domingo, 12 de novembro de 2023

Faz Deus milagres? / Does God perform miracles? / Ĉu Dio faras miraklojn?

Faz Deus milagres?

15. Quanto aos milagres propriamente ditos, Deus, visto que nada lhe é impossível, pode fazê-los. Mas, fá-los? Ou, por outras palavras; derroga as leis que dele próprio emanaram? Não cabe ao homem prejulgar os atos da Divindade, nem os subordinar à fraqueza do seu entendimento. Contudo, em face das coisas divinas, temos, para critério do nosso juízo, os atributos mesmos de Deus. Ao poder soberano reúne ele a soberana sabedoria, donde se deve concluir que não faz coisa alguma inútil.

Por que, então, faria milagres? Para atestar o seu poder, dizem. Mas, o poder de Deus não se manifesta de maneira muito mais imponente pelo grandioso conjunto das obras da criação, pela sábia previdência que essa criação revela, assim nas partes mais gigantescas, como nas mais mínimas, e pela harmonia das leis que regem o mecanismo do universo, do que por algumas pequeninas e pueris derrogações que todos os prestímanos sabem imitar? Que se diria de um sábio mecânico que, para provar a sua habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra-prima de ciência, a fim de mostrar que pode desmanchar o que fizera? Seu saber, ao contrário, não ressalta muito mais da regularidade e da precisão do movimento da sua obra?

Não é, pois, da alçada do Espiritismo a questão dos milagres; mas, ponderando que Deus não faz coisas inúteis, ele emite a seguinte opinião: Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários.

16. Admitido que Deus houvesse alguma vez, por motivos que nos escapam, derrogado acidentalmente leis por ele estabelecidas, tais leis já não seriam imutáveis. Mesmo, porém, que semelhante derrogação seja possível, ter-se-á, pelo menos, de reconhecer que só ele, Deus, dispõe desse poder; sem se negar ao Espírito do mal a onipotência, não se pode admitir lhe seja dado desfazer a obra divina, operando, de seu lado, prodígios capazes de seduzir até os eleitos, pois que isso implicaria a ideia de um poder igual ao de Deus. É, no entanto, o que ensinam. Se Satanás tem o poder de sustar o curso das leis naturais, que são obra de Deus, sem a permissão deste, mais poderoso é ele do que a Divindade. Logo, Deus não possui a onipotência e se, como pretendem, delega poderes a Satanás, para mais facilmen te induzir os homens ao mal, falta-lhe a soberana bondade. Em ambos os casos, há negação de um dos atributos sem os quais Deus não seria Deus.

Daí vem a Igreja distinguir os bons milagres, que procedem de Deus, dos maus milagres, que procedem de Satanás. Mas, como diferençá-los? Seja satânico ou divino um milagre, haverá sempre uma derrogação de leis emanadas unicamente de Deus. Se um indivíduo é curado por suposto milagre, quer seja Deus quem o opere, quer Satanás, não deixará por isso de ter havido a cura. Forçoso se torna fazer pobríssima ideia da inteligência humana para se pretender que semelhantes doutrinas possam ser aceitas nos dias de hoje.

Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados miraculosos, há-se de concluir que, seja qual for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem utilizar Espíritos desencarnados ou encarnados, como de tudo, como da própria inteligência e dos conhecimentos científicos de que disponham, para o bem ou para o mal, conforme neles preponderem a bondade ou a perversidade. Valendo-se do saber que haja adquirido, pode um ser perverso fazer coisas que passem por prodígios aos olhos dos ignorantes; mas, quando tais efeitos dão em resultado um bem qualquer, fora ilógico atribuir-se-lhes uma origem diabólica.

17. Mas, a religião, dizem, se apoia em fatos que nem explicados, nem explicáveis são. Inexplicados, talvez; inexplicáveis, é questão muito outra. Que sabe o homem das des cobertas e dos conhecimentos que o futuro lhe reserva? Sem falar do milagre da criação, o maior de todos sem contestação possível, já pertencente ao domínio da lei universal, não vemos reproduzirem-se hoje, sob o império do magnetismo, do sonambulismo, do Espiritismo, os êxtases, as visões, as aparições, as percepções a distância, as curas instantâneas, as suspensões, as comunicações orais e outras com os seres do mundo invisível, fenômenos esses conhecidos desde tempos imemoráveis, tidos outrora por maravilhosos e que presentemente se demonstra pertencerem à ordem das coisas naturais, de acordo com a lei constitutiva dos seres? Os livros sagrados estão cheios de fatos desse gênero, qualificados de sobrenaturais; como, porém, outros análogos e ainda mais maravilhosos se encontram em todas as religiões pagãs da antiguidade, se a veracidade de uma religião dependesse do número e da natureza de tais fatos, não se saberia dizer qual a que devesse prevalecer.

A Gênese – Allan Kardec.

Does God perform miracles?

15. As to miracles, properly speaking, nothing being impossible with God, he can perform them without doubt. Has he done it? Does he ever act contrary to the laws which he has established? It does not belong to man to prejudge the acts of divinity, and to subordinate them to the feebleness of his understanding. However, we have for criterion of our judgment, in regard to divine things, the attributes even of God. To sovereign power he joins sovereign wisdom, whence it is necessary to conclude that he does nothing uselessly.

Why then should he perform miracles? In order to attest his power, it is said. But the power of God, is it not manifested in a much more striking manner by the magnificent whole of the works of creation, by the foreseeing wisdom which presides in the smallest as well as the largest of his works, and by the harmony of the laws which rule the universe, than by a few little and puerile modification which all tricksters know how to imitate? What would we think of a learned mechanic who, in order to prove his skill, should disarrange the clock which he had constructed, a masterpiece of scientific skill, in order to prove that he can deface that which he has made? On the contrary, is his knowledge not displayed by the regularity and precision of its movements?

The question of miracles, then, is not, properly speaking, in the province of Spiritism; but, sustaining itself by the reasoning that God makes nothing uselessly, this idea can be educed: that, miracles not being necessary to the glorification of God, nothing in the universe is diverted from the general laws. God does not perform miracles; since his laws are perfect, he has no need to derogate them. If there are some facts which we do not understand, it is because we have not the necessary knowledge to comprehend them.

16. The admission that God may be able, for reasons which we cannot appreciate, derogate the laws which he has established, would make these laws no more immutable; but at least it is rational to think that God alone possesses this power. One could not admit, without denying totally that he is omnipotent, that it is allowed to the spirit of evil to eclipse the work of God by performing mighty works which may deceive even the very elect. This would imply the possession of a power equal to his own. That is a doctrine, however, which is or has been taught. If Satan has the power to interrupt the course of natural laws, whose work is the divine one? If Satan does it without the divine permission, he is more powerful than God. Moreover, God is not omnipotent if he delegates to him this power, as they pretend he does, in order to induce men more easily to commit wrong; and this theory denies sovereign goodness. In both cases it is a denial of one of the attributes of the Creator, without which he could not be God.

As to the Church, how does it distinguish the good miracles which come from God from evil ones which emanate from Satan? How can one draw the line between them? Let a miracle be official or not, it is not at least a derogation of the laws which emanate from God alone. If an individual is cured, as is said, miraculously, let it be by God or Satan, he is no less cured. It is necessary to have a very poor idea of human intelligence in order to expect that such doctrines can be accepted in our day.

The possibility of certain reputed miraculous facts being recognized, it is just to conclude, that, notwithstanding they are from the source which is attributed to them, they are natural effects which spirits or incarnated beings can employ, like all things, as their own intelligence or scientific knowledge allows them, for good or evil, according to their goodness or perversity. A perverted being can then do things which pass for prodigies to the eyes of the ignorant, by putting to profit his knowledge; but, when effects are good, it would be illogical to attribute to them a diabolical origin.

17. But it has been thought that religion leans upon facts which never have and never can be explained. Perhaps they never have been; but that they never can be, is another question. Does anyone know what knowledge and discoveries may be ours in the future, without alluding to the miracle of creation, the grandest of all beyond dispute, and which is now acknowledged to be within the domain of universal law? Can we not see already, under the empire of Spiritism, magnetism, somnambulism, the ecstasies, visions, apparitions, clairvoyance, instantaneous cures, trances, oral and other communications with beings of the invisible world, phenomena known from time immemorial, considered formerly as miraculous, now being demonstrated as belonging to the natural order of things in harmony with the universal laws of being? Sacred books are full of accounts of these things, which are qualified as supernatural; but, as analogous facts are found in all religious works of antiquity, some of which are more marvelous than any biblical accounts, if the truth of a religion depended upon the number and nature of these facts, Christianity could at once be swept away by Paganism.

GENESIS – Allan Kardec.

Ĉu Dio faras miraklojn?

15. – Koncerne la ĝustasencajn miraklojn, Dio, ĉar al li nenio neeblas, sendube povas ilin fari. Ĉu li tamen ja ilin faras? aŭ, alivorte, ĉu li nuligas la leĝojn, kiujn li mem starigis?

Ne apartenas al la homo antaŭjuĝi la agojn de la Dia Estaĵo, nek ilin subordigi al sia malforta komprenpovo. Ni tamen, koncerne la diajn aferojn, havas, kiel kriterion por nia juĝado, la atributojn mem de Dio. Al la superega povo aldoniĝas la superega saĝeco, el kio oni devas konkludi, ke li faras nenion neutilan.

Kial li do farus miraklojn? Por elmontri sian povon, oni diras. Sed ĉu la povo de Dio ne pli impone manifestiĝas per la grandioza tutaĵo de la verkoj de la kreaĵaro, per la antaŭvida saĝeco direktanta kiel ties plej etajn, tiel ankaŭ ties plej grandajn partojn, kaj per la harmonio de la leĝoj regantaj la mekanismon de la Universo, ol per iaj malgrandaj kaj infanecaj nuligoj, kiujn ĉiuj iluziistoj scipovas imiti? Kion oni dirus pri lerta mekanikisto, kiu, por pruvi sian lertecon, malmuntus la horloĝon, sciencan majstroverkon, kiun li mem konstruis, por pruvi, ke li povas malfari, kion li faris? Ĉu lia sciado, male, ne pli elmontriĝas per la reguleco kaj precizeco de ĝia movo?

Ne koncernas do Spiritismon la demando pri la mirakloj; sed, surbaze de tiu rezono, ke Dio faras nenion neutilan, Spiritismo formulas jenan opinion: ĉar mirakloj ne estas necesaj por la glorado de Dio, nenio en la Universo okazas ekster la ĝeneralaj leĝoj. Dio ne faras miraklojn tial, ke liaj leĝoj estas perfektaj kaj li do ne bezonas nuligi ilin. Se estas faktoj, kiujn ni ne komprenas, tio estas tial, ke al ni ankoraŭ mankas la necesa sciado.

16. – Akceptite, ke Dio povis, pro motivoj, kiujn ni ne kapablas taksi, okaze nuligi leĝojn de li starigitajn, tiuj leĝoj do ne estas neŝanĝeblaj; sed estas almenaŭ racie pensi, ke nur li havas tiun povon. Oni ne povus akcepti, sen al Dio nei la ĉiopovecon, ke al la Spirito de malbono estas konsentite malfari la verkon de Dio kaj de sia flanko estigi miregindaĵojn, kiuj forlogus eĉ la elektitojn, kio kuntrenus la ideon pri ia povo egala al la povo de Dio. Tamen ja ĉi tion oni instruas. Se Satano havas la povon interrompi, sen la permeso de Dio, la plenumiĝon de la diaj leĝoj, kiuj ja estas verko de Dio, li estas pli potenca ol Dio, kiu do ne havas la ĉiopovecon. Kaj se Dio, kiel oni pretendas, komisias al Satano tiun povon, por ke ĉi tiu pli facile konduku la homojn en la malbonon, Dio do ne havas la superegan bonecon. Ambaŭ okazoj prezentas la neadon de unu el la atributoj, sen kiuj Dio ne estus Dio.

Pro tio la Eklezio distingas la bonajn miraklojn, kiuj fontas el Dio, disde la malbonaj mirakloj, kiuj fontas el el Satano. Sed kiel diferencigi inter ili? Ĉu satana aŭ dia, miraklo ĉiam estos nuligo de leĝoj, kiuj emanas el unu sola Dio. Se iu persono estas, por tiel diri, mirakle resanigita, ĉu de Dio aŭ de Satano, lia resaniĝo ja nepre okazis. Necesas fari al si tre mizeran ideon pri la homa inteligento por pretendi, ke tiaj doktrinoj povas hodiaŭ esti akceptataj.

Se oni agnoskas la eblecon de kelkaj faktoj rigardataj kiel miraklaj, oni nepre devas konkludi, ke, kia ajn estus la origino al ili atribuata, ili ja estas naturaj efikoj, kiujn enkarniĝintaj aŭ elkarniĝintaj Spiritoj povas utiligi, tiel same kiel ili utiligas ĉion, sian propran inteligenton, siajn sciencajn sciojn, tiel por la bono kiel por la malbono, laŭ sia boneco aŭ sia maliceco. Malicegulo, uzante sian sciadon, povas do efektivigi farojn, kiuj aspektos kiel miregindaĵoj en la okuloj de malkleruloj; sed kiam tiuj efikoj rezultigas ajnan bonon, estus mallogike al ili atribui diablan originon.

17. – Sed la religio, laŭdire, sidas sur faktoj nek klarigitaj, nek klarigeblaj. Eble neklarigitaj; ĉu neklarigeblaj? jen tute alia demando. Ĉu al la homoj estas konataj la malkovroj kaj scioj, kiujn la estonteco rezervas al ni? Ne parolante pri la miraklo de la kreado, nekontesteble la plej granda el ĉiuj, jam nun apartenanta al la kadro de la universa leĝo, ĉu ni ne vidas hodiaŭ refariĝi, en la kampoj de magnetismo, somnambulismo, Spiritismo, la ekstazojn, la viziojn, la aperojn, la transvidadojn, la subitajn resanigojn, la levojn, la komunikiĝojn parolajn kaj alispecajn kun la estaĵoj de la nevidebla mondo, ja fenomenojn konatajn de nememoreblaj tempoj, iam rigardatajn kiel miraklaj kaj pri kiuj oni nuntempe demonstras, ke ili apartenas al la ordo de la naturaj aferoj, laŭ la leĝo pri la konsisto de la estaĵoj? La sanktaj libroj estas plenaj de tiaspecaj faktoj, kvalitigitaj kiel supernaturaj; sed ĉar aliaj, analogaj kaj ankoraŭ pli miregindaj, troviĝas en ĉiuj paganaj religioj de la antikveco, tial, se la vereco de iu religio dependus de la nombro kaj de la naturo de tiaj faktoj, oni ne scius montri, kiu la pli vera.

La Genezo – Allan Kardec.

Nenhum comentário:

Postar um comentário