Natureza das penas e gozos futuros.
965. Têm alguma
coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?
“Não podem ser
materiais, diz o bom-senso, pois que a alma não é matéria. Nada têm de carnal
essas penas e gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que
experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais
impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações.” (237–257.)
966. Por que das
penas e gozos da vida futura faz o homem, muitas vezes, tão grosseira e absurda
ideia?
“Inteligência
que ainda não se desenvolveu suficientemente. Compreende a criança as coisas
como o adulto? Isso, ao demais, depende também do que se lhe ensinou: aí é que
há necessidade de uma reforma.
“Muito
incompleta é a vossa linguagem para exprimir o que está fora de vós. Teve-se
então que recorrer a comparações e tomaste como realidade as imagens e figuras
que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui,
melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.”
967. Em que
consiste a felicidade dos Espíritos bons?
“Em conhecerem
todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem
qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une
lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades, nem os
sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem.
Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um.
Somente os Espíritos puros gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos
os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de
graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante
adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la.
Mas esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de inveja. Sabem
que deles depende o consegui-la e para a conseguirem trabalham, porém com a
calma da consciência tranquila, e ditosos se consideram por não terem que
sofrer o que sofrem os maus.”
968. Citais,
entre as condições da felicidade dos Espíritos bons, a ausência das
necessidades materiais. Mas a satisfação dessas necessidades não representa
para o homem uma fonte de gozos?
“Sim, gozo do
animal. Quando não podes satisfazer a essas necessidades, passas por uma
tortura.”
969. Que se deve entender quando é dito que os Espíritos puros se acham reunidos no seio de Deus e ocupados em lhe entoar louvores?
“É uma alegoria
indicativa da inteligência que eles têm das perfeições de Deus, porque o veem e
compreendem, mas que, como muitas outras, não se deve tomar ao pé da letra.
Tudo na natureza, desde o grão de areia, canta, isto é, proclama o poder, a
sabedoria e a bondade de Deus. Não creias, todavia, que os Espíritos
bem-aventurados estejam em contemplação por toda a eternidade. Seria uma
bem-aventurança estúpida e monótona. Seria, além disso, a felicidade do
egoísta, porquanto a existência deles seria uma inutilidade sem-termo. Estão
isentos das tribulações da vida corpórea: já é um gozo. Depois, como dissemos,
conhecem e sabem todas as coisas; dão útil emprego à inteligência que adquiriram,
auxiliando os progressos dos outros Espíritos. Essa a sua ocupação, que ao
mesmo tempo é um gozo.”
970. Em que
consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
“São tão
variados como as causas que os determinaram, e proporcionais ao grau de
inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim:
invejarem o que lhes falta para ser felizes e não o obterem; verem a felicidade
e não a poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desesperança quanto ao que os
impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os
gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.”
971. É sempre
boa a influência que os Espíritos exercem uns sobre os outros?
“Sempre boa,
está claro, da parte dos Espírito bons. Os Espíritos perversos, esses procuram
desviar da senda do bem e do arrependimento os que lhes parecem suscetíveis de
se deixarem levar e que são, muitas vezes, os que eles mesmos arrastaram ao mal
durante a vida terrena.”
a) — Assim, a
morte não nos livra da tentação?
“Não, mas a ação
dos maus Espíritos é sempre bem menor sobre os outros Espíritos do que sobre os
homens, porque lhes falta o auxílio das paixões materiais.” (996.)
972. Como
procedem os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos, não podendo jogar
com as paixões?
“As paixões não
existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos atrasados. Os
maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas vítimas aos lugares onde se
lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de tudo o que as possa excitar.”
a) — Mas, de que
servem essas paixões, se já não têm objeto real?
“Nisso
precisamente é que lhes está o suplício: o avarento vê ouro que lhe não é dado
possuir; o devasso, orgias em que não pode tomar parte; o orgulhoso, honras que
lhe causam inveja e de que não pode gozar."
973. Quais os sofrimentos maiores a que os Espíritos maus se veem sujeitos?
“Não há
descrição possível das torturas morais que constituem a punição de certos
crimes. Mesmo o Espírito que as sofre teria dificuldade em vos dar delas uma
ideia. Indubitavelmente, porém, a mais horrível consiste em pensar que está
condenado sem remissão.”
Das penas e
gozos da alma após a morte forma o homem ideia mais ou menos elevada, conforme
o estado de sua inteligência. Quanto mais ele se desenvolve, tanto mais essa
ideia se apura e se escoima da matéria; compreende as coisas de um ponto de
vista mais racional, deixando de tomar ao pé da letra as imagens de uma
linguagem figurada. Ensinando-nos que a alma é um ser todo espiritual, a razão,
mais esclarecida, nos diz, por isso mesmo, que ela não pode ser atingida pelas
impressões que apenas sobre a matéria atuam. Não se segue, porém, daí que
esteja isenta de sofrimentos, nem que não receba o castigo de suas faltas.
(237.)
As comunicações
espíritas têm como resultado mostrar o estado futuro da alma, não mais em
teoria, porém na realidade. Põem-nos diante dos olhos todas as peripécias da
vida de além-túmulo. Ao mesmo tempo, entretanto, no-las mostram como
consequências perfeitamente lógicas da vida terrestre e, embora despojadas do
aparato fantástico que a imaginação dos homens criou, não são menos aflitivas,
para os que fizeram mau uso de suas faculdades. Infinita é a variedade dessas
consequências. Mas, em tese geral, pode-se dizer: cada um é punido por aquilo
em que pecou. Assim é que uns o são pela visão incessante do mal que fizeram;
outros, pelo pesar, pelo temor, pela vergonha, pela dúvida, pelo insulamento,
pelas trevas, pela separação dos entes que lhes são caros, etc.
974. Donde
procede a doutrina do fogo eterno?
“Imagem tomada
como realidade, como tantas outras.”
a) — Mas o temor
desse fogo não produzirá bom resultado?
“Vede se serve
de freio, mesmo entre os que o ensinam. Se ensinardes coisas que mais tarde a
razão venha a repelir, causareis uma impressão que não será duradoura, nem
salutar.”
Impotente para,
na sua linguagem, definir a natureza daqueles sofrimentos, o homem não
encontrou comparação mais enérgica do que a do fogo, pois, para ele, o fogo é o
tipo do mais cruel suplício e o símbolo da ação mais vigorosa. Por isso é que a
crença no fogo eterno data da mais remota antiguidade, tendo-a os povos
modernos herdado dos mais antigos. Por isso também é que o homem diz, em sua
linguagem figurada: o fogo das paixões; abrasar de amor, de ciúme, etc.
975. Os
Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?
“Sim, e isso
lhes é um suplício, porque compreendem que estão dela privados por sua culpa.
Daí resulta que o Espírito, liberto da matéria, aspira à nova vida corporal,
pois que cada existência, se for bem empregada, abrevia um tanto a duração
desse suplício. É então que procede à escolha das provas por meio das quais
possa expiar suas faltas. Porque, ficai sabendo, o Espírito sofre por todo o
mal que praticou, ou de que foi causa voluntária, por todo o bem que teria
podido fazer e não fez, e por todo o mal que decorra de não haver feito o bem.
“Para o Espírito
errante já não há véus. Ele se acha como tendo saído de um nevoeiro e vê o que
o distancia da felicidade. Mais sofre então, porque compreende quanto foi
culpado. Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade.”
Na erraticidade,
o Espírito descortina, de um lado, todas as suas existências passadas; de
outro, o futuro que lhe está prometido e percebe o que lhe falta para
atingi-lo. É qual viajor que chega ao cume de uma montanha: vê o caminho que
percorreu e o que lhe resta percorrer, a fim de chegar ao fim da sua jornada.
976. O
espetáculo dos sofrimentos dos Espíritos inferiores não constitui, para os
bons, uma causa de aflição e, nesse caso, que fica sendo a felicidade deles, se
é assim turbada?
“Não constitui
motivo de aflição, pois que sabem que o mal terá fim. Auxiliam os outros a se
melhorarem e lhes estendem as mãos. Essa a ocupação deles, ocupação que lhes
proporciona gozo quando são bem sucedidos.”
a) — Isto se
concebe da parte de Espíritos estranhos ou indiferentes. Mas o espetáculo das
tristezas e dos sofrimentos daqueles a quem amaram na Terra não lhes perturba a
felicidade?
“Se não vissem
esses sofrimentos, é que eles vos seriam estranhos depois da morte. Ora, a
religião vos diz que as almas vos veem. Mas elas consideram de outro ponto de
vista os vossos sofrimentos. Sabem que estes são úteis ao vosso progresso, se
os suportardes com resignação. Afligem-se, portanto, muito mais com a falta de
ânimo que vos retarda, do que com os sofrimentos considerados em si mesmos,
todos passageiros.”
977. Não podendo
os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos, e sendo conhecidos todos
os atos da vida, dever-se-á concluir que o culpado está perpetuamente em
presença de sua vítima?
“Não pode ser de
outro modo, diz o bom-senso.”
a) — Serão um castigo
para o culpado essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença
constante dos que deles foram vítimas?
“Maior do que se
pensa, mas tão somente até que o culpado tenha expiado suas faltas, quer como
Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas.”
Quando nos achamos no mundo dos Espíritos, estando patente todo o nosso passado, o bem e o mal que houvermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão aquele que haja praticado o mal tentará escapar ao olhar de suas vítimas: a presença inevitável destas lhe será um castigo e um remorso incessante, até que haja expiado seus erros, ao passo que o homem de bem por toda parte só encontrará olhares amigos e benevolentes.
Para o mau, não
há maior tormento, na Terra, do que a presença de suas vítimas, razão pela qual
as evita continuamente. Que será quando, dissipada a ilusão das paixões,
compreender o mal que fez, vir patenteados os seus atos mais secretos,
desmascarada a sua hipocrisia e não puder subtrair-se à visão delas? Enquanto a
alma do homem perverso é presa da vergonha, do pesar e do remorso, a do justo
goza perfeita serenidade.
978. A lembrança
das faltas que a alma, quando imperfeita, tenha cometido, não lhe turba a
felicidade, mesmo depois de se haver purificado?
“Não, porque
resgatou suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submetera para esse
fim.”
979. Não serão,
para a alma, causa de penosa apreensão, que lhe altera a felicidade, as provas
por que ainda tenha de passar para acabar a sua purificação?
“Para a alma
ainda maculada, são. Daí vem que ela não pode gozar de felicidade perfeita,
senão quando esteja completamente pura. Para aquela, porém, que já se elevou,
nada tem de penoso o pensar nas provas que ainda haja de sofrer.”
A alma que
chegou a um certo grau de pureza já experimenta a felicidade. Domina-a um
sentimento de grata satisfação. Sente-se feliz por tudo o que vê, por tudo o
que a cerca. Levantasse-lhe o véu que encobria os mistérios e as maravilhas da
Criação e as perfeições divinas em todo o esplendor lhe aparecem.
980. O laço de
simpatia que une os Espíritos da mesma ordem constitui para eles uma fonte de
felicidade?
“Os Espíritos
entre os quais há recíproca simpatia para o bem encontram na sua união um dos
maiores gozos, visto que não receiam vê-la turbada pelo egoísmo. Formam, no
mundo inteiramente espiritual, famílias pela identidade de sentimentos,
consistindo nisso a felicidade espiritual, do mesmo modo que no vosso mundo vos
grupais em categorias e experimentais certo prazer quando vos achais reunidos.
Na afeição pura e sincera que cada um vota aos outros e de que é por sua vez
objeto, têm eles um manancial de felicidade, porquanto lá não há falsos amigos,
nem hipócritas.”
Das primícias
dessa felicidade goza o homem na Terra, quando se lhe deparam almas com as
quais pode confundir-se numa união pura e santa. Em uma vida mais purificada,
inefável e ilimitado será esse gozo, pois aí ele só encontrará almas
simpáticas, que o egoísmo não tornará frias. Na natureza, tudo é amor: o
egoísmo é que o mata.
981. Com relação ao estado futuro do Espírito, haverá diferença entre um que, em vida, teme a morte e outro que a encara com indiferença e mesmo com alegria?
“Muito grande
pode ser a diferença. Entretanto, apaga-se com frequência em face das causas
determinantes desse temor ou desse desejo. Quer a tema, quer a deseje, pode o
homem ser propelido por sentimentos muito diversos e são estes sentimentos que
influem no estado do Espírito. É evidente, por exemplo, que naquele que deseja
a morte unicamente porque vê nela o termo de suas tribulações há uma espécie de
queixa contra a Providência e contra as provas que lhe cumpre suportar.”
982. Será
necessário que professemos o Espiritismo e creiamos nas manifestações espíritas
para termos assegurada a nossa sorte na vida futura?
“Se assim fosse,
seguir-se-ia que estariam deserdados todos os que não creem, ou que não tiveram
ensejo de esclarecer-se, o que seria absurdo. Só o bem assegura a sorte futura.
Ora, o bem é sempre o bem, qualquer que seja o caminho que a ele conduza.”
(165–799.)
A crença no
Espiritismo ajuda o homem a se melhorar, firmando-lhe as ideias sobre certos
pontos atinentes ao futuro. Apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas,
porque faculta nos inteiremos do que seremos um dia. É um ponto de apoio, uma
luz que nos guia. O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com
paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade,
mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
NATURALEZA DE
LAS PENAS Y GOCES FUTUROS
965. Las penas y
goces del alma después de la muerte, ¿tienen algo de material?
«No pueden ser
materiales, puesto que el alma no es materia; el sentido común lo dice. Esas
penas y goces nada tienen de carnal, y sin embargo, son mil veces más agudas de
las que experimentáis en la tierra, porque el espíritu, una vez desprendido, es
más impresionable. La materia no embota ya sus sensaciones». (237 a 257)
966. ¿Por qué se
forma a menudo el hombre una idea tan grosera y tan absurda de las penas y
goces de la vida futura?
«Inteligencia no
bastante desarrollada aún. ¿Comprende el niflo como el adulto? Por otra parte,
depende también de lo que se le ha enseñado. En esto es donde se hace necesaria
la reforma.
»Vuestro
lenguaje es muy incompleto para expresar lo que está fuera de vosotros; han
sido necesarias comparaciones, y vosotros habéis tomado por realidades esas
imágenes y figuras. Pero a medida que el hombre se ilustra, su pensamiento
comprende las cosas que no puede expresar su lenguaje».
967. ¿En qué
consiste la felicidad de los espíritus buenos?
«En conocer
todas las cosas; en no tener ni odio, ni celos, ni envidia, ni ambición, ni
ninguna de las pasiones que hacen desgraciados a los hombres. El amor que los
une es para ellos origen de suprema felicidad. No experimentan ni las
necesidades, ni los sufrimientos, ni las angustias de la vida material; son
felices por el bien que hacen. Por lo demás, la felicidad de los espíritus es
siempre proporcionada a su elevación. Sólo los espíritus puros gozan de la
felicidad suprema, es cierto; pero todos los otros no son desgraciados. Entre
los malos y los perfectos hay una infinidad de grados en que los goces son
relativos al estado moral. Los que están bastante adelantados comprenden la
felicidad de los que han llegado antes que ellos; aspiran a ella, pero siendo
ésta un objeto de emulación, no celosos. Saben que de ellos depende lograrla y
con este fin trabajan, pero con la tranquilidad de la buena conciencia, y son
felices por no tener que sufrir lo que sufren los malos».
968. Colocáis la
carencia de necesidades materiales en el número de las condiciones de felicidad
de los espíritus; pero la satisfacción de semejantes necesidades, ¿no es para
el hombre origen de goces?
«Sí, los goces
del bruto, y el no poder satisfacerlos es para ti un tormento».
969. ¿Qué debe
entenderse cuando se dice que los espíritus puros están reunidos en el seno de
Dios, y ocupado en cantar sus alabanzas?
«Esa es una
alegoría que pinta la inteligencia que tienen de las perfecciones de Dios,
porque lo ven y lo comprenden; pero que no debe tomarse literalmente como tampoco
muchas otras. Desde el grano de arena, todo canta, es decir, prodama el poder,
la sabiduría y la bondad de Dios; pero no creas que los espíritus
bienaventurados estén en eterna contemplación. Esto sería una dicha estúpida y
monótona, y además la del egoísta, puesto que su existencia sería una
inutilidad sin término. Están libres ya de las tribulaciones de la existencia
corporal, lo cual es un goce, y además, según tenemos dicho, conocen y saben
todas las cosas y aprovechan la inteligencia que han adquirido para favorecer
el progreso de los otros espíritus. Esta es su ocupación y al mismo tiempo un
goce».
970. ¿En qué
consisten los sufrimientos de los espíritus inferiores?
«Son tan
variados como las causas que los han producido, y proporcionados al grado de
inferioridad como los goces lo son al de superioridad. Pueden resumirse así:
Envidiar todo lo que les falta para ser felices sin poder obtenerlo; ver la
dicha sin poder alcanzarla, pesar, celos, rabia y desesperación producidos por
lo que les priva de ser felices; remordimientos y ansiedad moral indefinibles.
Desean todos los goces sin poder satisfacerlos, lo cual los atormenta».
971. ¿Es siempre
buena la influencia que ejercen unos espíritus en otros?
«Buena siempre de parte de los espíritus buenos, no hay que decirlo; pero los espíritus perversos procuran alejar del camino del bien y del arrepentimiento a los que creen susceptibles de dejarse arrastrar, y a quienes, durante la vida, han arrastrado al mal con frecuencia».
-¿De modo que la
muerte no nos libra de la tentación?
«No; pero la
acción de los espíritus malos es mucho menor en los otros espíritus que en los
hombres, porque no tienen por auxiliares a las pasiones materiales». (996)
972. ¿De qué
medio se valen los espíritus malos para tentar a los otros no teniendo el
auxilio de las pasiones?
«Si éstas no
existen matenalmente, existen aún en el pensamiento de los espíritus atrasados.
Los malos fomentan esos pensamientos, arrastrando a sus victimas a los lugares,
donde se les presenta el espectáculo de esas pasiones y de todo lo que puede
excitarías».
-Pero ¿de qué
sirven semejantes pasiones, pues que no tienen otro objeto real?
«Este es
cabalmente su suplicio; el avaro ve oro que no puede poseer; el licencioso
orgías en las que no puede tomar parte, y el orgulloso honores que codicia y no
puede disfrutar».
973. ¿Cuáles son
los mayores sufrimientos que pueden experimentar los espíritus?
«No hay
descripción posible de los tormentos morales con que son castigados ciertos
crímenes. El mismo que los experimenta tendría trabajo en daros una idea de
ellos; pero el más horrible indudablemente es la creencia de estar eternamente
condenado».
El hombre se
forma, según el estado de su inteligencia, una idea más o menos elevada de las
penas y goces del alma después de la muerte. Mientras más se desarrolla la
inteligencia, más se depura y se desmaterializa aquella idea; comprende las
cosas desde un punto de vista más racional, y cesa de tomar literalmente las
imágenes del lenguaje figurado. La razón más ilustrada, demostrándonos que el
alma es un ser del todo espiritual, nos dice, por lo mismo, que no puede ser
afectada por las impresiones que sólo en la materia obran. Mas no se sigue de
aquí que esté exenta de sufrimientos, ni que no reciba castigo por sus faltas.
(237)
Las comunicaciones espiritistas producen el resultado de mostrarnos el estado futuro del alma no como una teoría, sino como una realidad; ponen ante nuestros ojos todas las peripecias de la vida de ultratumba; pero nos las ofrecen también como consecuencias perfectamente lógicas de la vida terrestre, y, aunque desprovistas del aparato fantástico creado por la imaginación de los hombres, no son menos penosas para los que han hecho mal uso de sus facultades. La diversidad de semejantes consecuencias es infinita; pero, en tesis general, puede decirse: cada uno es castigado por donde ha pecado. Así es que unos lo son por la vista incesante del mal que han hecho; otros por los pesares, el temor, la vergüenza, la duda, el alejamiento, las tinieblas, el alejamiento de los seres queridos, etcétera.
974. ¿De dónde
procede la doctrina del fuego eterno?
«Imagen, como
muchas otras, tomada de la realidad».
-¿Pero ese temor
no puede producir buen resultado?
«Mira si
contiene a muchos, aun entre aquellos que lo predican. Si enseñáis cosas que
más tarde rechaza la razón, producís una impresión que no será duradera ni
saludable».
El hombre,
impotente para dar a comprender con su lenguaje la naturaleza de aquellos
sufrimientos, no ha encontrado comparación más enérgica que la del fuego;
porque para él el fuego es el tipo de los más crueles suplicios y el símbolo de
la acción más enérgica. Por esta razón la creencia en el fuego eterno se
remonta a la más alta antigüedad, y los pueblos modernos la han heredado de los
antiguos; por esta razón también dice en su lenguaje figurado: el fuego de las
pasiones, abrasarse de amor, de celos, etcétera.
975. ¿Los
espíritus superiores comprenden la dicha del justo?
«Sí, y esto es
lo que origina su suplicio, porque comprenden que están privados de ella por
culpa suya. Por esto el espíritu, separado de la materia, aspira a una nueva
existencia corporal; porque cada existencia, si la emplea bien, puede abreviar
la duración de aquel suplicio. Entonces es cuando elige las pruebas por cuyo
medio podrá expiar sus faltas; porque, sabedlo bien, el espíritu sufre por todo
el mal que ha hecho, o cuya causa voluntaria ha sido, por todo el bien que
hubiera podido hacer y no hizo, y por todo el mal que resulta del bien que no
ha hecho.
»El espíritu
errante no tiene ya velo, está como fuera de la bruma y ve lo que le aleja de
la dicha, sufriendo entonces más, porque comprende cuán culpable ha sido. Para
él no existe ya ilusión, sino que ve la realidad de las cosas».
El espíritu
errante abarca por una parte, todas sus existencias pasadas, y por otra, ve el
porvenir prometido y comprende lo que le falta para llegar a él. Tal como un
viajero que ha llegado a la cumbre de la montaña, ve el camino recorrido y el
que le falta que recorrer para llegar al término.
976. La
presencia de los espíritus que sufren, ¿no es para los buenos causa de
aflicción, y qué viene entonces a ser su dicha, estando perturbada?
«No es
aflicción, puesto que saben que el mal concluirá; ayudan a los otros a
mejorarse y les tienden la mano. Esta es su ocupación y un goce cuando obtienen
buen resultado».
-Concíbese esto
de los espíritus extraños e indiferentes; pero el espectáculo de los pesares y
sufrimientos de aquellos a quienes han amado en la tierra, ¿no perturba su
dicha?
«Si no
presenciaran esos sufrimientos, sería porque os fueran extraños después de la
muerte. La religión os dice que las almas os ven, pero consideran vuestras
aflicciones desde otro punto de vista, pues saben que esos sufrimientos son
útiles a vuestro progreso, si los soportáis con resignación. Afligense, pues,
más de la falta de valor que os detiene, que de los sufrimientos en si mismos
que sólo son pasajeros».
977. No pudiendo
los espíritus oculta rse recíprocamente sus pensamientos, y siéndoles conocidos
los actos de la vida, ¿parece que el culpable está perpetuamente ante su
víctima?
«No puede ser de
otro modo, el sentido común lo dice».
-La divulgación
de todos nuestros actos reprensibles, y la perpetua presencia de los que de
ellos han sido víctimas, ¿son un castigo para el culpable?
«Más grande de
lo que se cree, pero hasta que haya expiado sus faltas, ya como espíritu, ya
como hombre en nuevas existencias corporales».
Mostrándose a
descubierto todo nuestro pasado, cuando estamos en el mundo de los espíritus,
el bien y el mal que hayamos hecho serán igualmente conocidos. En vano querrá
el que ha hecho mal sustraerse a la mirada de sus victimas: la inevitable
presencia de éstas serán para él un castigo y un remordimiento incesante hasta
que haya expiado sus culpas, al paso que el hombre de bien, por el contrario,
no encontrará por doquiera más que miradas amigas y benévolas.
En la tierra, no
hay mayor tormento para el malvado que la presencia de sus víctimas, y por esto
la evita sin cesar. ¿Qué no ha de ser, pues, cuando, disipada la ilusión de las
pasiones, comprenda el mal que ha hecho, vea descubiertos sus más secretos
actos, desenmascarada su hipocresía y no puede evitar ese espectáculo? Al paso
que el alma del hombre perverso es presa de la vergüenza, del pesar y del
remordimiento, la del lusto goza de perfecta serenidad.
978. El recuerdo
de las faltas que el alma haya podido cometer, cuando era imperfecta, ¿no
perturba su dicha aun después que se ha purificado?
«No, porque ha
redimido sus faltas y salido victoriosa de las pruebas a que con este fin se
había sometido».
979. Las pruebas
que aún se han de sufrir para terminar la purificación, ¿no son para el alma
una amenaza terrible que perturba su dicha?
«Para el alma
impura aún, sí, y por esto no puede disfrutar de un a dicha perfecta; pero para
la que está ya elevada, la idea de las pruebas que le restan por sufrir nada
tiene de penoso».
El alma que ha
llegado ya a cierto grado de pureza participa ya de la dicha; penétrala un
entimiento de dulce satisfacción; es feliz por todo lo que ve y la rodea;
descórrese para ella el velo de los misterios y de las maravillas de la
creación, y las perfecciones divinas se le presentan en todo su esplendor.
980. El lazo simpático que une a los espíritus de un mismo orden, ¿es para ellos origen de felicidad?
«La unión de los
espíritus que simpatizan para el bien es para ellos uno de los mayores goces;
porque no temen ver perturbada esa unión por el egoísmo. Forman, en el mundo
completamente espiritual, familias de un mismo sentimiento, y en esto es en lo
que consiste la dicha espiritual, como en vuestro mundo os agrupáis por
categorías, y disfrutáis de cierto placer cuando os veis reunidos. El afecto
puro y sincero que experimentan y de que son objeto es origen de felicidad,
porque no hay en ella amigos falsos e hipócritas».
El hombre
disfruta de las primicias de esa dicha en la tierra cuando encuentra almas con
las cuales puede confundirse en pura y santa unión. En una vida más purificada
semejante dicha será inefable e ilimitada, porque no encontrará más que almas
simpáticas, a quienes no enfriará el egoísmo: porque todo es amor en la
naturaleza, y quien lo mata es el egoísmo.
981. ¿Hay, en el
estado futuro del espíritu, alguna diferencia entre el que, durante la vida,
temía la muerte, y el que la ve con indiferencia, y hasta con alegría?
«La diferencia
puede ser muy grande; pero desaparece, obstante, ante las causas que engendran
ese temor o ese deseo. Ya se la tema, ya se la desee, puede uno ser movido a
ello por muy diversos sentimientos, y éstos son los que influyen en el estado
del espíritu. Es evidente, por ejemplo, que en el que desea la muerte sólo
porque en ella ve el término de sus tribulaciones, es ese deseo una especie de
murmuración contra la Providencia y contra las pruebas que ha de sufrir».
982. ¿Es preciso
hacer profesión de espiritismo y de creer en las manifestaciones, para asegurar
nuestra suerte en la vida futura?
«Si así fuese,
seguiríase que todos los que en él no creen, o que no han estado en disposición
de ilustrarse sobre el particular, estarían desheredados, lo que es absurdo. El
bien es lo que asegura la suerte venidera, y el bien es siempre bien, cualquiera
que sea el camino que a él conduzca». (165-799)
La creencia en
el espiritismo ayuda a mejorarnos fijando las ideas sobre ciertos puntos del
porvenir; apresura el progreso de los individuos y de las masas, porque nos
permite hacernos cargo de lo que algún día seremos, es un punto de apoyo, una
luz que nos guía. El espiritismo enseña a soportar las pruebas con paciencia y
resignación; aparta de los hechos que pueden retardar la dicha futura, y así es
como a ésta contríbuye; pero no hay que decir que sin él no pueda conseguirse
aquélla.
EL LIBRO DE LOS
ESPÍRITUS – Allan Kardec.
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