domingo, 22 de janeiro de 2023

O bem e o mal / Good and Evil.

629. Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz em vista e pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus; fazer o mal é infringi-la.”

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?

“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.”

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal, e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?

“Jesus disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”

633. Essa regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro?

“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem: é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz basta, evitaria a maior parte dos males cuja culpa lança à natureza.”

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a humanidade em melhores condições?

“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência e, para isso, que conheça o bem e o mal. Eis por que há união do Espírito ao corpo.” (119.)

635. Das diferentes posições sociais nascem necessidades novas que não são idênticas para todos os homens. Não parece poder inferir-se daí que a lei natural não constitui regra uniforme?

“Essas diferentes posições são da natureza das coisas e conformes à lei do progresso. Isso não infirma a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.”

As condições de existência do homem mudam de acordo com os tempos e os lugares, do que lhe resultam necessidades diferentes e posições sociais apropriadas a essas necessidades. Pois que está na ordem das coisas, tal diversidade é conforme à lei de Deus, lei que não deixa de ser una quanto ao seu princípio. À razão cabe distinguir as necessidades reais das fictícias ou convencionais.

636. São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal?

“A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.”

637. Será culpado o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana?

“Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz.”

As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas que, nem por serem consequência da posição em que a sociedade o colocou, se tornam menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem esclarecido que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.

638. Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?

“Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende."

639. Não sucede frequentemente resultar o mal que o homem pratica da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesse caso, os mais culpados?

“O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram, porque cada um será punido não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.”

640. Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este?

“É como se o tivesse praticado. Aproveitar do mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo; mas se, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova; é que o teria praticado, se pudera, ou se ousara.”

641. Será tão repreensível desejar o mal quanto fazê-lo?

“Depende. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseje praticar, sobretudo quando haja possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.”

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?

“Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser beneficente, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso possa ser necessário.”

644. Para certos homens, o meio onde se acham colocados não representa a causa primária de muitos vícios e crimes?

“Sim, mas ainda aí há uma prova que o Espírito escolheu, quando em liberdade, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência.”

645. Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna um arrastamento quase irresistível?

“Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto mesmo dentro da atmosfera do vício com grandes virtudes às vezes deparas. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes.”

646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?

“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

629. How should moral law be defined?

“Moral law is the rule for acting rightly, which may be understood as practically distinguishing between good and evil. It is founded on the adherence to God’s law. Humankind act fairly and properly when good is the ultimate goal and rule of action, which is acting in compliance with God’s law.”

630. How can we distinguish between good and evil?

“Good complies with God’s law, and wickedness diverges from it. Therefore, to do right is to comply with God’s law, and to do wrong is to violate that law.”

631. Do humans have the means to distinguish good from evil?

“Yes, when they believe in God and truly wish to do what is right. God has given human beings intelligence to distinguish between them.”

632. As humans are subject to error, can they make mistakes in their judgments of good and evil? Can they believe to be doing right when, in reality, they are doing wrong?

“Jesus said, ‘Do to others whatever you would have them do to you, that sums up everything. You will never go wrong.”

633. We cannot apply the rule of good and evil, what we might call reciprocity and solidarity, to the personal conduct of human beings in relation to themselves. Can we find the rule of conduct in natural law along with a safe guide?

“When you eat too much, it harms you. Well then, that is God letting you know what is necessary for you and when exceed that measure, you are punished. It is the same with everything else. Natural law establishes the limit of each person’s needs, and when the limit is exceeded the resulting suffering serves as atonement for the infraction. If humankind listened to the voice that says ‘enough!’ they would avoid most of the troubles and misfortunes that they blame on nature.”

634. Why does evil exist in the nature of things? I am speaking of moral evil. Couldn’t God have created the human race under more favorable conditions?

“We have already told you that when spirits are created they are simple and ignorant (see no. 115). God leaves all human beings free to choose their own path; too bad for them if they choose the wrong one, their journey will be longer. If there were no mountains, humans could not grasp the concept of climbing uphill and descending. If there were no rocks, they could not understand the concept that hard bodies exist. Spirits must acquire experience, and to do this properly they must know both good and bad. This is why there is an union of spirit and body.” (See no. 119)

635. Different social standings create new wants that are not the same for all human beings. Is natural law not a constant rule?

“Those different standings are found in nature and follow the law of progress. They do not undermine the unity of natural law, which applies to everything.”

The conditions of the lives of human beings vary greatly depending on the time and place of existence, therefore different wants and social standings arise corresponding to those wants. Since this diversity depends on the circumstances, it must be consistent with God’s law. This law is singular in principle. Reason must distinguish between true wants and fabricated wants.

636. Are good and evil absolute for all of humanity?

“God’s law is the same for everyone, but evil resides in the people’s desire for it to happen. Good is always good, and evil is always evil regardless of what a person’s position may be. The difference is in the degree of accountability.”

637. When savages give in to their instinctive desire to eat human flesh, are they guilty?

“The essence of evil lies in the will, therefore humans are more or less guilty according to the awareness of their own actions.”

Circumstances give good and evil a relative seriousness. Humans often commit faults that are reprehensible as a consequence of the social positions in which they are placed. Their accountability is proportionate to the means they possess of distinguishing between right and wrong. Therefore, enlightened individuals who commit minor injustices are more culpable in God’s eyes than ignorant savages who surrender to their instincts.

638. Evil sometimes seems to be a consequence of circumstances. For instance, in some cases, even the killing of a fellow creature is necessary. In such cases, is God’s law violated? “Evil is still evil, despite being necessary. This necessity fades as the soul becomes purified by passing from one life to another, and human beings are all the more guilty when they do wrong, because they more clearly understand the character of their actions.”

639. The wrong we do is often the result of our position that has been determined by others. In such a case, who should be held mostly accountable?

“Those who are the cause of the wrongdoing. Therefore, persons who are led to commit wicked acts due to being in a position that others have made for them are less guilty than those who have actually caused them to go astray. All individuals have to suffer the consequences for both the wrongs they have done, and that which they have caused others to do.”

640. If we profit by another person’s wrongdoing, even though we took no direct role in it, are we as guilty as if we had participated?

“Yes, despite not participating in it, it is equivalent to committing the act. Perhaps they would have retreated before the action itself but once it was done and they then took advantage of it, it proves that they would have done it themselves if they could, or if they dared.”

641. Is it as reprehensible to want to do an evil deed as it would be to actually commit it?

“This depends on the case. Voluntarily resisting engaging in the wrong that we want to do is a sign of virtue, especially when the possibility of fulfilling that desire exists. However, if individuals who have not committed the wrong action simply because the opportunity did not arise, are as guilty as if they had actually done it.”

642. Is it enough to simply not do what is evil in order to please God and to ensure our future happiness?

“No, we must do good to the best of our abilities. Each of you will have to answer for all the evil that has resulted from the good that you have failed to do.”

643. Are there individuals who are incapable of doing good?

“There is no one who cannot do some good. Only the selfish find no opportunity of doing so. The mere fact of being in contact with other human beings provides the opportunity of doing good every day of your lives, for those who are not consumed by self-interest. Doing good is not restricted to giving to charity, but also includes being useful whenever your assistance may be needed, to the full extent of your power.”

644. Can the situations in life that human beings often find themselves in lead them into vice and crime? “Yes, but those very situations are a part of the trial that has been chosen by their spirits when free. They have chosen to expose themselves to those temptations to acquire the merit of resistance.”

645. When a person is surrounded by vice, doesn’t the impulse to commit vile acts become almost irresistible?

“The impulse is strong, but not irresistible because you can sometimes find great virtues within yourself despite being surrounded by vice. Spirits who remain virtuous in the midst of evil temptations have acquired enough strength to resist temptation, and fulfill the mission of exercising a beneficial influence on those around them.”

646. Is the merit of good measured by the conditions under which that action has been committed? In other words, are there different degrees of merit in doing right?

“The merit of good depends on the difficulty entailed. There would be no merit in doing right without self-discipline and effort. God takes more notice of poor individuals who share their only piece of bread than of the rich who give only what is superfluous to them. Jesus told you this in his parable of the widow’s mite.”

THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.

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