“Se perdoardes aos homens as faltas que eles
fazem contra vós, vosso Pai celestial vos perdoará também vossos pecados, mas
se não perdoardes aos homens quando eles vos ofendem, vosso Pai, também, não
vos perdoará os pecados.” - (O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec, Capítulo
10, item 2.)
Nosso conceito
de perdão tanto pode facilitar quanto limitar nossa capacidade de perdoar. Por
possuirmos crenças negativas de que perdoar é “ser apático” com os erros
alheios, ou mesmo, é aceitar de forma passiva tudo o que os outros nos fazem, é
que supomos estar perdoando quando aceitamos agressões, abusos, manipulações e
desrespeito aos nossos direitos e limites pessoais, como se nada tivesse
acontecendo.
Perdoar não é
apoiar comportamentos que nos tragam dores físicas ou morais, não é fingir que
tudo corre muito bem quando sabemos que tudo em nossa volta está em ruínas. Perdoar
não é “ser conivente” com as condutas inadequadas de parentes e amigos, mas ter
compaixão, ou seja, entendimento maior através do amor incondicional. Portanto,
é um “modo de viver”.
O ser humano,
muitas vezes, confunde o “ato de perdoar” com a negação dos próprios
sentimentos, emoções e anseios, reprimindo mágoas e usando supostamente o “perdão”
como desculpa para fugir da realidade que, se assumida, poderia como
conseqüência alterar toda uma vida de relacionamento.
Uma das
ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real é manter-nos a uma certa “distância
psíquica” da pessoa-problema, ou das discussões, bem como dos diálogos mentais
que giram de modo constante no nosso psiquismo, porque estamos engajados
emocionalmente nesses envolvimentos neuróticos.
Ao
desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar de modo construtivo os poderes do
nosso pensamento, evitando os “deveria ter falado ou agido” e eliminando de
nossa produção imaginativa os acontecimentos infelizes e destrutivos que
ocorreram conosco.
Em muitas
ocasiões, elaboramos interpretações exageradas de suscetibilidade e caímos em
impulsos estranhos e desequilibrados, que causam em nossa energia mental uma
sobrecarga, fazendo com que o cansaço tome conta do cérebro. A exaustão íntima
é profunda.
A mente recheada
de idéias desconexas dificulta o perdão, e somente desligando-nos da agressão ou do
desrespeito ocorrido é que o pensamento sintoniza com as faixas da clareza e da
nitidez, no processo denominado “renovação da atmosfera mental”.
É fator
imprescindível, ao “separar-nos” emocionalmente de acontecimentos e de
criaturas em desequilíbrio, a terapia da prece, como forma de resgatar a
harmonização de nosso “halo mental”. Método sempre eficaz, restauranos os
sentimentos de paz e serenidade, propiciando-nos maior facilidade de harmonização
interior.
A qualidade do
pensamento determina a “ideação” construtiva ou negativa, isto é, somos
arquitetos de verdadeiros “quadros mentais” que circulam sistematicamente em
nossa própria órbita áurica. Por nossa capacidade de “gerar imagens” ser
fenomenal, é que essas mesmas criações nos fazem ficar presos em “mono-idéias”.
Desejaríamos tanto esquecer, mas somos forçados a lembrar, repetidas vezes,
pelo fenômeno “produção-conseqüência”.
Desligar-se ou
desconectar-se não é um processo que nos torna insensíveis e frios, como
criaturas totalmente impermeáveis às ofensas e críticas e que vivem sempre numa
atmosfera do tipo “ninguém mais vai me atingir ou machucar”. Desligar-se quer
dizer deixar de alimentar-se das emoções alheias, desvinculando-se mentalmente
dessas relações doentias de hipnoses magnéticas, de alucinações íntimas, de
represálias, de desforras de qualquer matiz ou de problemas que não podemos
solucionar no momento.
Ao soltar-nos
vibracionalmente desses contextos complexos, ao desatar-nos desses fluidos que
nos amarram a essas crises e conflitos existenciais, poderemos ter a grande
chance de enxergar novas formas de resolver dificuldades com uma visão mais
generalizada das coisas e de encontrar, cada vez mais, instrumentos adequados
para desenvolvermos a nobre tarefa de nos compreender e de compreender os
outros.
Quando
acreditamos que cada ser humano é capaz de resolver seus dramas e é responsável
pelos seus feitos na vida, aceitamos fazer esse “distanciamento” mais facilmente,
permitindo que ele seja e se comporte como queira, dando-nos também essa mesma
liberdade.
Viver impondo
certa “distância psicológica” às pessoas e às coisas problemáticas, seja entes
queridos difíceis, seja companheiros complicados, não significa que deixaremos
de nos importar com eles, ou de amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim que
viveremos sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender, padecer, suportar e admitir.
Além do que,
desligamento nos motiva ao perdão com maior facilidade, pelo grau de libertação
mental, que nos induz a viver sintonizados em nossa própria vida e na plena
afirmação positiva de que “tudo deverá tomar o curso certo, se minha mente estiver
em serenidade”.
Compreendendo
por fim que, ao promovermos “desconexão psicológica”, teremos sempre mais
habilidade e disponibilidade para perceber o processo que há por trás dos
comportamentos agressivos, o que nos permitirá não reagir da maneira como o
fazíamos, mas olhar “como é e como está sendo feito‖ nosso modo de nos relacionar
com os outros. Isso nos leva, conseqüentemente, a começar a entender a “dinâmica
do perdão”.
Uma das mais
eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato com nós mesmos,
desligando-nos de toda e qualquer “intrusão mental”, para logo em seguida
buscar uma real empatia com as pessoas. Deixamos de ser vítimas de forças fora
de nosso controle para transformar-nos em pessoas que criam sua própria realidade
de vida, baseadas não nas críticas e ofensas do mundo, mas na sua percepção da
verdade e na vontade própria.
Livro: Renovando
Atitudes.
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.
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