O amor
desenvolve características pessoais, distinguindo e particularizando a
criatura. Ao proporcionar-lhe vontade própria e independência, enseja que ela
expanda horizontes e dissolva as barreiras onde o padrão e a generalização
ergueram paredes.
Nos nossos
dias, a maioria dos indivíduos tem conceituado o amor baseando-se tão-só no
carinho de uma pessoa por outra, na construção romântica e simplista cultivada
em nossa cultura, nos versos ingênuos e sonhadores dos poetas ou no que escuta
e vê nos meios de comunicação de massa. Na realidade, trata-se de conceitos
egóicos quase sempre retirados das frustrações, das inseguranças, da
sensualidade e dos sentidos imediatos ou ilusórios.
O amor é um
potencial imanente do ser humano. É um fenômeno natural a ser despertado por
todos, e não simplesmente algo pronto e guardado nas profundezas da alma,
esperando ser descoberto por alguém a qualquer momento.
O amor está na
naturalidade da vida de cada um. É uma capacidade a ser desenvolvida, como a
inteligência. Um dia, amar será tão fácil como respirar em uma atmosfera pura
ou saciar a sede na água translúcida. No "amor real", nós desejamos o
bem da outra pessoa e nos alegramos com sua evolução; no "amor
romântico", nós desejamos a outra pessoa e nos vestimos com o manto da
possessividade. Por não amarmos é que a indiferença e o desprezo vigoram no
seio da sociedade.
Quem ama se
torna, gradativamente, um indivíduo pleno; por isso, nem sempre é conveniente
aos tiranos e dominadores nos incentivar ao amor. Não nos querem libertos,
originais e criativos. A melhor forma de destruir um homem é impedi-lo de amar,
exterminando, assim, sua naturalidade e espontaneidade.
A sociedade
atual, como as de outrora, não encoraja ou estimula os indivíduos a tomar posse
de sua mais completa individualidade. Para nossa melhor elucidação: in-diví-duo=
não dividido em dois. Do
latim individuus: indivisível, uno, que não foi separado.
Os governantes
injustos e déspotas querem comandar os corpos; os religiosos fundamentalistas -
vinculados a todo e qualquer movimento conservador que enfatiza a obediência
rigorosa e literal dos textos de um conjunto de princípios básicos — querem
comandar as almas. Querem nos reduzir a fantoches, a simulacro de ser humano,
que nada sentem ou pensam. Fantoches são dirigidos, só obedecem, não possuem
autonomia, não possuem comando da sua vida.
Se houvesse
amor entre os homens, não haveria fronteiras. O amor desenvolve características
pessoais, distinguindo e particularizando a criatura. Ao proporcionar-lhe
vontade própria e independência, enseja que ela expanda horizontes e dissolva
as barreiras onde o padrão e a generalização ergueram paredes.
Quando não
amamos, ficamos vazios. Há ausência de diversidade e de multiplicidade na vida
interior e na exterior. Amar é uma forma básica de bem viver. Nossas estruturas
íntimas estão alicerçadas no amor. Sem amor tudo fenece.
Buscamos a
religião ou buscamos a Deus porque perdemos contato com o amor.
"Não sabeis que sois um
templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? (I Coríntios, 3:16). "conforme
a expressão de Paulo de Tarso. Por que, então, temos tanta necessidade de
buscar a Divindade no exterior ou na superficialidade? A verdadeira religião
tem o propósito de nos levar de volta a Deus - ao Amor —, pois, segundo o
apóstolo João:" (...) Deus é Amor: aquele que permanece no amor permanece
em Deus e Deus permanece nele." (1João, 4:16).
Quando a
humanidade aprender a amar, todos nós nos reuniremos em torno de uma só
religião - o Amor. Aliás, a única religião professada por Jesus Cristo.
Amar a Deus,
amar ao próximo, amar a nós mesmos. Essa é a mais pura essência dos ensinos do
Mestre.
"(...)
Aliás, quantos não há que crêem amar perdidamente, porque não julgam senão
sobre as aparências, e quando são obrigados a viver com as pessoas, não tardam
a reconhecer que isso não é senão uma admiração material. Não basta estar
enamorado de uma pessoa que vos agrada e a quem creiais de belas qualidades; é
vivendo realmente com ela que podereis apreciá-la. Quantas também não há dessas
uniões que, no início, parecem não dever jamais ser simpáticas,e quando um e
outro se conhecem bem e se estudam bem, acabam por se amar com um amor terno e
durável, porque repousa sobre a estima!(...)" (Livro dos Espíritos/Allan Kardec - questão 939).
Durante anos e
anos, comentamos e refletimos sobre o que é o amor; que tal analisarmos alguns
sentimentos e emoções que quase sempre confundimos com ele?
•Quando
sentimos enorme satisfação por estar ao lado de alguém a quem admiramos
excessivamente, pelo seu jeito de falar, vestir, andar, satisfação que se intensifica
em recepções ou eventos sociais, onde seremos notados, não se trata de amor, mas
de exibicionismo ou narcisismo.
• Quando
precisamos desesperadamente de outro ser humano para viver ou ser feliz, estabelecendo
para nós privilégios exclusivos, ou melhor, quando requeremos um verdadeiro
monopólio de afeto, carinho e atenção dessa pessoa, não se trata de amor, mas
de carência íntima ou necessidade afetiva.
•Quando
vivemos entre crises de ciúme, num clima de frustração, falta de confiança, tristeza
e perda de estímulo para viver, lançando mão de qualquer recurso para manter
uma pessoa ao nosso lado, mesmo quando sabemos que não somos amados,não se
trata de amor, mas de baixa auto-estima ou desrespeito a nós mesmos.
•Quando
acreditamos que nossa existência perderá o sentido e não suportaremos viver
sozinhos sem a presença do outro, reclamando, insistentemente, a presença de alguém
ao nosso lado para que possamos nos livrar da insegurança ou da instabilidade
emocional, não se trata de amor, mas de dependência ou apego compulsivo.
•Quando
achamos que devemos ter o controle absoluto sobre outro ser humano, não respeitando
nada nem ninguém, dominando sua vida e acreditando que ele deva ter nossos
mesmos objetivos, vontades e interesses, não lhe permitindo a livre expressão e
o direito de escolher, não se trata de amor, mas de possessividade ou egoísmo.
•Quando
discutimos, com freqüência, por motivos banais e nos hostilizamos mutuamente,
vivendo entre crises temperamentais e de falta de compreensão, tentando
retrucar as ofensas para compensar a insatisfação afetiva ou a insaciabilidade sexual,
não se trata de amor, mas de paixão ou simples desejo.
Mesmo aquele
que tem pouco amor em seu coração já possui uma pequenina chama que lhe ilumina
o caminho nas tempestades escuras da existência humana. A luz de uma simples
vela na escuridão da noite pode nos guiar seguramente e - por que não? - também
auxiliar os outros companheiros do caminho. Na imensidão da névoa noturna, um
humilde vaga-lume consegue ser visto a relativa distância.
Os nossos
diminutos anseios de amor assemelham-se a tochas vivas que nos conduzem por
entre os abismos e despenhadeiros que enfrentamos nas labutas da vida terrena.
Livro: Os
Prazeres da Alma
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.
Estudando O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec
Questão 939
Visto que os Espíritos simpáticos são levados a unir-se, como se dá que, entre
os Espíritos encarnados, a afeição não esteja, freqüentemente, senão de um
lado, e que o amor mais sincero seja recebido com indiferença e mesmo repulsa?
Como, de outra parte, a afeição mais viva de dois seres pode mudar em antipatia
e, algumas vezes, em ódio?
Resposta: Não
compreendeis, pois, que é uma punição, mas que não é senão passageira. Aliás,
quantos não há que crêem amar perdidamente, porque não julgam senão sobre as
aparências, e quando são obrigados a viver com as pessoas, não tardam a
reconhecer que isso não é senão uma admiração material. Não basta estar
enamorado de uma pessoa que vos agrada e a quem creiais de belas qualidades; é
vivendo realmente com ela que podereis apreciá-la. Quantas também não há dessas
uniões que, no início, parecem não dever jamais ser simpáticas, e quando um e
outro se conhecem bem e se estudam bem, acabam por se amar com um amor terno e
durável, porque repousa sobre a estima! É preciso não esquecer que é o Espírito
que ama e não o corpo, e, quando a ilusão material se dissipa, o Espírito vê a
realidade.
Há duas
espécies de afeições: a do corpo e a da alma e, freqüentemente, se toma uma
pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é durável; a do corpo é
perecível. Eis porque, freqüentemente, aqueles que crêem se amar, com um amor
eterno, se odeiam quando a ilusão termina.
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