Não adianta
"fecharmos as cortinas da janela da alma" a fim de levarmos uma vida de
sonhos - repleta de pensamentos e vazia de experiências -, atenuando ou
impedindo os estímulos externos. Isso é um "desapego defensivo", ou
resignação neurótica, e não uma virtude genuína.
Denominamos
"desapego defensivo" o mecanismo de fuga da realidade, utilizado, de forma
inconsciente ou não, por pessoas que possuem um constrangimento autoimposto
proveniente do medo de amar, ou mesmo de se perder na sede de amor por objetos,
pessoas ou idéias e de serem absorvidas por enorme necessidade de dependência e
submissão fora do próprio controle.
Esse
"desapego de proteção" tem como base profunda um processo mental
ativado tão logo o indivíduo perceba algo ou alguém que tenha grande
significado para ele, e que, se o perdesse, seria muito doloroso. Ele adota uma
atitude de contenção dos sentimentos e se isola com indiferença e desprezo diante
do seu mundo sensível.
Declara-se
desinteressado e frio, mantendo por postura íntima o seguinte pensamento: "Eu
não me importo", quer dizer, "Não abro as portas do meu
sentimento". (Aliás, a palavra 'importar" vem do latim importare -
"trazer para dentro" ou "trazer para si"). Assim, ele não
se sentirá frustrado ou ameaçado pelos conflitos, porquanto supõe ter atingido
um "real desapego", quando, na verdade, apenas utiliza uma
desistência da expressão, do anseio, da vontade, da satisfação e da realização
pessoal, ou seja, restringe e mutila a vida ativa.
Por outro lado,
o "desapego saudável" é uma vivência que leva ao crescimento íntimo e
a uma expansão da consciência, enquanto a experiência defensiva conduz a um bloqueio
das sensações, fazendo com que as pessoas vivam numa aparente fuga social, exibindo
atos e comportamentos fictícios, envolvidas que estão por uma atmosfera de falsa renúncia e altruísmo.
É considerada
pelos Espíritos Superiores como "duplo egoísmo" a atitude de certos "homens
que vivem na reclusão absoluta para fugir ao contato do mundo". (O Livro dos Espíritos - Allan Kardec, questão 770).
Não podemos nos esconder atrás de valores sagrados para camuflar conflitos de caráter afetivo, sexual, profissional, cultural, religioso — isso é escapismo. Enfim, uma deserção da participação social é, na verdade, um fenômeno retardatário do amadurecimento psicológico. Esse tipo de desapego, que parece ter como motivo um imenso desprendimento por bens materiais ou pessoas, comprova, acima de tudo, ser apenas um desejo de fuga ou um receio proveniente do egoísmo.
Não podemos nos esconder atrás de valores sagrados para camuflar conflitos de caráter afetivo, sexual, profissional, cultural, religioso — isso é escapismo. Enfim, uma deserção da participação social é, na verdade, um fenômeno retardatário do amadurecimento psicológico. Esse tipo de desapego, que parece ter como motivo um imenso desprendimento por bens materiais ou pessoas, comprova, acima de tudo, ser apenas um desejo de fuga ou um receio proveniente do egoísmo.
Uma atitude
auto-imposta por dúvidas e desconfiança, insegurança e temor, além de nos
auto-agredir, nos afasta do caminho natural e nos desvia do dinamismo evolutivo
da Vida Providencial. Não adianta "fecharmos as cortinas da janela da
alma" a fim de levarmos uma vida de sonhos - repleta de pensamentos e
vazia de experiências -, atenuando ou impedindo os estímulos
externos. Isso é um "desapego defensivo", ou resignação neurótica, e
não uma virtude genuína.
As criaturas do
mundo estão cheias de fictícios desapegos que, na realidade, reduzem a visão da
verdadeira espiritualidade, dificultando as muitas maneiras de despertar as potencialidades
da alma.
Diz-se que um
indivíduo "apegado" é indeciso e inerte, porque perdeu a conexão consigo
mesmo; não sabe mais o que quer para si, não mais navega os mares nem desbrava
os continentes de seu reino interior - desviou-se de sua rota existencial.
Disse Jesus:
"Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não
morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. Quem ama sua vida
a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna."
(Jesus / João, 12:24 e 25).
O entendimento
das palavras do Mestre pode nos libertar do sofrimento a que nos arremessou o
apego. O "amar a vida" ou "odiar a vida" a que o Cristo se
refere é, exatamente, o despertar ou a conscientização de que as coisas vêm e
vão na nossa existência, e que é preciso adotar a prática do desapego em
relação a elas. O apego é a memória da "dor" ou do "prazer"
passado, que carregamos para o futuro. Atrás de cada sofrimento existe um
apego. "Se o grão de trigo que cai
na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto".
Eis a excelência da mensagem: tudo em nossa vida terrena é transitório, vai passar;
vai mudar e ir além... Os "grãos de trigo" vão tomar uma nova feição
- se transformarão num imenso trigal e, mais adiante, se converterão na
prodigalidade do alimento generoso.
Apego é a não-aceitação
da impermanencia das coisas. Na Terra nada se perpetua, somente a alma é
imortal.
Estudando O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
770 - Que pensar dos
homens que vivem na reclusão absoluta para fugir ao contato do mundo?
Duplo
egoísmo."
770a) - Mas se esse
retiro tem por objetivo uma expiação, impondo-se uma privação penosa, não é ele
meritório?
Fazer mais de
bem do que se faz de mal, é a melhor expiação. Evitando um mal ele cai em
outro, visto que esquece a lei de amor e de caridade".
Livro: Os
Prazeres da Alma.
Espírito: Hammed
Médium:
Francisco do Espírito Santo Neto.
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