No crepúsculo da
civilização em que rumamos para a alvorada de novos milênios, o homem que
amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da inteligência comum e acorda,
dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe incendeiam o coração.
Quem somos?
Donde viemos?
Onde a estação
de nossos destinos?
À margem da
senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos ídolos mentirosos que
adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam à alma enfermiça, o anseio
da vida superior lhe agita os recessos do seu, qual braseiro vivo do ideal, sob
a espessa camada de cinzas do desencanto.
Recorre à
sabedoria e examina o microcosmo em que sonha.
Reconhece a
estreiteza do círculo em que respira.
Observa as
dimensões diminutas do Lar Cósmico em que se desenvolve.
Descobre que o
Sol, sustentáculo de sua apagada residência planetária, tem um volume de
1.300.000 vezes maior que o dela.
Aprende que a
Lua, insignificante satélite do seu domicílio, dista mais de 380.000 quilômetros
do mundo que lhe serve de berço.
Os Planetas
vizinhos evolucionam muito longe, no espaço imenso.
Dentre eles,
destaca-se Marte, distante de nós cerca de 56.000.000 de quilômetros na época
de sua maior aproximação.
Alongando as
perquirições, além do nosso Sol, analisa outros centros de vida. Sírius
ofusca-lhe a grandeza.
Pólux, a
imponente estrela do Gêmea, eclipsa-o em majestade.
Capela é 5.800
vezes maior.
Antares
apresenta volume superior.
Canópus tem um
brilho oitenta vezes superior ao do Sol.
Deslumbrado,
apercebe-se de que não existe vácuo, de que a vida é patrimônio de gota dágua,
tanto quanto é a essência dos incomensuráveis sistemas siderais, e, assombrado ante
o esplendor do Universo, o homem que empreende a laboriosa tarefa do descobrimento
de si mesmo volta-se para o chão a que se imanta e pede ao amor que responda à
soberania cósmica, dentro da mesma nota de grandeza, todavia, o amor no ambiente
em que ele vive é ainda qual milagrosa em tenro desabrochar.
Confinado ao
reduzido agrupamento consangüínea a que se ajusta ou compondo a equipe de
interesses passageiros a que provisoriamente se enquadra, sofre a inquietação do
ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor. Não sabe dar sem receber, não consegue ajudar
sem reclamar e, criando o choque da exigência pra os outros, recolhe dos outros
os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades
de auxiliar e auxiliar-se.
Viu a Majestade
Divina nos Céus e identifica em si mesmo a pobreza infinita da Terra.
Tem o cérebro
inflamado de glória e o coração invadido de sombra.
Orgulha-se, ante
os espetáculos magnificentes do Alto e padece a miséria de baixo.
Deseja comunicar
aos outros quanto apreendeu e sentiu na contemplação da vida ilimitada, mas não
encontra ouvidos que o entendam.
Repara que o
Amor, na Terra, é ainda a alegria dos oásis fechados.
E, partindo os
elos que o prendem à estreita família do mundo, o homem que desperta, para a
grandeza da Criação, perambula na Terra, à maneira do viajante incompreendido e
desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a sentir-se grão infinitesimal de
poeira nos Domínios Celestiais.
Nesse homem,
porém, alarga-se a acústica da alma e, embora os sofrimentos que o afligem, é
sobre ele que as Inteligências Superiores estão edificando os fundamentos espirituais
de Nossa Humanidade.
Livro: Roteiro.
Emmanuel / Chico
Xavier.
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