quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O adolescente na busca da identidade e do idealismo

O desabrochar da adolescência, à semelhança do que ocorre com o botão de rosa que se abre ante a carícia do Sol, desvelalhe a intimidade que se encontra adormecida, e desperta, suavemente, aspirando a vida, exteriorizando aroma e oferecendo pólen para a fertilização e ressurgimento  em novas e maravilhosas expressões.
A plenitude da vida, na fase da adolescência, estua e exteriorizase, deixando que todos os conteúdos arquivados no inconsciente do ser passem a revelarse, em forma de tendências, aptidões, anseios e tentativas de realização.
Nem sempre esse despertar é tranquilo, podendo, às vezes, ser uma irrupção vulcânica de energias retidas que estouram, produzindo danos.
Noutras ocasiões pode expressarse como sofrimento íntimo, caracterizado por fobias de aparência inexplicável, mas que procedem dos registros perispirituais, mergulhados no inconsciente, que repontam como conflitos, consciência de culpa, pudor exacerbado, misticismo, em mecanismos bem elaborados de fuga da realidade.
Reencarnandose, para reparar os erros e edificar o bem em si mesmo, o Espírito atinge a adolescência orgânica, vivenciando o transformar de energias e hormônios sutis quão poderosos, que o despertam para as manifestações do sexo, mas também para as aspirações idealistas, desenvolvendo a busca da própria identidade.
Carregando a soma das personalidades vividas em outras reencarnações, a sua identificação com o mundo atual demanda tempo e amadurecimento, mediante os quais pode aquilatar quem realmente é e o que legitimamente deseja.
Não tendo o discernimento ainda para eleger o que é melhor, quase sempre se entrega à busca do mais imediato, porque mais simples, procurando acomodarse às manifestações fisiológicas do comer, dormir, praticar sexo, vencer o tempo sem grande esforço. Tratase de um atavismo pernicioso, que deve ser melhor direcionado, a fim de que seja descoberta a finalidade da existência e como alcançar  esse patamar que o  aguarda.
Se o lar oferece segurança afetiva e compreensão, o adolescente tem facilidade para selecionar os valores e aceitar aqueles que lhe são mais favoráveis para o progresso. Todavia, se o grupo familiar é traumatizante, foge para comportamentos oportunistas, que parecem afugentar as mágoas e libertálo do cárcere doméstico.
A influência dos pais é decisiva na elaboração e desenvolvimento do idealismo, na afirmação da própria identidade, sem que haja pressão ou autoritarismo dos genitores, antes oferecimento de meios para o diálogo esclarecedor, sem a sujeição aos conselhos castradores e impositivos, sempre de maus resultados.
Há uma tendência no jovem para fugir aos programas elaborados, às experiências vividas por outrem, ao aproveitamento da sabedoria dos mais antigos. Cada ser é uma realidade especial, que necessita vivenciar suas próprias aspirações, muitas vezes equivocandose para melhor compreender o caminho por onde deve seguir. Em razão disso, experiência e uma conquista pessoal, que cada qual aprende pelo próprio esforço, não raro, através de erros que são corrigidos e insucessos que se fazem ultrapassados pelo êxito.
Quando alguém deseja impor seu ponto de vista, transfere realização não lograda, para que o outro a consiga, assim alegrando aquele que se lhe torna mentor.
A educação propõe e o educando aprende mediante o exercício, a reflexão, o amadurecimento.
Os modelos devem ser silenciosos, falando mais pelos exemplos, pela alegria de viver, pelos valores comprovados, ao invés das palavras sonoras, mas cujas práticas demonstram o contrário.
Quando alguém convive com adolescente encontrase sob a alça de mira da sua acurada observação.  Ele compara as atitudes com as palavras, o comportamento cotidiano com os conteúdos filosóficos, não acreditando senão naquilo que é demonstrado, jamais no que é proposto pelo verbo. Em razão disso, surgem os conflitos domésticos, nos quais os genitores se dizem incompreendidos e não seguidos, olvidandose que são os responsáveis, até certo ponto, pelo insucesso das suas proposições.
A identidade de cada um tem suas características pessoais, e essas não podem, nem devem ser clones, nos quais se perde a individualidade. A busca da identidade no adolescente é demorada, qual ocorre com o indivíduo em si mesmo, prolongandose pelo período da razão, amadurecimento e velhice. Por isso mesmo, nem sempre a avançada idade biológica é sinônimo de sabedoria, de equilíbrio.
Jovens há, maduros, enquanto idosos existem que permanecem aprisionados na criança caprichosa e renitente da infância não ultrapassada.
O idealismo brota do âmago do ser e deve ser cultivado pelos genitores, que estimularão as tendências positivas do filho, oferecendolhe os recursos emocionais e afetivos para que ele possa materializar a aspiração do mundo íntimo.
Quando se revelar a tendência para o idealismo perverso, o desequilíbrio firmado no egoísmo, no capricho, nos desregramentos morais, é necessário ensinarlhe a técnica de como canalizar as energias para o lado melhor da vida, propondo ideais práticos e mais imediatos, que sejam compensadores psicologicamente, de forma que a eleição se opere com naturalidade, por meio da substituição daqueles que são perturbadores por esses outros  que são satisfatórios.
Ao invés das lutas contínuas, que se fazem imposições descabidas, enriquecidas de queixas e lamentações pelo investimento dirigido ao filho, a quem se informa não saber aproveitar tudo quanto recebe, é justo que todas as propostas sejam apresentadas de forma edificante, sem acusações nem rejeições, mas com espírito de tolerância e compreensão, até que o discernimento do adolescente aceite como fenômeno natural a contribuição, tendo em mente que a escolha foi própria e que isso é bom para ele, não porque outros assim o queiram, porém porque mais o conforta e o agrada. A adolescência é ainda fase de amoldamento, de adaptação, ao mesmo tempo de transformações, que merece e exige paciência e habilidade psicológica.
De um lado, existe o interesse familiar, que trabalha para o  melhor do  educando, mas por outra parte se encontra o grupo social, nem sempre equilibrado, na Escola, no Clube, na rua, no trabalho, conspirando contra as atitudes saudáveis que se deseja oferecer e que naturalmente atraem o adolescente, porque ele gosta de ser igual  aos demais, não chamar a atenção, ou quando, em conflito, quer destacarse, exibirse,  exatamente porque vive inseguro, experimenta dramas, que mascara sob a desfaçatez, o  cinismo aparente...
Com o tranquilizar do fluxo sexual, mediante a reflexão e o trabalho, através do estudo e das aspirações superiores que se devem ministrar com cuidado, ele passa a identificarse com o mundo, com as pessoas e por fim com ele mesmo. Essa autoidentificação é mais demorada, porque mais profunda, prolongandose por toda a existência bem orientada pelo dever e pelas aspirações enobrecidas.
O idealismo tornaselhe um alimento que deve ser ingerido com frequência, a fim de que não haja carência emocional e perda de identidade no tumulto das propostas sociais, econômicas e artísticas...
Invariavelmente o Espírito reencarna para dar prosseguimento a tarefas que ficaram interrompidas, e ressurgem nos painéis mentais como aspirações e tendências mais acentuadas.  Outras vezes,  no entanto,  deve começar  a experimentar  atividades novas, mediante as quais progredirá no rumo da vida e de Deus.
Na fase da insegurança pela adolescência, toda a vigilância é necessária,  de modo a auxiliar o jovem a encontrarse e a definir o seu ideal de vida, entregandoselhe confiante e rico de perseverança até conseguir a meta ambicionada.
Livro: Adolescência e Vida.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário