A ambição é um
impulso natural que, até certo ponto, nada tem de censurável, constituindo-s,
mesmo, num elemento indispensável ao progresso individual e social.
De fato, é pelo
desejo de prosperar e sobressair que os homens são estimulados ao estudo e ao
trabalho, atividades essas que lhes desenvolvem cada vez mais as faculdades
intelectuais e volitivas, resultando daí reais benefícios para a coletividade.
Fossemos todos apáticos,
indiferentes, e nossa civilização estaria ainda na estaca zero.
A ambição deixa,
todavia, de ser um bem, e assume a feição de vício detestável, quando excede
determinados limites, caindo no exagero. Em outras palavras, quando, ao invés
de ser governada por nós, passa a nos governar.
Desde o instante
em que isso acontece, nossas ações tornam-se perigosas e prejudiciais, não só
para nós próprios como também para aqueles que cruzam pelo nosso caminho, pois
todos os recursos nos parecerão bons, contando que sirvam para conduzir-nos aos
objetivos que colimamos.
Que de
sofrimentos e quantas lágrimas são derramadas por este mundo afora, por causa
da ambição desenfreada.
Uns colocando o
interesse acima do coração, uniram indissoluvelmente seus destinos a outrem,
certos de que a riqueza lhes proporcionaria todas as venturas imagináveis;
convencendo-se, posteriormente, de que ninguém pode viver feliz sem amor,
colheram terrível desilusão que lhes amargurou o resto da existência.
Outros, ávidos de
uma situação melhor, deixaram o meio em que, embora com parcimônia, tinham
garantidos, o sustento e a estabilidade da família; não se achavam, entretanto,
suficientemente preparados para mudarem de serviço e, de fracasso em fracasso,
reduziram-se à indigência.
Alguns, sonhando
com as vantagens deste ou daquele cargo eletivo, se empenharam em campanhas
eleitorais altamente dispendiosas, investindo nelas tudo quanto conseguiram
economizar em longos anos de trabalho e nada conseguindo, arruinaram-se.
Aqueles outros,
cujos negócios corriam satisfatoriamente, na ânsia de se locupletarem a curto
prazo, assumiram compromissos ousados demais, superiores às condições de
solvabilidade com que poderiam contar seguramente, e, seja porque fatores imprevisíveis
houvessem interferido para lhes frustrar as previsões, seja à bancarrota,
arrastando em sua queda amigos e parentes que neles confiaram.
Uma das manobras
de que a ambição mais tem valido para testar ganho fácil, sem esforço é a
jogatina.
Joga-se nos
cassinos, nos clubes, nos hipódromos, nos botequins, nas ruas e até em residências
familiares.
Apostas, lances
e sorteios são feitos sob as mais variadas formas: em brigas de galos, lutas de
Box, páreos turfísicos, corridas de automóveis, competições esportivas,
carteados, dados, tômbolas, loterias, roletas e não sabemos mais o que, além de
jogos disfarçados, como os carnês de certas empresas comerciais, as rifas, etc.
A melhor coisa
que nos pode acontecer quando, por brincadeira ou simples curiosidade,
participamos de uma mesa de jogo, é perder na primeira vez, porque assim nos
desiludimos logo e não voltaremos a arriscar dinheiro em tão nefasto
passatempo.
Se, porém,
tivermos “sorte”, dificilmente resistiremos à tentação de renovar as partidas e
paradas, na esperança de aumentar o lucro, e uma vez adquirido o vício, todos
sabem a que extremos poderemos chegar.
Ganhando hoje,
perdendo muito mais amanhã, o infeliz jogador
tudo sacrifica na tentativa de recuperar o prejuízo; a última jóia, o salário destinado
à mantença do lar, o numerário da firma para a qual trabalha, eventualmente sob
sua guarda... Depois, empenha a palavra, contrai empréstimos que é incapaz de
resgatar e, vendo-se perdido, não vê outra saída senão apelar covardemente para
o suicídio, enchendo a família de dor e de vergonha, sem falar no martírio a
que esse gesto de loucura o lança no mundo espiritual.
Estejamos alerta,
portanto, contra os perigos da ambição.
Dominemo-la,
para que ela não nos domine!
Livro: Páginas
do Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
Hoje é o aniversário de nascimento de Rodolfo Calligaris.
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