“Por que vedes um argueiro no olho do vosso
irmão, vós que não vedes uma trave no vosso olho? Ou como dizeis ao vosso irmão:
Deixai-me tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas,
tirai primeiramente a trave do vosso olho, e então vereis como podereis tirar o
argueiro do olho do vosso irmão.” (Evangelho Segundo o Espiritismo / Allan Kardec
- Capítulo 10, item 9.) (Jesus/Mateus, VII:3-5)
Os
indivíduos em plenitude não negam suas emoções; permitem que elas venham à
tona, e, como elas estão sob seu controle, reconhecem o que estão lhes
mostrando sobre seus sentimentos, suas inclinações e suas relações com as
pessoas.
As emoções
devem ser “integradas”, ou seja, primeiramente, devemos nos permitir
“senti-las”; logo após, devemos julgá-las e “pensar” sobre nossas necessidades
ou desejos; e, a partir disso, “agir” com nosso livre-arbítrio, executando ou
não, conforme nossa vontade achar conveniente.
O mecanismo
de nos “consentir”, de “raciocinar” e de “integrar” emoções determinará nossos
êxitos ou nossas derrotas nas estradas de nossa existência.
Emoções são
muito importantes. Através delas é que nos individualizamos e nos diferenciamos
uns dos outros. Ninguém sente, pois, exatamente igual, isto é, com a mesma
potência e intensidade, seja no entusiasmo em uma situação prazerosa, seja na
frustração ao observar uma meta perdida. Podemos pensar igual aos outros, mas
para um mesmo pensamento criaturas diversas têm múltiplas reações emocionais.
Assim
considerando, emoções não são certas ou erradas, boas ou impróprias, mas apenas
energias que dependem do direcionamento que dermos a elas. Reconhecê-las ou
admiti-las não significa, de modo algum, que vamos sempre agir de acordo com
elas.
Quando
negadas ou reprimidas, não desaparecem como por encanto; ao contrário, sendo
energias, elas se alojarão em determinados órgãos e congestionarão as entranhas
mais íntimas da estrutura psicossomática dos indivíduos.
Ao
abafarmos as emoções, podemos gerar uma grande variedade de doenças
autodestrutivas. Abafá-las pode também nos levar a reações muito exacerbadas ou
à completa ausência de reações, a apatia.
Portanto,
quando tomamos amplo contato com nosso lado emocional, começamos a reconhecer
vestígios a respeito de nós mesmos, que nos proporcionarão autodescoberta,
auto-preservação, segurança íntima e crescimento pessoal.
Ora, se o
Poder Divino, através de sua criação, pelo próprio mecanismo da Natureza,
delegou as emoções a todos os seres vivos, conforme seu grau de evolução, não
poderemos simplesmente negá-las, como se não servissem para nada. Tristeza,
alegria, raiva ou medo são emoções básicas e deveremos usá-las como bússolas
que nos nortearão os caminhos da vida.
Elas estão
conectadas a nosso sistema de pensamento cognitivo” - atividades psicológicas
superiores, tais como: a percepção, a intuição, a memória, a linguagem, a
atenção e os demais processos intelectuais e espirituais.
Ao
ignorarmos nossas reações emocionais, não investigando sua origem em nós
mesmos, teremos sempre a tendência de projetá-las nos outros. Além do que,
seremos seres psicologicamente claudicantes, por não integrarmos nossas emoções
aos nossos cinco sentidos, que nos facilitam a análise das pessoas e de nós
mesmos.
A tendência
que certos indivíduos têm de atribuir falhas e erros a outras pessoas ou
coisas, não enxergando e não admitindo como sendo suas, denomina-se “projeção”.
As vezes,
tentamos fazer nossas emoções desaparecer, porque as tememos. Reconhecer o que
realmente sentimos exigiria ação, mudança e decisão de nossa parte, e muitas
vezes seríamos colocados face a face com verdades inadmissíveis e inconcebíveis
por nós mesmos; e assim, tentamos projetá-las como sendo emoções não nossas,
mas dos outros.
“Não sinta
isso, é feio” - essa é uma das muitas velhas mensagens que ecoam em nossa mente
desde a mais tenra infância; com o passar do tempo, julgamos não mais
senti-las, porque as escondemos da recriminação dos adultos.
Em razão
disso, certos indivíduos condenam com veemência os “ciscos” nos outros, pois
vêem em tudo luxúria e perversão, desonestidade ou ambição. É possível que
esses mesmos indivíduos estejam reprimindo o reconhecimento de que eles
próprios trazem consigo emoções sexuais e perversidades mal resolvidas, ou, em
outros casos, emoções desmedidas de fama e de dinheiro projetadas sobre todos
os que são por eles denominados ambiciosos e desonestos.
Na
indagação “ou como dizeis ao vosso irmão: deixai-me tirar um argueiro do vosso
olho, vós que tendes uma trave no vosso?”, Jesus reconhecia a universalidade
desse processo psicológico, “a projeção”, e, como sempre, asseverava a
necessidade da busca de si mesmo, para não transferirmos nossos traços de
personalidade desconhecidos às coisas, às situações e aos outros.
O Mestre
nos inspirava ao mergulho em nossa própria intimidade, a fim de que pudéssemos
enxergar o “lado obscuro” de nossa personalidade. Ao tomarmos esse contato
imprescindível com nossas “sombras”, a consciência se torna mais lúcida,
crítica e responsável, descortinando amplos e novos horizontes para o seu
desenvolvimento e plenitude espiritual.
Finalizando,
atentemos para a análise: “as condutas alheias que mais nos irritam são aquelas
que não admitimos estar em nós mesmos” “os outros nos servem de espelho, para
que realmente possamos nos reconhecer”.
Livro:
Renovando Atitudes.
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