Conta-se que,
no pórtico da cidade de Listra, na Velha Grécia, havia duas tílias plantadas.
Os ramos das
imensas árvores se enroscavam uns aos outros, parecendo uma única copa dotada
de dois troncos.
Um dia, um
ilustre visitante passou por ali e quis saber sobre as árvores de galhos
entrelaçados.
Viu, perto
dali, uma mulher da região, que recolhia água de um velho poço, e lhe perguntou
sobre as árvores singulares.
A mulher,
sentindo-se homenageada pela curiosidade do estrangeiro, deteve-se e começou a
contar:
Dizem, senhor,
que nos idos tempos da Licaônia, depois que os deuses a construíram, resolveram
vir visitá-la para saber se as coisas aqui estavam correndo bem.
Dois desses
deuses: o pai dos deuses, Júpiter e o seu auxiliar direto, Mercúrio, se
transformaram em pessoas humanas comuns.
Vistoriaram
toda a região e, ao entardecer daquele dia, os dois deuses começaram a bater
nas portas das casas, mas nenhum dos habitantes de Listra lhes oferecia
pousada.
Então eles
foram se afastando. E, nos confins da Licaônia chegaram a um casebre em ruínas. Era uma casa
muito velha, muito tosca.
Bateram na
porta e uma mulher idosa, muito idosa, veio atender. Era Balsis, uma pastora da
região, esposa de um lavrador que ainda se encontrava no campo.
Ao ouvir os
dois homens lhe pedirem guarida, Balsis foi tocada em seu sentimento e
abriu-lhes as portas, fê-los entrar e serviu-lhes água fresca, enquanto
dialogavam.
Logo depois,
seu esposo Fílemon chegou dos campos e se somou à alegria da esposa em poder
hospedar aqueles homens que andaram pelas estradas durante todo o dia.
Não tinham
muito para ofertar, mas Balsis pediu ao esposo que fosse até a horta e colhesse
algumas verduras para preparar um caldo e oferecer aos hóspedes.
Balsis puxou, de junto da parede,
a única mesa que tinha no casebre. Uma mesa velha, de tampo esburacado.
Recobriu-a com
a única toalha que tinha, guardada para ocasiões muito especiais, enquanto
Fílemon retirou do armário alguns frutos secos, que Balsis mesma preparara e
uma bilha de vinho.
Após,
sentaram-se junto com os dois visitantes para o rico banquete da família pobre.
Começaram a
tomar o caldo, a se alimentar com os frutos secos e perceberam, os dois velhos
que, quando Júpiter e Mercúrio se serviam do vinho, quanto mais vinho retiravam
da bilha, mais vinho aparecia nela.
Entreolharam-se
e se deram conta de que essa era uma prerrogativa dos deuses. Aquilo em que
eles tocassem se multiplicava.
Júpiter
percebeu e deu-se a conhecer. Apresentou Mercúrio, que era considerado deus dos
oradores e pediu aos velhos que não contassem a ninguém sobre suas estadas ali.
No dia
imediato, antes de se despedirem, Júpiter abraçou os dois velhos e lhes fez uma
proposta:
"Pela
gentileza da hospedagem, pela boa vontade que nos apresentaram, eu gostaria de
deixá-los à vontade para pedir o que quiserem e eu lhes garanto
realizar." Era o deus dos deuses
que estava oferecendo o que eles quisessem.
Fílemon olhou
a esposa e essa lhe retribuiu o olhar. Eram velhos, tinham vivido na pobreza
desde a juventude, quando se casaram.
Aquela idade
não lhes pedia mais nada. Fílemon disse a Júpiter que não necessitavam de coisa
alguma.
Mas Balsis
lembrou-se de um detalhe. Segurou o braço do marido, voltou-se para Júpiter e
disse-lhe:
"Senhor,
já que nós podemos pedir-lhe alguma coisa, eu gostaria de rogar que não
permitisse que um de nós chore a morte do outro. Gostaríamos de pedir-lhe que
quando um de nós tombe nas mãos da morte, o outro possa acompanhar
imediatamente, para que não chore um pelo outro."
Lágrimas
escorreram pelas faces de Júpiter. O pai dos deuses emocionou-se e garantiu-lhe
que o seu pedido seria atendido.
No dia em que Fílemon tombou,
arrastado pelas mãos da morte, Balsis tombou sobre seu corpo.
E Júpiter,
para homenagear o amor de ambos, plantou-os no pórtico da cidade de Listra, na
entrada da Licaônia, e os converteu em duas tílias, que estão floridas quase o
ano inteiro.
Isso tudo para
dizer que o amor é assim, é capaz de estar sempre florido, é capaz de doar-se
perpetuamente.
Redação do Momento Espírita, com
base em palestra de Raul Teixeira, no Teatro da FEP, em 14 de dezembro de 2002.
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