“... O egoísmo é, pois, o objetivo para o qual
todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua
coragem; digo coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do
que para vencer os outros...” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec,
Capítulo 11, item 11.)
Para que atinja
a espiritualidade, já afirmavam as antigas religiões do Oriente, seria preciso
que o homem se apartasse do “maya”, que são as ilusões da existência, do
nascimento e da morte.
Para que pudesse
conquistar o “nirvana”, diziam que seria imperativo extinguir todo o desejo de
ser, aniquilando assim o “ego” que é a individualidade exaltada e distraída
pelas fantasias do mundo.
Ao mesmo tempo,
encontramos Jesus Cristo instruindo-nos que, para alcançarmos o “Reino de Deus”,
é preciso nos despojarmos do “egoísmo”, o terrível adversário do progresso
espiritual.
As
Bem-Aventuranças do Mestre nada mais são do que vias para se alcançar a iluminação,
ou seja, elevar-se através da mansuetude, humildade e simplicidade, abandonando
todo sentimento de personalismo.
A moderna
psicologia tem toda a atenção voltada para que as pessoas entrem em contato com
a realidade e terminem com suas ilusões, que são as causas da distorção de sua
visão e percepção de si mesmas em relação às outras.
O “maya” das
religiões orientais era tudo que impedia as almas de atingir o estado de “bem-aventurados”,
também conceituado como “nirvana” ou “reino dos céus”, conforme as diferentes
denominações e crenças religiosas.
É realmente a
ilusão de satisfazermos os próprios interesses em detrimento dos interesses dos
outros que caracteriza o estado de egoísmo - um conjunto enorme de ilusões, que
nos tira do senso de realidade e de uma compreensão mais acurada de tudo e de
todos.
“Não devo ser
contrariado”, “Preciso controlar os outros”, “Sou dono da Verdade”, “Nunca
poderia ter acontecido comigo” são atitudes ilusórias herdadas por nós de
crenças despóticas e prepotentes, filhas da egolatria, ou seja, do “culto ao eu”.
As ilusões de “tudo
para mim” ou de “tudo girar em torno de mim” vêm do interesse individualista,
resquício da animalidade por onde transitamos, em priscas eras, em contato com
os reinos menores da natureza.
A caça no mundo
animal nada mais é do que o uso dos instintos de preservação e conservação. Felinos de
grande ou pequeno porte como, por exemplo, o leão e o gato, matam seres
indefesos e cordiais, como o antílope e o beija-flor, para alimentar unicamente
a si próprios e suas crias. Não devem, porém, ser considerados como egoístas e
cruéis, pois somente colocam em prática os mecanismos atávicos de sua criação,
frutos da própria Natureza.
“O egoísmo e o
orgulho têm a sua fonte num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos
os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porque Deus nada pode fazer
de inútil”. (Livro: Obras Póstumas – Allan Kardec, Capítulo O egoísmo e o orgulho).
Em quase todas
as crianças é perceptível a necessidade exclusivista de atenção dos pais em
torno delas, como centro de tudo, com a simples presença no lar de um segundo
filho do casal. É natural e compreensível o aparecimento do impulso egóico.
O medo de perder
suas satisfações, cuidados e compensações psicoemocionais faz com que a criança
nessas condições use o “instinto de preservação”, a fim de “conservar” o
carinho, o afago e o amor, antes somente voltados para ela, e agora divididos
com o novo irmão.
O denominado
ciúme ou egocentrismo infantil não poderá ser considerado, desde que não tome
proporções alarmantes. E uma reação natural diante de situações verdadeiras ou
imaginadas, de perda de afeto, podendo existir sutilmente disfarçada ou
claramente demonstrada.
Nas criaturas
que desenvolvem seus primeiros passos no aperfeiçoamento ético-moral, a tendência
egoística é um estado instintivo, próprio do seu grau evolutivo, e não um
defeito de caráter incompreensível, nem uma imperfeição inexplicável da índole
humana.
“Esse
sentimento, encenado em seus justos limites, é bom em si; é o exagero que o
torna mau e pernicioso...” (Livro: Obras Póstumas – Allan Kardec, Capítulo O
egoísmo e o orgulho), Como o feto necessita, por determinado tempo, do cordão
umbilical ou mesmo da placenta para sua manutenção, assim também a humanidade
transformará gradativamente esse impulso inato e ancestral, adquirido através
dos séculos e séculos, na luta pela sobrevivência nos estágios primitivos da vida.
Essa mesma
humanidade absorverá no futuro atitudes mais equilibradas e coerentes com seu
patamar evolutivo, aprendendo a usar cada vez melhor seus sentimentos, antes
somente instintos.
Dessa forma,
entendemos que o egoísmo, esse agrupamento de ilusões de supremacia, existirá
por determinado período de tempo nas criaturas, até que elas consigam se
conscientizar de que a atitude de “lavar as mãos”, de Pôncio Pilatos, isto é,
consideração excessiva aos seus interesses pessoais, agindo arbitrariamente, trará
sempre desilusões e obstrução na percepção do mundo em que vivemos. Já o exemplo
do Cristo nos transfere a uma ampla realidade de que o amor é a única força
capaz de nos trazer lucidez e equilíbrio no relacionamento conosco e com os outros.
Eis o antídoto
contra o egoísmo: “Não fazer aos outros o que não gostaríamos que os outros nos
fizessem”.
Livro: Renovando
Atitudes.
Espírito: Hammed
Médium:
Francisco do Espírito Santo Neto.
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