domingo, 4 de fevereiro de 2024

Justiça e direito natural / Natural Rights and Justice / Giustizia e diritti naturali.

Justiça e direito natural.

873. O sentimento da justiça está na natureza, ou é resultado de ideias adquiridas?

“Está de tal modo na natureza, que vos revoltais à simples ideia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

874. Sendo a justiça uma lei da natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justo o que a outros parece injusto?

“É porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.”

875. Como se pode definir a justiça?

“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”

a) — Que é o que determina esses direitos?

“Duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens formulado leis apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos que podem ter variado, com o progresso das luzes. Vede se hoje as vossas leis, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto, esses direitos antiquados, que agora se vos afiguram monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o direito que os homens estabelecem. Ademais, este direito regula apenas algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma imensidade de atos unicamente da alçada do tribunal da consciência.”

876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?

“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”

Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria, e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.

877. Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe obrigações especiais?

“Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos procederá sempre com justiça. No vosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da confusão em que vivem as sociedades humanas. A vida social outorga direitos e impõe deveres recíprocos.”

878. Podendo o homem enganar-se quanto à extensão do seu direito, que é o que lhe fará conhecer o limite desse direito?

“O limite do direito que, com relação a si mesmo, reconhecer ao seu semelhante, em idênticas circunstâncias e reciprocamente.”

a) — Mas, se cada um atribuir a si mesmo direitos iguais aos de seu semelhante, que virá a ser da subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?

“Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos seus olhos, são iguais. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Ademais, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma espécie de deferência para com os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.”

879. Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

“O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

Natural Rights and Justice

873. Is the sense of justice natural or is it the product of acquired ideas?

“It is so natural that you are immediately appalled by the idea of an injustice. Moral progress definitely inspires this feeling, but it does not create it. God has placed it in the heart of all human beings and this is why you often find more stringent notions of justice in simple, primitive nations than others that are more educated.”

874. If justice is a law of nature, why do people understand it so differently? How can the same thing be just to one person, yet unjust to another?

“It is because your passions often mingle with this sentiment and corrupt it, as they do with most natural sentiments, causing you to see things from a false point of view.”

875. How should we define justice?

“Justice is respect for the rights of each and every individual.”

a) What determines these rights?

“Two things: human law and natural law. As human beings have created laws in harmony with their values and character, those laws have established rights that have varied with the progress of enlightenment. Your laws, although still far from perfect, no longer include what were considered rights in the Middle Ages. Those rights, while horrific to you now, appeared fair and natural at that time. Therefore, the rights established by humans are not always compliant with justice. In addition, they only govern certain social relations, while there are an infinite number of actions that are only tried privately by our conscience.”

876. Apart from the rights established by human law, what is the basis of justice according to natural law?

“Christ told you, ‘Do unto others as you would have others do unto you.’ God has placed in each of you the desire to see your own rights respected as the rule of true justice. When uncertain as to what we should do in regard to others at any given moment, we should ask ourselves what we would want others to do to us under the same circumstances. God could not give us a safer guide than our own conscience.”

The true measure of justice is, in fact, wanting for others what you would want for yourself. Merely wanting for yourself what you would want for others is not exactly the same thing. As it is unnatural to wish harm upon yourself, if we use our personal desires as the guide for our behavior towards our neighbors, we would never wish anything but good upon them. Universally, human beings have always sought to enforce their personal rights, while the unique factor of Christianity is the application of personal rights as the basis of our neighbors’ rights.

877. Does our need to live in a society impose any special obligations?

“Yes and the first of these is to respect the rights of others, as those who respect those rights will always be fair. In your world, where so many neglect to practice the law of justice, people turn to retaliation, and this causes trouble and confusion in your society. Social life gives rights and imposes corresponding duties.”

878. It is possible for human beings to be deluded with respect to the boundaries of their rights? How do they know their true limits?

“They can know their own limits by matching them to the limits of the rights that they recognize for others undergoing similar circumstances, and vice versa.”

a) If individuals attribute the rights of others to themselves, what happens to subordination beneath superiors? Would this not result in complete anarchy of all power?

“Natural rights are the same for everyone, from the smallest to the greatest. God has not sculpted some human beings from a better quality clay than others, and all are equals in God’s eyes. These rights are eternal, while societal rights die with its institutions. Furthermore, people distinctly know their strength or weakness, and will always be conscious of feeling a sort of deference to those individuals whose wisdom or virtue deserve respect. This is important so that those who think that they are superior know what duties give them a right to be admired. There will be no defiance when authority is only granted to superior wisdom.”

879. What would be the character of those who practice justice in all its purity?

“That of true justice, following the example of Jesus, because they would love their neighbor and practice charity. Without these virtues, there can be no real justice.”

THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.

Giustizia e diritti naturali

873. Il sentimento di giustizia è insito nella natura dell'uomo oppure è il risultato di idee acquisite?

«Esso è talmente nella natura umana che vi sentite ribellare al pensiero di un'ingiustizia. Il progresso morale senza dubbio sviluppa questo sentimento, ma non lo dà: Dio l'ha posto nel cuore dell'uomo. Ecco perché sovente negli uomini semplici e incolti voi trovate delle nozioni di giustizia più esatte che in coloro che hanno molto sapere.»

874. Se la giustizia è una legge naturale, come accade che gli uomini la intendano in modo così differente, e che gli uni trovino giusto ciò che appare ingiusto agli altri?

«Il fatto e che nelle leggi sovente si mescolano delle passioni che alterano questo sentimento — come succede per la maggior parte degli altri sentimenti naturali — e fanno vedere le cose sotto un falso punto di vista.»

875. Come può definirsi la giustizia?

«La giustizia consiste nel rispetto dei diritti di ognuno.»

875a. Che cosa determina questi diritti?

«Essi sono determinati da due fattori: la legge umana e la legge naturale. Avendo gli uomini fatto delle leggi adeguate ai loro costumi e al loro carattere, queste leggi hanno stabilito dei diritti che sono potuti variare con il progredire delle conoscenze. Verificate voi se le vostre leggi odierne, sia pur imperfette, sanciscono ancora gli stessi diritti del Medioevo. Questi diritti ormai superati, che oggi vi apparirebbero mostruosi, sembravano a quell'epoca giusti e naturali. Il diritto stabilito dagli uomini non è dunque sempre conforme alla giustizia. D'altra parte esso regola solo determinati rapporti sociali, mentre nella vita privata c’è una quantità di atti che sono unicamente una conseguenza del tribunale della coscienza.»

876. Oltre al diritto consacrato dalla legge umana, qual è la base della giustizia fondata sulla legge naturale?

«Cristo l'ha già detto: Vogliate per gli altri quello che vorreste per voi. Dio ha posto nel cuore dell'uomo la regola di ogni vera giustizia, secondo il desiderio di ognuno di vedere rispettati i propri diritti. Nell'incertezza su ciò che deve fare riguardo a un suo simile in una data circostanza, si chieda l'uomo come vorrebbe che ci si comportasse con lui in un'identica circostanza. Dio non avrebbe potuto dargli una guida più sicura della propria coscienza.»

Il criterio della vera giustizia in effetti e quello di volere per gli altri ciò che si vorrebbe per noi stessi, e non di volere per sé ciò che si vorrebbe per gli altri, il che non è del tutto la stessa cosa. Poiché non è naturale volersi del male, prendendo il proprio desiderio personale come modello di riferimento, o punto di partenza, si è certi di volere sempre solo il bene per il proprio prossimo. In tutti i tempi e in tutte le credenze, l'uomo ha sempre cercato di far prevalere il suo diritto personale. Il sublime della religione cristiana è stato di prendere il diritto personale come base del diritto del prossimo.

877. La necessita per l'uomo di vivere nella società comporta per lui degli obblighi particolari?

«Sì. E il primo di tutti e quello di rispettare i diritti dei suoi simili. Chi rispetterà questi diritti sarà sempre giusto. Nel vostro mondo, in cui sono tanti gli uomini che non praticano la legge di giustizia, ognuno usa delle rappresaglie, ed è questo che crea turbamenti e confusione nella vostra società. La vita sociale da dei diritti e impone dei doveri reciproci.»

878. Potendo l'uomo ingannarsi circa l'estensione del suo diritto, che cos’è che può fargliene conoscere il limite?

«Il limite del diritto ch'egli riconoscerebbe al suo simile verso di lui, nella medesima circostanza, e reciprocamente.»

878a. Ma se ognuno attribuisce a sé stesso i diritti del proprio simile, che cosa ne sarebbe della subordinazione nei confronti dei superiori? Non sarebbe forse l'anarchia di tutti i poteri?

«I diritti naturali sono uguali per tutti gli uomini dal più piccolo fino al più grande. Dio non ha creato gli uni con un fango migliore che per gli altri. E tutti sono uguali davanti a Lui. Questi diritti sono eterni, mentre quelli stabiliti dall'uomo periscono con le loro istituzioni. Del resto, ognuno conosce bene la propria forza o debolezza e saprà avere sempre una sorta di deferenza per chi se ne renderà degno grazie alla sua virtù e saggezza. È importante notare ciò, affinché coloro che si credono superiori conoscano i loro doveri per meritarsi questa deferenza. La subordinazione non sarà affatto compromessa, quando l'autorevolezza sarà affiancata dalla saggezza.»

879. Quale sarebbe il carattere dell'uomo che praticasse la giustizia in tutta la sua purezza?

«Quello del vero giusto, sull'esempio di Gesù, perché egli praticherebbe anche l'amore del prossimo e la carità, senza i quali non c’è vera giustizia.»

IL LIBRO DEGLI SPIRITI – Allan Kardec.

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