“... O corpo não dá cólera àquele que não a
tem, como não dá os outros vícios; todas as virtudes e todos os vícios são
inerentes ao Espírito; sem isso, onde estariam o mérito e a
responsabilidade?...” (Evangelho Seg. O Espiritismo – Allan Kardec - Capítulo
9, item 10./ Hahnemann)
Em primeiro
lugar, é necessário conceituar que vícios são dependências vigorosas e
profundas de uma pessoa que se encontra sob o controle de outras ou de
determinadas coisas.
Portanto,
deve ser considerado como vício não apenas o consumo de tóxicos e de outros
produtos de origem natural ou sintética. O conceito é mais amplo. Analisando-o
em profundidade, podemos interpretá-lo como atitude mental que nos leva
compulsoriamente à subjugação a pessoas e situações.
Muitos de
nós aprendemos a ser dependentes desde cedo, dirigidos por adultos
superprotetores que nos imprimiram “clichês psíquicos” de repressão, que se
refletem até hoje como mensagens bloqueadoras dentro de nós e que não nos
deixam desenvolver o “senso de autonomia” e de independência. Outros trazem
enraizadas experiências em que lhes foi negada a possibilidade de exercer a
capacidade de seleção de amigos e parceiros afetivos, em virtude da intervenção
de adultos prepotentes. Essa nociva interferência torna-os mais tarde
indivíduos de caráter oscilante, indecisos, assustados e inseguros. Outros ainda,
por terem sofrido experiências conflitantes em outras encarnações, em contato
com criaturas desequilibradas e em clima de inconstância e desarmonia, são
predispostos a renascer hoje com maior identificação com a instabilidade emocional.
Dessa
forma, entendemos que os fatores que propiciam os vícios e as compulsões
ocorrem em ambientes familiares-sociais desarmônicos, desta ou de outras
encarnações, onde deixamos as pressões, traumas, coações, desajustes e
conflitos se enraizarem em nossa “zona mental” ou “perispiritual”, porqüanto os
vícios não passam de efeitos externos de nossos conflitos internos.
Vale
ressaltar que nossa sociedade, a rigor, é extremamente “machista”, razão pela
qual muitas mulheres foram educadas para aceitar comportamentos dependentes
como sendo “virtudes femininas”, o que as leva a viver dentro de “demarcações
estreitas” do que elas devem ou podem fazer.
O vício do
álcool, sexo, nicotina, jogos diversos ou drogas farmacológicas são formas
amenizadoras que compensam, momentaneamente, áreas frágeis de nossa alma
desestruturada. Aliviam as carências, as ansiedades, os desajustes, as tensões psicológicas
e reduzem os impulsos energéticos que produzem as insatisfações e o chamado
“mal-estar interior”.
Pode
parecer que as opções vício-dependência disfarcem ou abrandem a “pressão
torturante”, porém o desconforto permanece imutável.
O álcool e
a droga são sedativos ou analgésicos, mas por acarretar gravíssimas
conseqüências, são denominados “vícios autodestrutivos”. A comida é uma
dependência considerada, de início, “vicio neutro”, para, depois, transformar-se
numa “opção de fuga” negativa e profundamente desorganizadora do nosso corpo
físico-psíquico.
Há manias
ou vícios comportamentais tão graves e sérios que nos levam a ser tratados e
considerados como pessoas de difícil convivência, isto é, inconvenientes:
— Vício de falar
descontroladamente, sem raciocinar, desconectando-nos do equilíbrio e do bom
senso.
— Vício de mentir
constantemente para nós mesmos e para os outros, por não querermos tomar
contato com a realidade.
— Vício de nos lamentarmos
sistematicamente, colocando-nos como vítima em face da vida, para continuarmos
recebendo a atenção dos outros.
— Vício de nos acharmos sempre
certos, para podermos suprir a enorme insegurança que existe em nós.
— Vício incontido de gastar
desnecessariamente, sem utilidade, a fim de adiarmos decisões importantes em
nossa vida.
— Vício de criticar e mal
julgar as pessoas, para nos sentirmos maiores e melhores que elas.
— Vício de trabalhar
descontroladamente, sem interrupção, para nos distrairmos interiormente,
evitando desse modo os conflitos que não temos coragem de enfrentar.
Inquestionavelmente,
as chamadas viciações resultam do medo de assumir o controle de nossa vida e,
ao mesmo tempo, do medo de nos responsabilizarmos por nossos atos e atitudes,
permitindo que eles fiquem fora de nosso controle e de nossas escolhas.
Quaisquer
que sejam, contudo, os motivos e a origem de nossos “velhos hábitos”, urge
estabelecermos pontos fundamentais, a fim de que comecemos indagando “por que
somos” dependentes emocionalmente e “qual é a forma” de nos relacionarmos com
essa dependência.
Aqui estão
alguns itens a ser também observados e que provavelmente nos ajudarão a ser
mais independentes, além de capazes de satisfazer nossos desejos e vocações
naturais. Ao mesmo tempo, nos permitirão estar junto a pessoas e situações sem
tomar-nos parcial ou totalmente dependentes delas:
— Aguçar nossa capacidade de
decidir, de optar e de escolher cada vez mais livre das opiniões alheias.
— Combater nossa tendência de
ser “bonzinhos”, ou melhor, de desejar ser sempre agradáveis aos outros, mesmo
pagando o preço de nos desagradar.
— Estimular nossa habilidade
de dizer “não”, quantas vezes forem necessárias, desenvolvendo assim nosso
“senso de autonomia”, a fim de não cair nos “modismos” ou “pressões grupais”.
— Estabelecer no ambiente
familiar um clima de respeito e liberdade, eliminando relações de
superdependência “simbióticas”, para que possamos ser nós mesmos e deixemos os
outros ser eles mesmos.
— Criar padrões de
comportamentos positivos, pois comportamentos são hábitos, e nossos hábitos
determinam a facilidade de aceitarmos ou não as circunstâncias da vida.
— Conscientizar-nos de que
somos seres humanos livres por natureza, mas também responsáveis por nossos
atos e pensamentos, pois recebemos por herança natural o livre-arbítrio.
— Cultivar constantemente o
autoconhecimento:
- reforçando nossa visão nos
traços de nossa personalidade que já conhecemos;
- buscando nossos traços
interiores, que ainda nos são desconhecidos;
- analisando as opiniões de
outras pessoas que, ao contrário de nós, já conhecemos nosso perfil
psicológico;
- aceitando plenamente nosso
lado “inadequado”, sem jamais escondê-lo de nós mesmos e dos outros, tentando,
porém, equilibrá-lo.
Meditemos,
pois, sobre essas ponderações que, com certeza, nos ajudarão a libertar-nos
dessas “necessidades constrangedoras”, cujas verdadeiras matrizes se encontram
na intimidade de nós mesmos.
Livro:
Renovando as Atitudes.
Hammed /
Francisco do Espírito Santo Neto.
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