“Se
perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, nelas encontraríeis
sempre a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses
seriam uma consideração secundário que relegaríeis ao último plano...” (Evangelho
Segundo o Espiritismo / Allan Kardec - Capítulo 5, item 21.)
Quanto mais
a ciência biológica estuda as estruturas íntimas dos seres vivos, mais
claramente constata que os fenômenos nascimento e morte são etapas de um
processo natural da vida. Mesmo assim, nos agarramos à ideiam de que somos
separados da Natureza e encaramos a morte como o fim de tudo, numa visão
isolada, desumana e insuportável de conceber.
Não nos
auxilia em nada considerar a morte um adversário; porque mesmo assim, ela
continuará fazendo parte de nossa existência. E ao tentar negá-la,estaremos nos
distanciando ainda mais da realidade integral.
Todavia, ao
provar o sentimento de perda, passamos por uma das maiores experiências como
seres humanos: somos impulsionados a uma intensa reflexão, conseguindo, a
partir daí, observar melhor as verdades transcendentais da Vida.
Nada se
perde no Universo do “Todo-Poderoso”, tudo se transforma de modo maravilhoso, e
com o passar do tempo aprendemos a entender e a aceitar a morte, numa visão
harmônica e translúcida.
Em verdade,
a morte física não nos tira a vida, mas simplesmente faz com que passemos a
transitar por novos caminhos. E como não temos a posse sobre os outros, ou
melhor, as pessoas não nos pertencem, a Vida Maior constantemente nos coloca à disposição
situações e lugares novos, nos mais diversos planos existenciais, para que
possamos nos enriquecer com as múltiplas experiências.
Somos
nômades do Universo, viajantes das vidas sucessivas, na buscado
aperfeiçoamento.
Há
inconformados que sofrem por longo tempo a perda de pessoas amadas que passaram
para outros níveis espirituais. E realmente aflitiva a saudade mesclada na dor,
que abala a alma daquele que vê partir seus entes queridos. Ainda que a dor
seja intensa, o homem deve ser honesto consigo mesmo, buscando continuadamente
uma percepção mais precisa dos processos pessoais de “não-aceitação” em face da
morte e uma conscientização do porquê dos “sentimentos de rejeição” que o
mantêm preso a um constante círculo de pensamentos inconformistas.
Certos
indivíduos sentem profunda culpa se não chorarem e não se lastimarem
indefinidamente, porque acreditam que as pessoas poderão julgá-lo como desumano
e desprovido da capacidade de amar os familiares que partiram.
Outros, por
terem atitudes conservadoras e limitantes a respeito da afetividade, cultuam
falecidos entes queridos para sempre, como se nãoexistisse mais ninguém para
amar. Exageram uma época de grande felicidade, não acreditam que possam ter
ainda reencontros alegres e vivem amarrados no passado propositadamente.
Por medo da
solidão, certas criaturas lamentam de forma ininterrupta a privação de seus
parentes, num fenômeno quase que inconsciente, para chamar a atenção de outros
familiares, a fim de que estes supram suas carências afetivas e suas
necessidades básicas de consideração.
Diversas
pessoas que já atravessam leves crises de melancolia, ficam sujeitas a períodos
angustiantes ainda mais longos e agravados, quando perdem seus afetos. Sem se
dar conta de que, se examinassem com mais cuidado as matrizes dos seus estados
depressivos, melhorariam sensivelmente; e que, por projetarem a causa de sua
aflição apenas sobre a perda, sofrem muito sem a mínima condição de vislumbrar
a cura definitiva.
Existem
almas que passam vidas inteiras ao redor de outras almas, cuidando delas. Por
não ter vida própria, estão sujeitas a um grau de dependência e apego enorme.
Cultivam a dor como pretexto para sentir-se mais vivas e mais estimuladas,
porque tudo que lhes restou foi agarrar-se às lembranças dolorosas na crença de
que não podem mais parar de sofrer pela separação dos seres amados.
Nossos
sentimentos resultam dos processos de nossas percepções, emoções e sensações
acumuladas ao longo das vidas pretéritas e da vida atual, e é através deles que
temos toda uma forma peculiar de sentir e agir.
Não obstante,
analisando nossos sentimentos de perda e interpretando-os reais fundamentos de
nossas dores, poderemos nos conscientizar se estamos agravando ou não “nosso
sentir”. As dores da separação de filhos, cônjuges, irmãos e amigos podem ser
agravadas, se a elas juntarmos o sentimento de culpa, remorso, dependência,
conservadorismo, medo e não-aceitação.
Lembremo-nos,
porém, das palavras de Paulo: “E, quando este (corpo) mortal se revestir da
imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte
na vitória. Onde está,ó morte, o teu aguilhão?”
(Paulo – I Coríntios, 15:54 e 55).
Façamos,
dessa forma, uma transubstanciação de nossos padecimentos e pesares, apartando
todos os “pesos inúteis”, descartando-os e substituindo-os pelas “doces brisas”
dos ensinos da Vida Eterna. Agindo assim, veremos abrandar em pouco tempo nosso
coração turvado e pesaroso, que depois se tornará verdadeiramente aliviado e
translúcido.
Livro:
Renovando Atitudes
Hammed /
Francisco do Espirito Santo Neto.
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