Em quaisquer
setores de atividade humana, é natural cultivemos, nas reentrâncias do coração,
o anseio de melhoria e aperfeiçoamento.
O engenheiro
que, após intenso labor, obtém o seu diploma, aprimorar-se-á, no estudo e no
trabalho, a fim de dignificar a profissão escolhida, convertendo-se em
construtor do progresso e do bem-estar geral.
O médico, no
contacto com o sofrimento e a enfermidade, na cirurgia ou na clínica, ampliará
sempre os seus conhecimentos, com vistas à experiência no tempo. E, se honesto
e bom, conquistará o respeito do meio onde vive.
O artífice, seja
ele mecânico ou carpinteiro, sapateiro ou alfaiate, no humilde labor diuturno,
estudando e aprendendo, adquirirá os recursos da técnica especializada, que o
tornarão elemento valioso e indispensável no ambiente onde a Divina Bondade o
situou.
O advogado, no
trato incessante com as leis, identificando-se com a hermenêutica do Direito,
compulsando clássicos e modernos, abrirá ao próprio Espírito perspectivas
sublimes “para o ingresso à Magistratura respeitável, em cujo Templo, pela
aplicação dos corretivos legais, cooperará, eficientemente, com o Senhor da
Vida na implantação da Justiça e na sustentação da ordem jurídica.
Se esta ânsia
evolutiva se compreende nos labores da vida contingente, cujas necessidades, em
sua maioria, virtualmente desaparecem com a cessação da vida orgânica, que
dizermos das realizações do Espírito Eterno, das lutas e experiências que
continuarão além da Morte, para decidirem, afinal, no mundo espiritual, da
felicidade ou da desventura do ser humano?
O quadro
evolutivo contemporâneo assemelha-se a um cortejo que se dirige,
simultaneamente, a uma necrópole e a um berçário.
Vamos sepultar
uma civilização poluida e assistir, jubilosos, à alvorada de luz de um novo
Dia.
A Humanidade,
procurando destruir os grilhões que ainda a vinculam à Era da Matéria, na qual
predominam os sentimentos inferiorizados, apresenta dolorosos sintomas de
decomposição, à maneira de um corpo que se esvai, lentamente, a fim de, pelo
mistério do renascimento, dar vida a outro ser mais perfeito e formoso.
O médium, como
criatura que realiza, também, de modo penoso, a sua marcha redentora, aspirando
a melhorar-se e atingir a vanguarda ascensional, ressente-Se, naturalmente, no
exercício de sua faculdade, seja ela qual for, deste estado de coisas, revelador
da ausência do Evangelho no coração humano.
Os problemas
materiais, os instintos ainda falando, bem alto, na intimidade do próprio
coração, a inclinação ao personalismo e à vaidade, à prepotência e ao amor
próprio, enfim, a condição ainda deficitária de sua individualidade espiritual,
concorrem para que o Mais Alto encontre, nesta altura dos tempos, forte
obstáculo à livre, plena e espontânea manifestação.
Justo e mesmo
necessário será, portanto, que o médium guarde, igualmente, no coração, o desejo
de, pelo estudo e pelo trabalho, pelo amor e pela meditação, sobrepor-se ao
meio ambiente e escalar, com firmeza e decisão, os degraus da evolução
consciente e definitiva, convertendo-se, assim, com redução do tempo, em
espiritualizado instrumento das vozes do
Senhor.
Esclarecem os
instrutores espirituais que é “a mente a base de todos os fenômenos
mediúnicos”.
Assimilando, a
natureza dos nossos pensamentos, o tipo das nossas aspirações e o nosso sistema
de vida, a se expressarem através de atos e palavras, pensamentos e atitudes,
determinarão, sem dúvida, a qualidade dos Espíritos que, pela lei das
afinidades, serão compelidos a sintonizarem conosco nas tarefas cotidianas e,
especialmente, nas práticas mediúnicas.
Não podemos por
enquanto, é verdade, desejar uma comunidade realmente cristã, onde todos se
entendam, pensem no bem, pelo bem vivam e pelo bem realizem.
Seria,
extemporaneamente, a Era do Espírito, realização que pertencerá aos milênios
futuros, quando tivermos a presença do Cristo de Deus no próprio coração,
convertido em Templo Divino, em condições, por conseguinte, de repetirmos, leal
e sinceramente, com o grande bandeirante do Evangelho: “Já não sou eu quem
vive, mas Cristo que vive em mim.” - Todavia, se é
impossível, por agora, a cristianização coletiva da Humanidade do nosso
pequenino orbe, Jesus continua falando ao nosso coração, em silêncio, desde o
suave episódio da Manjedoura, quando acendeu, nas palhas do estábulo de Belém,
a luz da humana redenção.
Cada um de nós
terá de construir a própria edificação.
Esta transição
inevitável, da Era da Matéria para a Era do Espírito, pode começar a ser
efetivada, humildemente, silenciosamente, perseverantemente, no mundo interior
de cada criatura.
Comecemos, desde
já, o processo de auto-transformação.
Este processo
renovativo se verificará, indubitávelmente, na base da troca ou substituição de
sentimentos.
Modifiquemos os
hábitos, aprimoremos os sentimentos, melhoremos o vocabulário, purifiquemos os
olhos, exerçamos a fraternidade, amemos e sirvamos, estudemos e aprendamos
incessantemente.
Temos que deixar
os milenários hábitos que nos cristalizaram os corações, como abandonamos a
roupa velha ou o calçado imprestável, que não mais satisfazem os imperativos da
decência e da higiene.
A fim de melhor
entendermos a base de tais substituições, exemplifiquemos: ERA DA MATÉRIA =
{Ignorância = {questões materiais, questões espirituais. {Opressão =
{espiritual, material. {Instintos = {animalidade, ambição. ERA DO ESPÍRITO =
{Conhecimento = {sabedoria humana, sabedoria espiritual. {Fraternidade =
{material, espiritual. Renovação = {moralidade, altruísmo}.
Vamos sair de
uma para outra fase da evolução planetária, impondo-se, portanto, a renovação
dos sentimentos. Numa figura mais simples: a substituição do que é ruim, pelo
que é bom, do que é negativo, pelo que é positivo, do que degrada, pelo que
diviniza.
Antigamente, em
época mais recuada, homens e grupos se caracterizavam, total e expressamente,
pela ignorância de assuntos espirituais e materiais, pela opressão — material e
espiritual — uns sobre os outros, o mais forte sobre o mais fraco e,
finalmente, pela absoluta predominância dos instintos.
Oprimia-se
moral, econômica e espiritualmente. Sacrificava-se, inclusive, o irmão, em nome
do Divino Poder.
O primado da
Matéria abrangia todas as formas de vida.
Na fase de
transição em que vivemos, tendemos, sem dúvida, para a espiritualização.
Substituiremos
as velhas fórmulas da ignorância, da opressão política ou religiosa, moral ou
econômica, pelas elevadas noções de fraternidade do Cristianismo.
Os instintos inferiorizados cederão
lugar, vencidos e humilhados, aos eternos valores do Espírito Imortal!
Como decorrência
natural de tais substituições, a mediunidade, igualmente, sublimar-se-à.
Elevar-se-ão as
práticas mediúnicas, porque Espíritos Sublimados sintonizarão com os
medianeiros, em definitivo e maravilhoso Pentecostes de Amor e Sabedoria,
exaltando a Paz e a Luz.
Quando o
conhecimento dos problemas humanos, em seu duplo aspecto — material e
espiritual, tornar-se uma realidade em nosso coração, a fenomenologia mediúnica
se enriquecerá de novas e incomparáveis expressões de nobreza.
Quando a
Fraternidade que ajuda e socorre, que perdoa e consola, substituir a Opressão,
que sufoca e constrange, os médiuns serão, na paisagem terrestre, legítimos
transformadores de luz espiritual.
O homem será
irmão de seu irmão, sua vida será sublime apostolado de ternura e cooperação e
o seu verbo a mais encantadora e harmoniosa sinfonia.
Quando nos
moralizarmos e nos tornarmos realmente altruístas, superando a animalidade
primitivista e a ambição desmedida, nos converteremos em pontes luminosas,
através das quais o Céu se ligará à Terra.
Se desejamos
sublimar as nossas faculdades mediúnicas, temos que nos educar, transformando o
coração em Altar de Fraternidade, onde se abriguem todos os necessitados do
caminho.
A Era da Matéria
exige-nos conquistas exteriores, ganhos fáceis, prazeres e futilidades,
considerações e honrarias. É o imediatismo, convocando-nos à preguiça e à
estagnação, ao abismo e ao sofrimento.
A Era do
Espírito pede-nos a conquista de nós mesmos, luta incessante, trabalho e
responsabilidades. É o futuro, acenando-nos com as suas mãos de luz para a
realização de nossos alevantados destinos.
O médium que,
intrinsecamente, vive os fatores negativos da Era da Matéria, é operário negligente, cuja ferramenta
se enferrujará, será destruída pelas traças ou roubada pelos ladrões, consoante
a advertência do Evangelho.
Será, apenas,
simples produtor de fenômeno.
O médium,
entretanto, que vigia a própria vida, disciplina as emoções, cultiva as
virtudes cristãs e oferece ao Senhor, multiplicados, os talentos que por
empréstimo lhe foram confiados, estará, no silêncio de suas dores e de seus
sacrifícios, preparando o seu caminho de elevação para o Céu.
Estará, sem
dúvida, exercendo a “mediunidade com Jesus”...
Livro: Estudando
a Mediunidade.
Martins Peralva.
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