domingo, 3 de julho de 2022

Resumo teórico do sonambulismo, do êxtase e da segunda vista / RESUMEN TEÓRICO DEL SONAMBULISMO, DEL ÉXTASIS Y DE LA DOBLE VISTA.

455. Os fenômenos do sonambulismo natural se produzem espontaneamente e independem de qualquer causa exterior conhecida. Mas, em certas pessoas dotadas de especial organização física, podem ser provocados artificialmente, pela ação do agente magnético.

O estado que se designa pelo nome de sonambulismo magnético apenas difere do sonambulismo natural em que um é provocado, enquanto o outro é espontâneo.

O sonambulismo natural constitui fato notório, que ninguém pensa em pôr em dúvida, não obstante o aspecto maravilhoso dos fenômenos a que dá lugar. Por que seria então mais extraordinário ou irracional o sonambulismo magnético? Apenas por produzir-se artificialmente, como tantas outras coisas? Os charlatães o exploram, dizem. Razão de mais para que não lhes seja deixado nas mãos. Quando a Ciência se houver apropriado dele, muito menos crédito terão os charlatães junto às massas populares. Enquanto isso não se verifica, como o sonambulismo natural ou artificial é um fato, e como contra fatos não há raciocínio possível, vai ele ganhando terreno, apesar da má-vontade de alguns, no seio da própria Ciência, onde penetra por uma imensidade de portinhas, em vez de entrar pela porta larga. Quando lá estiver totalmente, terão que lhe conceder direito de cidade.

 o Espiritismo, o sonambulismo é mais do que um fenômeno fisiológico, é uma luz projetada sobre a psicologia. É aí que se pode estudar a alma, porque é onde esta se mostra a descoberto. Ora, um dos fenômenos que a caracterizam é o da clarividência independente dos órgãos ordinários da vista. Fundam-se os que contestam esse fato em que o sonâmbulo nem sempre vê, e à vontade do experimentador, como com os olhos. Será de admirar que difiram os efeitos, quando diferentes são os meios? Será racional que se pretenda obter os mesmos efeitos, quando há e quando não há o instrumento? A alma tem suas propriedades, como os olhos têm as suas. Cumpre julgá-las em si mesmas e não por analogia.

De uma causa única se originam a clarividência do sonâmbulo magnético e a do sonâmbulo natural. É um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que existe em nós e cujos limites não são outros senão os da própria alma. O sonâmbulo vê em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se, qualquer que seja a distância.

No caso de visão à distância, o sonâmbulo não vê as coisas de onde está o seu corpo, como por meio de um telescópio. Vê-as presentes, como se se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, lá está. Por isso é que seu corpo fica como que aniquilado e privado de sensação, até que a alma volte a habitá-lo novamente. Essa separação parcial da alma e do corpo constitui um estado anormal, suscetível de duração mais ou menos longa, porém não indefinida. Daí a fadiga que o corpo experimenta após certo tempo, mormente quando a alma se entrega a um trabalho ativo.

A vista da alma ou do Espírito não é circunscrita e não tem sede determinada. Eis por que os sonâmbulos não lhe podem marcar órgão especial. Veem porque veem, sem saberem o motivo nem o modo, uma vez que, para eles, na condição de Espíritos, a vista carece de foco próprio. Se se reportam ao corpo, esse foco lhes parece estar nos centros onde maior é a atividade vital, principalmente no cérebro, na região do epigastro, ou no órgão que é, para eles, o ponto de ligação mais forte entre o Espírito e o corpo.

O poder da lucidez sonambúlica não é ilimitado. O Espírito, mesmo quando completamente livre, tem restringidos seus conhecimentos e faculdades conforme ao grau de perfeição que haja alcançado. Ainda mais restringidos os tem quando ligado à matéria, a cuja influência está sujeito. É o que motiva não ser universal, nem infalível, a clarividência sonambúlica. E tanto menos se pode contar com a sua infalibilidade, quanto mais desviada seja do fim visado pela natureza e transformada em objeto de curiosidade e de experimentação.

No estado de desprendimento em que fica colocado, o Espírito do sonâmbulo entra em comunicação mais fácil com os outros Espíritos encarnados, ou não encarnados, comunicação que se estabelece pelo contato dos fluidos que compõem os perispíritos e servem de transmissão ao pensamento, como o fio elétrico. O sonâmbulo não precisa, portanto, que se lhe exprimam os pensamentos por meio da palavra articulada. Ele os sente e adivinha. É o que o torna eminentemente impressionável e sujeito às influências da atmosfera moral que o envolva. Essa também a razão por que uma assistência muito numerosa e a presença de curiosos mais ou menos malevolamente lhe prejudicam de modo essencial o desenvolvimento das faculdades que, por assim dizer, se retraem, só se desdobrando com toda a liberdade num meio íntimo ou simpático. A presença de pessoas mal-intencionadas ou antipáticas lhe produz efeito idêntico ao do contato da mão na sensitiva.

O sonâmbulo vê ao mesmo tempo o seu próprio Espírito e o seu corpo, os quais constituem, por assim dizer, dois seres que lhe representam a dupla existência corpórea e espiritual, existências que, entretanto, se confundem mediante os laços que as unem. Nem sempre o sonâmbulo se apercebe de tal situação, e essa dualidade faz que muitas vezes fale de si como se falasse de outra pessoa. É que ora é o ser corpóreo que fala ao ser espiritual, ora é este que fala àquele.

Em cada uma de suas existências corporais o Espírito adquire um acréscimo de conhecimentos e de experiência. Esquece-os parcialmente, quando encarnado em matéria por demais grosseira, porém deles se recorda como Espírito. Assim é que certos sonâmbulos revelam conhecimentos acima do grau da instrução que possuem e mesmo superiores às suas aparentes capacidades intelectuais. Portanto, da inferioridade intelectual e científica do sonâmbulo, quando desperto, nada se pode inferir com relação aos conhecimentos que porventura revele no estado de lucidez. Conforme as circunstâncias e o fim que se tenha em vista, ele os pode haurir da sua própria experiência, da sua clarividência relativa às coisas presentes, ou dos conselhos que receba de outros Espíritos. Mas, podendo o seu próprio Espírito ser mais ou menos adiantado, possível lhe é dizer coisas mais ou menos certas.

Pelos fenômenos do sonambulismo, quer natural, quer magnético, a Providência nos dá a prova irrecusável da existência e da independência da alma, e nos faz assistir ao sublime espetáculo da sua emancipação. Abre-nos, dessa maneira, o livro do nosso destino. Quando o sonâmbulo descreve o que se passa à distância, é evidente que vê, mas não com os olhos do corpo. Vê-se a si mesmo e se sente transportado ao lugar onde vê o que descreve. Lá se acha, pois, alguma coisa dele e, não podendo essa alguma coisa ser o seu corpo, necessariamente é sua alma, ou Espírito. Enquanto o homem se perde nas sutilezas de uma metafísica abstrata e ininteligível, em busca das causas da nossa existência moral, Deus cotidianamente nos põe sob os olhos e ao alcance da mão os mais simples e patentes meios de estudarmos a psicologia experimental.

O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável.

No sonho e no sonambulismo, a alma vaga pelas regiões terrestres. No êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação, sem, todavia, poder ultrapassar certos limites, porque, se os transpusesse, totalmente se partiriam os laços que a prendem ao corpo. Cerca-a então resplendente e desusado fulgor, inebriam-na harmonias que na Terra se desconhecem, indefinível bem-estar a invade: goza antecipadamente da beatitude celeste e bem se pode dizer que pousa um pé no limiar da eternidade.

No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.

Nesse estado, desaparecem todos os pensamentos terrestres, cedendo lugar ao sentimento apurado que constitui a essência mesma do nosso ser imaterial. Inteiramente entregue a tão sublime contemplação, o extático encara a vida apenas como paragem momentânea. Considera os bens e os males, as alegrias grosseiras e as misérias deste mundo quais incidentes fúteis de uma viagem, cujo termo tem a felicidade de avistar.

Dá-se com os extáticos o que se dá com os sonâmbulos: mais ou menos perfeita podem ter a lucidez e o Espírito mais ou menos apto a conhecer e compreender as coisas, conforme seja mais ou menos elevado. Algumas vezes, porém, há neles mais exaltação do que verdadeira lucidez, ou, melhor, a exaltação lhes prejudica a lucidez. Daí o serem, frequentemente, suas revelações um misto de verdades e erros, de coisas grandiosas e coisas absurdas, até ridículas. Dessa exaltação, que é sempre uma causa de fraqueza, quando o indivíduo não sabe controlá-la, Espíritos inferiores costumam aproveitar-se para dominar o extático, tomando, com tal intuito, aos seus olhos, aparências que mais o aferram às ideias ou preconceitos que nutre no estado de vigília. Há nisso um escolho, mas nem todos são assim. Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança da razão.

A emancipação da alma se verifica às vezes no estado de vigília e produz o fenômeno conhecido pelo nome de segunda vista, que é a faculdade graças à qual quem a possui vê, ouve e sente além dos limites dos sentidos humanos. Percebe o que exista até onde estende a alma a sua ação. Vê, por assim dizer, através da vista ordinária, e como por uma espécie de miragem.

No momento em que o fenômeno da segunda vista se produz, o estado físico do indivíduo se acha sensivelmente modificado. O olhar apresenta alguma coisa de vago. Ele olha sem ver. Toda a sua fisionomia reflete uma como exaltação. Nota-se que os órgãos visuais se conservam alheios ao fenômeno, pelo fato de a visão persistir, malgrado a oclusão dos olhos.

Aos dotados desta faculdade ela se afigura tão natural, como a que todos temos de ver. Consideram-na um atributo de seus próprios seres, que em nada lhes parecem excepcionais. De ordinário, o esquecimento se segue a essa lucidez passageira, cuja lembrança, tornando-se cada vez mais vaga, acaba por desaparecer, como a de um sonho.

O poder da segunda vista varia, indo desde a sensação confusa até a percepção clara e nítida das coisas presentes ou ausentes. Quando rudimentar, confere a certas pessoas o tato, a perspicácia, uma certa segurança nos atos, a que se pode dar o qualificativo de precisão de golpe de vista moral. Um pouco mais desenvolvida, desperta os pressentimentos. Mais desenvolvida ainda, mostra os acontecimentos que deram ou estão para dar-se.

O sonambulismo natural e artificial, o êxtase e a segunda vista não passam de variedades ou modificações de uma mesma causa. Esses fenômenos, como os sonhos, estão na natureza. Tal a razão por que existiram em todos os tempos. A história mostra que foram sempre conhecidos e até explorados desde a mais remota antiguidade e neles se nos depara a explicação de uma imensidade de fatos que os preconceitos fizeram fossem tidos por sobrenaturais.

O Livro dos Espíritos  – Allan Kardec.

455. Los fenómenos del sonambulismo natural se producen espontáneamente y son independientes de toda causa xterna conocida; pero en ciertas personas dotadas de una organización especial, pueden ser provocados artificialmente por la acción del agente magnético.

El estado designado con el nombre de sonambulismo magnético no difiere del sonambulismo natural más que, en que el uno es provocado al paso que el otro es espontáneo. El sonambulismo natural es un hecho notorio que nadie piensa poner en dula, a pesar de los maravillosos fenómenos que ofrece. ¿Qué tiene, pues, de más extraordinario o de más irracional el sonambulismo magnético, porque es producido artificialmente como otras tantas cosas? Se dice que los charlatanes lo han explotado; razón de más para no abandonarlo en sus manos. Cuando la ciencia se lo haya apropiado, el charlatanismo tendrá mucho menos crédito en las masas; pero en el ínterin como el sonambulismo natural o artificial es un hecho, y como contra éste no son posibles razonamientos, se acredita a pesar de la mala voluntad de algunos, y hasta en la misma ciencia, en la cual entra por una multitud de puertecillas, en vez de hacerlo por la principal. Mas cuando haya penetrado del todo, preciso será concederle derecho de ciudadanía.

Para el espiritismo, el sonambulismo es algo más que un fenómeno fisiológico, es una luz que refleja en la psicología. En él se puede estudiar el alma; porque se presenta a las claras, y uno de los fenómenos que la caracterizan es la clarividencia independiente de los órganos ordinarios de la vista. Los que impugnan el fenómeno, se fundan en que el sonámbulo no ve siempre y a voluntad del experimentador, como con los ojos. Pero, ¿hemos de admirarnos de que, siendo diferentes los medios, no sean los mismos los efectos? ¿Es racional el pedir efectos idénticos, no existiendo el instrumento? El alma tiene sus propiedades como el ojo las suyas, y debe juzgárselas en si mismas y no por analogía.

La causa de la clarividencia del sonámbulo magnético y del sonámbulo natural es idénticamente la misma: es un atributo del alma, una facultad inherente a todas las partes del ser incorporal que reside en nosotros y que no tiene más limites que los señalados a la misma alma. Ve todos los puntos a donde puede transportarse su alma, cualquiera que sea la distancia.

En la vista a distancia el sonámbulo no ve las cosas desde el punto donde está su cuerpo, y como por un efecto telescópico. Las ve presentes, y como si estuviese en el lu gar donde se encuentran; porque allí está en realidad su alma, y por esto su cuerpo está como anonadado y parece hallarse privado de sentimiento hasta que el alma vuelve a posesionarse de él. Esta separación parcial del alma y del cuerpo es un estado anormal que puede durar más o menos, pero no indefinidamente; motivo por el cual el cuerpo experimenta fatiga después de cierto tiempo, sobre todo cuando el alma se consagra a un trabajo activo.

No estando circunscrita la vista del alma o del espíritu y no teniendo lugar determinado, queda explicado el por qué los sonámbulos no pueden señalarle órgano especial. Ven, porque ven, sin saber cómo ni por qué, no teniendo para ello como espíritus lugar determinado la vista. Si se refiere a su cuerpo, paréceles que ese lugar está en los centros en que es mayor la actividad vital, principalmente en el cerebro, en la región epigástrica, o en el órgano que, según ellos, es el punto de unión más tenaz entre el espíritu y el cuerpo.

La potencia de la lucidez sonambúlica no es indefinida. Hasta el espíritu completamente libre está limitado en sus facultades y en sus conocimientos según el grado de perfección a que ha llegado, y lo está más, cuando está ligado a la materia cuya influencia siente. Esta es la causa de que la clarividencia sonambúlica no es universal, ni infalible. Menos puede aún fiarse en su infalibilidad, cuando se la aparta del fin que se ha propuesto la naturaleza, y se la constituye en objeto de curiosidad y de experimentación.

En el estado de desprendimiento en que se encuentra el espíritu del sonámbulo entra más fácilmente en comunicación con los otros espíritus desencarnados o encarnados. Establécese esta comunicación por medio del contacto de los fluidos que componen los periespíritus y sirven de conductores al pensamiento como el hilo eléctrico. El sonámbulo no necesita, pues, de que el pensamiento sea articulado por la palabra: lo siente y lo adivina, lo cual le hace eminentemente impresionable y accesible a las influencias de la atmósfera moral en que se halla colocado. Por esto también un concurso numeroso de espectadores, y especialmente de curiosos más o menos malévolos, perjudica esencialmente el desarrollo de sus facultades, que se repliegan, por decirio así, en si mismas, y no se despliegan con completa libertad más que en la intimidad y en un centro simpático. La presencia de personas malévolas o antipáticas produce en él, el mismo efecto del contacto de la mano en la sensitiva.

El sonámbulo ve a la vez su espíritu y su cuerpo. Son, por decirlo así, dos seres que le representan la doble existencia espiritual y corporal que se confunden, por lo tanto, por los lazos que los unen. No siempre se da el sonámbulo cuenta de esta situación, y semejante dualismo hace que hable a menudo de él como de un extraño, y es que tan pronto el ser corporal habla al espiritual, como el espiritual al corporal.

El espíritu adquiere un aumento de conocimientos y de experiencia en cada una de sus existencias corporales. Los olvida parcialmente durante su encarnación en una materia demasiado grosera; pero los recuerda como espíritu. Por esto ciertos sonámbulos revelan conocimientos superiores a su grado de instrucción y hasta su aparente capacidad intelectual. La inferioridad intelectual y científica del sonámbulo estando despierto, nada prejuzga, pues, sobre los conocimientos que pueda revelar en estado lúcido. Según las circunstancias y el fin que nos propongamos, puede tomarlos de su propia experiencia. de la clarividencia de las cosas presentes o de los consejos que de otros espíritus recibe; pero como el suyo puede estar más o menos adelantado, puede decir cosas más o menos exactas.

Por los fenómenos del sonambulismo ya natural, ya magnético. la Providencia nos da la prueba irrecusable de la existencia e independencia del alma, y nos hace asistir al sublime espectáculo de su emancipación, abriéndonos de este modo el libro de nuestro destino. Cuando el sonámbulo describe lo que ocurre a distancia, es evidente que lo ve, y no con los ojos del cuerpo; se ve a si mismo, se siente transportado, hay, pues, allí algo suyo, y no siendo este algo su cuerpo, no puede ser otra cosa que su alma o su espíritu. Mientras el hombre se extravía entre las sutilezas de una metafísica abstracta e ininteligible, corriendo en busca de las causas de nuestra existencia moral, Dios pone diariamente en sus manos y ante sus ojos, los más sencillos y patentes medios para el estudio de la psicología experimental.

El éxtasis es el estado en que la independencia del alma y del cuerpo se manifiesta del modo más sensible y se hace hasta cierto punto palpable.

En el sueño y en el sonambulismo el alma vaga por los mundos terrestres; en el éxtasis penetra en un mundo desconocido, en el de los espíritus etéreos con los cuales se comunica, sin poder, empero, salvar ciertos límites que no podría franquear sin romper completamente los lazos que le unen al cuerpo. Un brillo resplandeciente, nuevo del todo la rodea, armonias desconocidas en la tierra la arrebatan, y la penetra un bienestar indefinible: goza anticipadamente de la beatitud celeste y puede decir&e que pone un pie en el umbral de la eternidad.

En el estado de éxtasis es casi completo el anonadamiento del cuerpo, no goza, por decirlo así que de la vida orgánica, y se conoce que no está unida a él el alma más que por un hilo que bastaría a romper definitivamente un esfuerzo más.

En semejante estado desaparecen todos los pensamientos terrestres para ceder su puesto al sentimiento puro que es la misma esencia de nuestro ser inmaterial. Entregado totalmente a esta sublime contemplación, el extático considera la vida como una parada momentánea. Los bienes y los males, las alegrías groseras y las miserias de este mundo no son más que incidentes fútiles de un viaje, de cuya terminación se consideraría feliz.

Sucede con los extáticos lo mismo que con los sonámbulos: su lucidez puede ser más o menos perfecta y su mismo espíritu es más o menos apto para conocer y comprender las cosas, según que sea más o menos elevado. A veces es en ellos mayor la exaltación que la lucidez verdadera, o por mejor decir, su exaltación perjudica a la lucidez, y por esto sus revelaciones son con frecuencia una mezcla de verdades y errores, de cosas sublimes y de cosas absurdas y hasta ridículas. Los espíritus inferiores se aprovechan a menudo de esa exaltación, que siempre es causa de debilidad, cuando no se sabe dominarla para gobernar al extático, y a este fin toman a sus ojos apariencias que mantienen sus ideas y preocupaciones vulgares. Este es un escollo; pero todos los extáticos no son iguales, y tócanos a nosotros juzgar fría-mente y pesar sus revelaciones en la balanza de la razón.

La emancipación del alma se manifiesta a veces en estado de vela, y produce el fenómeno designado con el nombre de doble vista, que da a los que de ella están dotados la facultad de ver, de oír o sentir más allá del limite de nuestros sentidos. Perciben las cosas de todos los puntos a que el alma extiende su acción, y las ven, por decirlo así, a través de la vista ordinaria y como por una especie de espejismo.

En el momento en que se produce el fenómeno de la. doble vista, el estado físico esta sensiblemente modifícado, hay algo de vaguedad en los ojos, miran sin ver, y toda la fisonomía refleja una especie de exaltación. Se prueba que los órganos de la vista son extraños al fenómeno; porque la visión persiste, a pesar de cerrar los ojos.

Esta facultad parece a los que de ella gozan, natural como la de ver, y es para ellos un atributo de un ser que no les parece excepcional. Sucede lo más comúnmente el olvido a esta lucidez pasajera, cuyo recuerdo más y más vago, concluye por borrarse como el de un sueño.

La potencia de la doble vista varía desde la sensación confusa, hasta la percepción clara y neta de las cosas presentes o ausentes. En estado rudimentario da a ciertas personas el tacto, la perspicacia y una especie de seguridad en sus actos, que puede llamarse la exactitud del golpe de vista moral. Más desarrollada, despierta el presentimiento, y más aún, ofrece los acontecimientos realizados o a punto de realizarse.

El sonambulismo natural y artificial, el éxtasis y la doble vista son variedades o modificaciones de una misma causa. Estos fenómenos, lo mismo que los sueños, son naturales, y por esto han existido en todas las épocas. La historia nos dice que fueron conocidos, y hasta explotados, desde la más remota antiguedad, y en ellos se encuentra la explicación de una multitud de hechos que las preocupaciones han hecho considerar como sobrenaturales.

EL LIBRO DE LOS ESPÍRITUS – Allan Kardec.

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