domingo, 8 de setembro de 2013

DESAPEGO II - Hammed

A mente apegada a fatos, acontecimentos e pessoas é incapaz de perceber a sua essência. Aquele que está agarrado ao "ego" está vazio do "sagrado"; aquele que se liberta do "ego" descobre que sempre esteve repleto do "sagrado".
"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida?" (Jesus / Mateus, 16:24 a 26).
Quando alguém passa silenciosamente por um desfiladeiro, percebe o sussurrar de sons distintos que repercutem através dos ventos nas pedras e árvores - são manifestações dos "ecos da Natureza" daquele lugar. A criatura que interioriza e aquieta a mente, silenciando sua intimidade, faz com que seu reino interior assemelhe-se a um "sereno desfiladeiro", de onde surgem as mensagens inarticuladas da alma - são manifestações dos "ecos transcendentais" do Universo.
Nesse "estado interior", onde impera a quietude e a tranqüilidade, o indivíduo tem um encontro consigo mesmo, com sua mais pura essência - o Espírito. Na presença da inquietação e dos inúmeros anseios, a mente apegada bloqueia a fonte sapiencial e polui a via de acesso pela qual se ausculta a Fonte da Excelsa Sabedoria.
As pessoas do mundo estão distraídas entre os eventos do passado e os do presente, plenas de desejos pessoais que turvam e contagiam sua visão cósmica; isso as impede de expandir e expressar, de forma espontânea e natural, sua religiosidade nata.
Uma vez "perdido" o Espírito, as pessoas, embora vivas, estão como mortas. "De fato, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida?"
"Pois aquele que quiser salvar a sua vida (apegar-se ao ego), vai perdê-la (perder de vista o Si-mesmo), mas o que perder a sua vida (desapegar-se do ego) por causa de mim, vai encontrá-la (integrar-se ao Si-mesmo)".
Devemos quebrar todos os grilhões e expulsar as mil vozes que enxameiam nossa casa mental. Assim, ficaremos limpos e desnudos, livres e despojados, libertos de tudo. Então, haverá naturalmente, nesse "desfiladeiro interno", o reverberar de algo essencial, antes oculto mas agora presente, em que se percebem com clara nitidez seus recursos infinitos e sua capacidade de despertar potenciais inatos.
Recolhemos da antiga sabedoria oriental este trecho que bem ilustra a nossa idéia sobre desapego e serenidade interior: "Quando o vento chega e oscila o bambu, o bambu não guarda o som depois que o vento passou. Quando os gansos atravessam o lago, o lago não conserva seus reflexos depois que eles se foram. Da mesma maneira, a mente das pessoas iluminadas está presente quando ocorrem os acontecimentos e se esvazia quando os acontecimentos terminam".
"(...) a doutrina da reencarnação (...) aumenta os deveres da fraternidade, visto que, entre os vizinhos ou entre os servidores, pode se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços consanguíneos." (O Livro dos Espíritos - Allan Kardec, questão 205).
Quando temos algo querido ou pensamos ter a posse de alguém que muito amamos, sofremos ao nos separarmos dele.O ciúme é o resultado do apego (medo de perder). É preciso o perceber a diferença entre o "amor real" e a "relação simbiótica", ou mesmo o "apego familiar". A realização espiritual não está em nos apegarmos egoisticamente aos entes queridos, e sim nos interagirmos fraternalmente uns com os outros.
"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." "Negar-se a si mesmo" é ultrapassar a transitoriedade do mundo visível e penetrar na essência oculta das criações e criaturas. É desapegar-se verdadeiramente e viverna integridade da vida; não querer perpetuar o "ego".
"Tomar a sua cruz" é reconhecer que este momento vai se o desvanecer e não se perpetuará. É perceber os difíceis dilemas mentais pelos quais passamos, o que nos permitirá transitar íntegros na via de mão dupla por onde se move, de um lado, a busca imediatista do "ego" e, do outro, a inspiração da infinita Sabedoria Divina.
O desapego nos leva a desenvolver um amplo senso de liberdade e de confiança em nós mesmos. Nosso calabouço reside em nossos mais íntimos atos e atitudes. Prendemo-nos nos grilhões de nossa própria criação mental, e fazemos o mesmo com aqueles que amamos.
A mente apegada a fatos, acontecimentos e pessoas é incapaz de perceber a sua essência. Aquele que está agarrado ao ego' está vazio do "sagrado"; aquele que se liberta do "ego" descobre que sempre esteve repleto do "sagrado". A mente serena, tranqüila e desapegada é a "porta estreita".
O indivíduo desapegado participa com a família e com toda a comunidade de um relacionamento saudável e espontaneo. Não vive atado aos vínculos doentios da "ansiedade de separação", pois crê plenamente que a lei das vidas sucessivas não destrói os laços da afetividade, antes os estende a um número cada vez maior de pessoas e também por toda a humanidade.
Livro: Os Prazeres da Alma.
Espírito: Hammed.
Médium: Francisco do Espírito Santo Neto.
Estudando O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
205. A algumas pessoas a doutrina da reencarnação se afigura destruidora dos laços de família, com o fazê-los anteriores à existência atual?
Ela os distende; não os destrói. Fundando-se o parentesco em afeições anteriores, menos precários são os laços existentes entre os membros de uma mesma família. Essa doutrina amplia os deveres da fraternidade, porquanto, no vosso vizinho, ou no vosso servo, pode achar-se um Espírito a quem tenhais estado presos pelos laços da consangüinidade.
205a)  Ela, no entanto, diminui a importância que alguns dão à genealogia, visto que qualquer pode ter tido por pai um Espírito que haja pertencido a outra raça, ou que haja vivido em condição muito diversa?
É exato; mas essa importância assenta no orgulho. Os títulos, a categoria social, a riqueza, eis o que esses tais veneram nos seus antepassados. Um, que coraria de contar, como ascendente, honrado sapateiro, orgulhar-se-ia de descender de um gentil-homem devasso. Digam, porém, o que disserem, ou façam o que fizerem, não obstarão a que as coisas sejam como são, que não foi consultando-lhes a vaidade que Deus formulou as leis da Natureza.

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