“Aquele que ama
a seu pai ou a sua mãe, mais do que a mim, de mim não é digno; aquele que ama a
seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim não é digno”. Jesus / Mateus,
10:37.
“Aquele que
houver deixado, pelo meu nome, sua casa, ou seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu
pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o
cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna”. Jesus / Mateus, 19:29.
Essas palavras
do Evangelho, interpretadas ao pé da letra, têm dado margem a sérios equívocos
entre aspirantes à vida espiritual.
Muitas
criaturas, sentindo o desejo de devotar-se aos ideais superiores, e julgando-os
incompatíveis com a vida ordinária, resolvem abandonar os pais e os irmãos, ou
a esposa e os filhos, para se recolherem a um claustro ou entregarem-se ao
ascetismo, na suposição de que, com isso, estejam atendendo ao chamamento do
Cristo.
Em verdade,
porém, essa atitude não condiz com a doutrina cristã, que nos ordena honrar pai
e mãe, bem assim amar o próximo como a nós mesmos.
Abandonar
aqueles que compõem nosso círculo familiar, ou simplesmente deixar de
prestar-lhes a devida assistência, para cuidarmos egoisticamente do próprio
desenvolvimento espiritual, é tão censurável como não nos interessarmos por
isso.
Talvez seja até
pior, porquanto aqueles que zelam pelo bem-estar da família, que não lhe faltam
com o apoio material e moral, estão cultivando o sentimento essencial do dever,
e ninguém pode aspirar aos graus mais elevados da realização espiritual
enquanto não haja aprendido as lições mais simples da vivência comum.
Assim, quem
abandone os pais, irmãos, esposa ou filhos, quando ainda lhes seja
indispensável, para consagrar-se unicamente a propósitos espirituais, será
forçado a voltar à pauta dos seus deveres, porque ninguém pode avançar
espiritualmente, deixando para trás obrigações e compromissos assumidos com
aqueles que a providência Divina há colocado dentro do seu lar, na condição de
credores de sua melhor atenção e carinho.
Por outro lado,
não se devem confundir esses deveres com a preocupação doentia dos que
atravessam a existência acumulando dinheiro e propriedades, para que a família
herde um patrimônio, ainda que, para conseguir esse desiderato, precisem
empregar a astúcia, a desonestidade, a violência e outros recursos menos
dignos.
Essas obrigações
familiares menos ainda devem fazer-nos esquecidos dos deveres que temos para
com “os outros”; também eles são filhos de Deus, e, pois, nossos irmãos.
Não é razoável,
portanto, que, por consideração à família, nos escravizemos às exigências
sociais, a ponto de nunca nos sobrar uma hora para um contacto direto com os
sofredores, aos quais devemos solidariedade, como não é justo despendermos com
a parentela, no vicio ou no luxo, quantias que dariam pat5a atender a inúmeros
desafortunados, carecidos de pão, agasalho, remédio, etc.
Devemos
lembrar-nos de que nossos familiares são, como nós, espíritos em evolução e
que, antes de lhes garantirmos uma boa situação material, melhor fora que lhes
déssemos uma boa formação moral; que, ao invés de lhes satisfazermos a todos os
caprichos e vaidades, cumpre-nos despertar-lhes, com o nosso exemplo, o gosto
pela prática do Bem, fazendo-os sentir quanto é sublime renunciar a mesquinhas
satisfações pessoais em favor das necessidades do próximo.
Acreditamos,
mesmo, seja essa a melhor ajuda que possamos oferecer-lhes, embora nem sempre
sejamos compreendidos por eles.
Resumindo: não é
certo desampararmos nossos familiares, na vã tentativa de salvar-nos sozinhos,
nem tão-pouco nos submetermos aos seus interesses puramente mundanos. O ideal
seria conseguir e manter uma posição de equilíbrio, “dando a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus”.
Livro: Páginas
de Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário