamos de que, na opinião dos filhos, os pais São os maiores. Contribuir  para que os pequeninos possam “ir  a Jesus”, mediante o  aprendizado  evangélico, representa, a nosso ver, providência correlata, simultânea com o esforço de “levar a Jesus” os pais, preparando-­os, condignamente, para a missão da paternidade ou da maternidade.
Informa a sabedoria popular que o exemplo deve vir de cima...
Livro: ESTUDANDO O EVANGELHO
Martins Peralva.

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