Quando a morte
arrebata do convívio um ser amado, algumas pessoas perdem a vontade de viver.
De uma forma até
egoísta, esquecem os que convivem no mesmo lar e se enclausuram na própria dor.
Não se dão conta
que, agindo assim, maltratam os corações que os amam e que, exatamente como
eles, sofrem a ausência daquele que partiu para a Pátria verdadeira.
Assim aconteceu
com Hamilton, um trabalhador dos Correios. Ele era muito feliz. Pai dedicado,
costumava chegar em casa e ler hist6rias para seus filhos.
À noite, antes
de adormecerem, beijava-os e com eles orava, rogando a proteção dos seres
imortais.
Um dia, a morte
veio e ceifou a vida do seu menino de sete anos. A partir desse dia, ele
começou a realizar com desleixo o seu trabalho, não mais sorriu, não contou
mais histórias. Tornou-se triste e cabisbaixo. O ambiente no lar foi ficando
sempre mais difícil.
Certo dia,
separando a correspondência para entrega, descobriu uma carta sem envelope. O
destinatário era Jesus. O endereço: Céu.
Curioso, abriu e
leu:
Querido Jesus
Resolvi Lhe
escrever para pedir uma coisa muito especial. Aqui em casa todos estamos muito
tristes: papai, mamãe e eu.
O meu irmãozinho
Felipe morreu há alguns meses. Quando ele estava conosco, adorava brincar com
seu trem, sua bola e seu caminhãozinho.
Pois é Jesus, eu
queria que o Senhor levasse todos esses brinquedos para ele no Céu. Tenho
certeza de que ele vai querer continuar a brincar com eles.
Acredito que ele
sinta falta, principalmente do trem, com que mais brincava.
Outro pedido é
que o Senhor traga meu pai de volta. Não que ele tenha ido embora, mas é como
se tivesse ido.
É que desde a
morte de Felipe, ele não sorri, não conta histórias, nem ora mais comigo.
Eu gostaria
muito que meu pai me tomasse nos braços e contasse histórias, como fazia antes.
Eu queria ver
meu pai sorrir de novo. É tão bonito o sorriso do meu pai!
Eu queria que,
de novo, ele viesse me dizer boa noite, orasse comigo e esperasse eu adormecer.
Era tão bom,
Jesus.
Eu ouvi meu pai
dizer para minha mãe que só a Eternidade poderia curá-lo.
Será que o
Senhor poderia trazer um pouquinho disso para ele melhorar? Se for possível, eu
ficarei muito feliz.
Assinado: Rita.
O trabalhador dos Correios sentiu os olhos marejarem de lágrimas. Deu-se
conta de como, em sua dor, fora egoísta. Esquecera esposa e filha, que também
sofriam.
Naquele dia,
voltou para casa diferente. Ao chegar, chamou a filha, tomou-a nos braços,
estreitou-a ao peito demoradamente, beijou-a e lhe perguntou:
Quer ouvir uma
história?
* * *
Quando a dor da
separação pela morte nos ferir o coração, não nos recolhamos em concha,
desistindo da vida.
A dor deve nos
motivar à continuidade da luta diária, principalmente porque guardamos a lição
da Imortalidade. Os que partiram estão mais próximos de nós do que possamos imaginar.
E não nos esqueçamos dos que partilham conosco da mesma dor e de idêntica
saudade.
Em nome do amor,
não nos tornemos egoístas. Não nos isolemos, nem firamos ainda mais os que, ao
nosso lado, aguardam pela migalha do nosso carinho, o sorriso da nossa ternura,
nutrindo-se do nosso afeto.
Redação do
Momento Espírita, com base no livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed.
O Clarim. Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. Fep.
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