sábado, 31 de agosto de 2024
domingo, 25 de agosto de 2024
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
FÉ RACIONADA – Emmanuel.
A tua fé será
racionada, mas não fria.
Guarda-la-ás por
luz na inteligência não para identificar os males que
infelicitam a vida, mas também para remedia-la
tanto quanto possas.
Ouvirás discussões
apaixonadas e por vezes estéreis, em nome da dúvida e da experimentação, da
filosofia e da ciência, no arrazoado daqueles que continuam perguntando e eles
próprios existem e, de outros, colherás o estranho argumento de que tua fé nada
tem a ver com burilamento moral.
Efetivamente, não
desprezarás a indagação digna, reconhecendo que o estudo é imperativo de nossa
marcha em rumo certo, no entanto, conservarás; no teu íntimo a certeza da
própria imortalidade, qual facho inapagável de sol e, conquanto não desconheças
que sublimação não é serviço de apenas um dia, honrarás os teus compromissos,
guardando lealdade à reta consciência na disciplina da palavra empenhada.
Crerás na Vida
Maior, aprimorando a vida menor em que encontras.
Amarás a Deus,
conchegando-te ao próximo, a fim de repartir com ele os dons de que o Senhor te
enriqueceu. Fará de tua fé energia dinâmica a desentranhar-se da oração e da
teoria, na forma de serviço ao próximo.
Aceitarás a
mensagem da sobrevivência a falar-te do amanhã, por
bendita orientação destinada à vivência de
hoje, de modo a que faças melhor, através da convivência com teus irmãos.
À vista disso, a
tua confiança na Divina Providência revelar-se-á consubstanciada no verbo com
que esculpes a doutrina do amor e da verdade, na página iluminativa com que
elevas o pensamento alheio, no auxílio providencial aos que sofrem, no perdão
das ofensas, no esquecimento dos ultrajes ou no pão que divides com os últimos
viajantes nas retaguardas da aflição.
Ser-te-á; ela o
arado precioso para arrotear a gleba do mundo, onde a vida te aguarda as
sementes de progresso e renovação, no poder do trabalho e na força do bem.
Tua fé racionada
constituirá, por fim, a lâmpada que Allan Kardec te
colocou nas mãos, para que a chama da
caridade nela flameja constantemente.
Caminharás com ela
e por ela atingirás a compreensão real dos ensinamentos do Cristo, aprendendo a
servir com Ele, nosso Mestre e Senhor, para que o Reino de Deus se levante no
coração dos homens, construindo a felicidade dos homens para sempre.
Livro: SENDA PARA
DEUS.
Emmanuel / Chico
Xavier.
domingo, 18 de agosto de 2024
sábado, 17 de agosto de 2024
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
domingo, 11 de agosto de 2024
sábado, 10 de agosto de 2024
sexta-feira, 9 de agosto de 2024
CONCLUSÃO / CONCLUSION – (VI a IX) Santo Agostinho / Saint Augustine.
VI
Falsíssima ideia
formaria do Espiritismo quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das
manifestações materiais e que, portanto, obstando-se a tais manifestações, se
lhe terá minado a base. Sua força está na sua filosofia, no apelo que dirige à
razão, ao bom-senso. Na antiguidade, era objeto de estudos misteriosos, que
cuidadosamente se ocultavam do vulgo. Hoje, para ninguém tem segredos. Fala uma
linguagem clara, sem ambiguidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias
suscetíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido, porque
chegados são os tempos de fazer-se que os homens conheçam a verdade. Longe de
se opor à difusão da luz, deseja-a para todo o mundo. Não reclama crença cega;
quer que o homem saiba por que crê. Apoiando-se na razão, será sempre mais
forte do que os que se apoiam no nada. Os obstáculos que tentassem oferecer à
liberdade das manifestações poderiam abafá-las? Não, porque produziriam o
efeito de todas as perseguições: o de excitar a curiosidade e o desejo de conhecer
o que foi proibido. De outro lado, se as manifestações espíritas fossem
privilégio de um único homem, sem dúvida que, segregado esse homem, as
manifestações cessariam. Infelizmente para os seus adversários, elas estão ao
alcance de toda gente e todos a elas recorrem, desde o mais pequenino até o
mais graduado, desde o palácio até a mansarda. Poderão proibir que sejam
obtidas em público. Sabe-se, porém, precisamente que em público não é onde
melhor se dão e sim na intimidade. Ora, podendo todos ser médiuns, quem poderá
impedir que uma família, no seu lar; um indivíduo, no silêncio de seu gabinete;
o prisioneiro, no seu cubículo, entrem em comunicação com os Espíritos, a
despeito dos esbirros e mesmo na presença deles? Se as proibirem num país,
poderão obstar a que se verifiquem nos países vizinhos, no mundo inteiro, uma
vez que nos dois hemisférios não há lugar onde não existam médiuns? Para se
encarcerarem todos os médiuns, seria preciso que se encarcerasse a metade do
gênero humano. Chegassem mesmo, o que não seria mais fácil, a queimar todos os
livros espíritas e no dia seguinte estariam reproduzidos, porque inatacável é a
fonte donde dimanam e porque ninguém pode encarcerar ou queimar os Espíritos,
seus verdadeiros autores.
O Espiritismo não
é obra de um homem. Ninguém pode inculcar-se como seu criador, pois tão antigo
é ele quanto a criação. Encontramo-lo por toda parte, em todas as religiões,
principalmente na religião católica e aí com mais autoridade do que em todas as
outras, porquanto nela se nos depara o princípio de tudo que há nele: os
Espíritos em todos os graus de elevação, suas relações ocultas e ostensivas com
os homens, os anjos guardiães, a reencarnação, a emancipação da alma durante a
vida, a dupla vista, todos os gêneros de manifestações, as aparições e até as
aparições tangíveis. Quanto aos demônios, esses não são senão os maus Espíritos
e, salvo a crença de que aqueles foram destinados a permanecer perpetuamente no
mal, ao passo que a senda do progresso se conserva aberta aos segundos, não há
entre uns e outros mais do que simples diferença de nomes.
Que faz a moderna
ciência espírita? Reúne em corpo de doutrina o que estava esparso: explica, com
os termos próprios, o que só era dito em linguagem alegórica; poda o que a
superstição e a ignorância engendraram, para só deixar o que é real e positivo.
Esse o seu papel; o de fundadora não lhe pertence. Mostra o que existe,
coordena, porém não cria, porque suas bases são de todos os tempos e de todos
os lugares. Quem, pois, ousaria considerar-se bastante forte para abafá-la com
sarcasmos, ou, ainda, com perseguições? Se a prescreverem de um lado, renascerá
noutras partes, no próprio terreno donde a tenham banido, porque ela está na
natureza e ao homem não é dado aniquilar uma potência da natureza, nem opor
veto aos decretos de Deus.
Que interesse, aos
demais, haveria em obstar-se a propagação das ideias espíritas? É exato que
elas se erguem contra os abusos que nascem do orgulho e do egoísmo. Mas, se é
certo que desses abusos há quem aproveite, à coletividade humana eles
prejudicam. A coletividade, portanto, será favorável a tais ideias,
contando-se-lhes por adversários sérios apenas os interessados em manter
aqueles abusos. As ideias espíritas, ao contrário, são um penhor de ordem e
tranquilidade, porque, pela sua influência, os homens se tornam melhores uns
para com os outros, menos ávidos das coisas materiais e mais resignados aos
decretos da Providência.
VII
O Espiritismo se
apresenta sob três aspectos diferentes: o fato das manifestações, os princípios
de filosofia e de moral que delas decorrem e a aplicação desses princípios.
Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos: 1o, os que creem nas
manifestações e se limitam a comprová-las; para esses, o Espiritismo é uma
ciência experimental; 2o, os que lhe percebem as consequências morais; 3o, os
que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. Qualquer que seja o ponto
de vista, científico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenômenos,
todos compreendem constituírem eles uma ordem inteiramente nova de ideias,
cujas consequências não podem deixar de ser uma profunda modificação no estado
da humanidade. Compreendem também que essa modificação se dá exclusivamente no
sentido do bem.
Quanto aos
adversários, também podemos classificá-los em três categorias: 1a, a dos que
negam sistematicamente tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem
conhecimento de causa. A essa classe pertencem todos os que não admitem senão o
que possa ter o testemunho dos sentidos. Nada viram, nada querem ver e ainda
menos aprofundar. Ficariam mesmo aborrecidos se vissem as coisas muito
claramente, porque forçoso lhes seria convir em que não têm razão. Para eles, o
Espiritismo é uma quimera, uma loucura, uma utopia, não existe: está dito tudo.
São os incrédulos de opinião formada. Ao lado desses, podem colocar-se os que
se dignaram dar uma olhada nos fatos, por desencargo de consciência, a fim de
poderem dizer: Quis ver e nada vi. Não compreendem que seja preciso mais de
meia hora para alguém se inteirar de uma ciência. — 2a, a dos que, sabendo
muito bem o que pensar da realidade dos fatos, os combatem, todavia, por
motivos de interesse pessoal. Para estes, o Espiritismo existe, mas lhes
receiam as consequências. Atacam-no como a um inimigo. – 3a, a dos que acham na
moral espírita uma censura por demais severa aos seus atos ou às suas
tendências. Tomado a sério, o Espiritismo os embaraçaria; não o rejeitam, nem o
aprovam: preferem fechar os olhos. Os primeiros são movidos pelo orgulho e pela
presunção; os segundos, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo. Concebe-se
que, nenhuma solidez tendo, essas causas de oposição deverão desaparecer com o
tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a dos que
em patentes provas contrárias se apoiassem, demonstrando estudo laborioso e
porfiado da questão. Todos apenas opõem a negação, nenhum aduz demonstração
séria e irrefutável.
Seria presumir
demais da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por
efeito das ideias espíritas. A ação que estas exercem não é certamente
idêntica, nem do mesmo grau, em todos os que as professam. Qualquer que seja o
caso, porém, o resultado dessa ação, mesmo que fraco, representa sempre uma
melhora. Será, quando menos, o de dar a prova da existência de um mundo
extracorpóreo, o que implica a negação das doutrinas materialistas. Isso é a
própria consequência da observação dos fatos. Porém para os que compreendem o
Espiritismo filosófico, e nele veem outra coisa que não somente fenômenos mais
ou menos curiosos, tem ainda outros efeitos. O primeiro, e mais geral, consiste
em desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista,
olha com indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo
pela morte. Não dizemos o desejo de morrer; longe disso, porquanto o espírita
defenderá sua vida como qualquer outro; mas uma indiferença que o leva a
aceitar, sem queixa, nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de
alegrar do que de temer, pela certeza que tem do estado que se lhe segue. O
segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas
vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto, que,
perdendo a vida terrena três quartas partes da sua importância, o homem não se
aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí, mais coragem nas
aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da ideia de
abreviar os dias da existência, pois a ciência espírita ensina que, pelo
suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro que de
nós mesmos depende tornar feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com
os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema consolação. O
horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo, a que assiste
incessantemente, da vida de além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe é
facultado sondar. O terceiro efeito do Espiritismo é o de estimular no homem a
indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio
egoísta e tudo que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por
conseguinte, de mais difícil de desarraigar. Toda gente faz sacrifícios com
prazer, contanto que nada custem e de nada privem. Para a maioria dos homens, o
dinheiro tem ainda irresistível atrativo, e bem poucos compreendem a palavra
supérfluo quando se trata de si. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade
constitui sinal do mais eminente progresso.
VIII
Perguntam algumas
pessoas: ensinam os Espíritos uma moral nova, alguma coisa superior ao que disse
o Cristo? Se a moral deles não é senão a do Evangelho, de que serve o
Espiritismo? Esse raciocínio se assemelha notavelmente ao do califa Omar, com
relação à biblioteca de Alexandria: “Se ela não contém, dizia ele, mais do que
o que está no Alcorão, é inútil. Logo deve ser queimada. Se contém coisa
diversa, é nociva. Logo, também deve ser queimada.” Não, o Espiritismo não traz
moral diferente da de Jesus. Mas, perguntamos, por nossa vez: antes que viesse
o Cristo, não tinham os homens a lei dada por Deus a Moisés? A doutrina do
Cristo não se acha contida no Decálogo? Dir-se-á, por isso, que a moral de
Jesus era inútil? Perguntaremos, ainda, aos que negam utilidade à moral
espírita: por que tão pouco praticada é a do Cristo? E por que, exatamente os
que com justiça lhe proclamam a sublimidade, são os primeiros a violar-lhe o
preceito capital: o da caridade universal? Os Espíritos vêm não só confirmá-la,
mas também mostrar-nos a sua utilidade prática. Tornam inteligíveis e patentes
verdades que só haviam sido ensinadas sob a forma alegórica. E, juntamente com
a moral, trazem-nos a definição dos mais abstratos problemas da psicologia.
Jesus veio mostrar
aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer
lembrada sua lei que estava esquecida, não haveria Deus de enviar hoje os
Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão,
quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria
pôr limites ao poder de Deus e traçar-lhe normas? Quem nos diz que, como o
afirmam os Espíritos, não estão chegados os tempos preditos, e que não chegamos
aos em que verdades mal compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser
ostensivamente reveladas ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento? Não
haverá alguma coisa de providencial nessas manifestações que se produzem
simultaneamente em todos os pontos do globo? Não é um único homem, um profeta,
quem nos vem instruir; a luz surge de toda parte. É todo um mundo novo que se
desdobra às nossas vistas. Assim como a invenção do microscópio nos revelou o
mundo dos infinitamente pequenos, de que não suspeitávamos; assim como o
telescópio nos revelou milhões de mundos de cuja existência também não
suspeitávamos, as comunicações espíritas nos revelam o mundo invisível que nos
cerca, nos acotovela constantemente e que, à nossa revelia, toma parte em tudo
o que fazemos. Decorrido que seja mais algum tempo, a existência desse mundo,
que nos espera, se tornará tão incontestável como a do mundo microscópico e dos
globos disseminados pelo espaço. Nada, então, valerá o nos terem feito conhecer
um mundo todo; o nos haverem iniciado nos mistérios da vida de além-túmulo? É
exato que essas descobertas, se se lhes pode dar este nome, contrariam algum
tanto certas ideias aceitas. Mas também não ocorre que, igualmente, todas as
grandes descobertas científicas modificaram, e até subverteram, muitas dentre
as mais acreditadas ideias? E o nosso amor-próprio não teve que se curvar
diante da evidência?
O mesmo acontecerá
com relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os
conhecimentos humanos.
As comunicações
com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a vida
futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos
estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar
para o espiritualismo os que no homem somente viam matéria, uma máquina
organizada. Razão, portanto, tivemos para dizer que o Espiritismo, com os
fatos, matou o materialismo. Fosse este o único resultado por ele produzido e
já muita gratidão lhe deveria a ordem social. Ele, porém, faz mais: mostra os
inevitáveis efeitos do mal e, conseguintemente, a necessidade do bem. Muito
maior do que se pensa é, e cresce todos os dias, o número dos que desviou do
mal, daqueles em que melhorou os sentimentos e neutralizou as más tendências. É
que para esses o futuro deixou de ser coisa imprecisa, simples esperança, por
se haver tornado uma verdade que se compreende e explica, quando se veem e
ouvem os que partiram lamentar-se ou felicitar-se pelo que fizeram na Terra.
Quem disso é testemunha põe-se a refletir e sente a necessidade de a si mesmo
se conhecer, julgar e emendar.
IX
Os adversários do
Espiritismo não se esqueceram de armar-se contra ele de algumas divergências de
opiniões sobre certos pontos de doutrina. Não é de admirar que, no início de
uma ciência, quando ainda são incompletas as observações e cada um a considera do
seu ponto de vista, apareçam sistemas contraditórios. Mas já três quartos
desses sistemas caíram diante de um estudo mais aprofundado, a começar pelo que
atribuía todas as comunicações ao Espírito do mal, como se a Deus fora
impossível enviar Espíritos bons aos homens: doutrina absurda, porque os fatos
a desmentem; ímpia, porque importa na negação do poder e da bondade do Criador.
Os Espíritos sempre disseram que nos não inquietássemos com essas divergências
e que a unidade se estabeleceria. Ora, a unidade já se fez quanto à maioria dos
pontos e as divergências tendem cada vez mais a desaparecer. Tendo-se-lhes
perguntado: enquanto se não faz a unidade, sobre que pode o homem imparcial e
desinteressado basear-se para formar juízo?
Eles responderam:
“Nuvem alguma
obscurece a luz verdadeiramente pura; o diamante sem jaça é o que tem mais
valor: julgai, pois, dos Espíritos pela pureza de seus ensinos. Não olvideis
que, entre eles, há os que ainda se não despojaram das ideias que levaram da
vida terrena. Sabei distingui-los pela linguagem de que usam. Julgai-os pelo
conjunto do que vos dizem. Vede se há encadeamento lógico nas suas ideias; se
nestas nada revela ignorância, orgulho ou malevolência; em suma, se suas
palavras trazem todas o cunho de sabedoria que a verdadeira superioridade
manifesta. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, seria perfeito, e longe
disso se acha ele. Ainda estais aprendendo a distinguir do erro a verdade.
Precisais das lições da experiência para exercerdes vosso juízo e para fazer-vos
avançar. A unidade se produzirá do lado em que o bem jamais esteve de mistura
com o mal; desse lado é que os homens se coligarão pela força mesma das coisas,
porquanto reconhecerão que aí é que está a verdade.
“Aliás, que
importam algumas dissidências, mais de forma que de fundo! Notai que os
princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e vos hão de unir num
pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Logo, quaisquer que se
suponham ser o modo de progressão ou as condições normais da existência futura,
o objetivo final é um só: fazer o bem. Ora, não há duas maneiras de fazê-lo.”
Se é certo que,
entre os adeptos do Espiritismo, se contam os que divergem de opinião sobre
alguns pontos da teoria, menos certo não é que todos estão de acordo quanto aos
pontos fundamentais. Há, portanto, unidade, excluídos apenas os que, em número
muito reduzido, ainda não admitem a intervenção dos Espíritos nas
manifestações, atribuindo-as ou a causas puramente físicas, o que é contrário
ao axioma segundo o qual todo efeito inteligente há de ter uma causa
inteligente; ou ainda a um reflexo do nosso próprio pensamento, o que os fatos
desmentem. Os outros pontos são secundários e em nada comprometem as bases
fundamentais. Pode, pois, haver escolas que procurem esclarecer-se acerca das
partes ainda controvertidas da ciência; porém não deve haver seitas rivais umas
das outras. Antagonismo só poderia existir entre os que querem o bem e os que
quisessem ou praticassem o mal. Ora, não há espírita sincero e compenetrado das
grandes máximas morais ensinadas pelos Espíritos que possa querer mal a seu
próximo, nem lhe desejar o mal, independentemente das opiniões dele. Se errônea
for alguma dessas escolas, cedo ou tarde a luz para ela brilhará, se a buscar
de boa-fé e sem prevenções. Enquanto isso não se dá, um laço comum existe que
deve unir a todas num só pensamento: a meta de todas é a mesma. Pouco, por
conseguinte, importa qual seja o caminho, contanto que conduza a essa meta.
Nenhuma escola deve impor-se por meio do constrangimento material ou moral, e
em caminho falso estaria unicamente aquela que lançasse anátema sobre outra,
porque então procederia evidentemente sob a influência de maus Espíritos. O
argumento supremo deve ser a razão. A moderação garantirá melhor a vitória da
verdade do que as diatribes envenenadas pela inveja e pelo ciúme. Os Espíritos
bons só pregam a união e o amor ao próximo, e nunca um pensamento malévolo ou
contrário à caridade pôde provir de fonte pura. Ouçamos sobre este assunto, e
para terminar, os conselhos do Espírito de Santo Agostinho:
“Por bem largo
tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um
Deus de paz e misericórdia, ofendendo-o com semelhante sacrilégio. O
Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a
verdade, onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e
fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência
de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do
mundo? Julgai-as pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os Espíritos
bons foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o
assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede
das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons,
humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e os
prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que lhes indicou para chegarem até
ele.” (Santo Agostinho.)
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
VI
Believing that
Spiritism derives its strength from physical manifestations during meetings and
that debunking those manifestations can bring about its downfall is to
oversimplify this theory. Its strength lies in its philosophy, and particularly
in its appeal to reason and common sense. In ancient times, it was the subject
of secret studies, carefully hidden from society. Today there are no secrets,
and Spiritism is out in the open, without ambiguity, mysticism, or allegories
that would be susceptible to false interpretation. The time has come for the
truth to be told and understood by all. Far from being opposed to enlightenment,
this revelation is intended for all human beings. It does not require blind
acceptance, but urges everyone to take stock of their own beliefs, and as its
teachings are based on reason, it will always be stronger than those that are
based on annihilation.
Can obstacles
intended to stop their production block spirit manifestations? No, because
these efforts only excite curiosity and the desire to study a forbidden
subject. If spirit manifestations were the privilege of a single individual,
they could easily be ended by simply preventing that person’s actions.
Unfortunately, for our adversaries, the production of these manifestations is
an inherent capability of every single member of society, from the poor to the
rich, from the greatest to the least and from the mansion to the hovel. The
prohibition of their performance in public would have little effect, as they
are most successfully produced in private anyway. Since anyone may be a medium,
how would it be possible to prevent a family in the privacy of their own home,
people in the silence of their own rooms, or even a prisoner in a cell, from
communicating with the spirits, in the very presence of those who try to
prevent them from doing so? If mediums were forbidden to exercise their
abilities in one country, how could they be stopped from practicing it
somewhere else in the world, since mediums exist in every nation on Earth? Half
the human race would need to be incarcerated in order to have any chance at
silencing all mediums. Even if it were possible to burn all the Spiritist books
in existence, they would immediately be reproduced because their source is
beyond the reach of attack, and it is impossible to imprison or burn the spirits
who are their real authors.
Spiritism is not
the work of one single individual; it is as old as creation itself. It is found
everywhere, in all religions, and even more so in Catholicism than in others.
The Catholic religion contains everything that constitutes Spiritism: the
existence of spirits of varying degrees, their secret and open relationships
with people, guardian angels, reincarnation, and the emancipation of the soul
during sleep, second sight, visions, and manifestations of every kind,
apparitions, even including tangible apparitions. As for demons, they are
nothing more than bad spirits. With the exception of the belief that the former
are doomed to wrongdoing forever, as the path of progress is never closed to
anyone, the only difference that exists is in terminology.
What does modern
Spiritism accomplish? It makes a whole of what has been scattered about in
pieces by explaining, in clear an precise terms what has been, up until now,
shrouded in allegory. It eliminates the products of superstition and ignorance
created by people, leaving only reality intact. This is its mission, of which
there is no founder. It highlights and coordinates what already exists, but
creates nothing new because its elements belong to every country and every age.
Who can fatter themselves by believing that they are strong enough to stifle it
by ridicule or persecution? If it were possible to destroy it in one place, it
would simply reappear in another or even in the exact same spot from which it
was banished. It exists in nature, and no one can obliterate a power of nature,
or veto God’s will.
What interest
could anyone possibly have in opposing Spiritism? These ideas are an objection
against the cruelty and mistreatment that spring from pride and selfishness,
which are profitable to the few and harmful to many. Therefore, Spiritism would
have the masses on its side, while its challengers would be those who support
the abuse it opposes. By their influence, these ideas make people more
compassionate towards one another, less greedy for material possessions, and
more submissive to God’s designs. It guarantees order and tranquility.
VII
Spiritism presents
three different aspects, namely, spirit manifestations, the philosophic and
moral principles deduced from these events, and the application of these
principles. Its adherents are divided into three classes or three degrees of
advancement. First, there are those who believe in the authenticity of the
spirit manifestations, and validate them as an experimental science. Second,
there are those who understand its moral bearings. Lastly, there are those who
practice, or at least try to practice, its moral code. Regardless of the
perspective, whether experimental, scientific, or moral, every one perceives
that they support an entirely different order of ideas, which must produce
profound modifications in the state of the humankind. Everyone also realizes
that these modifications can only be for good.
As for our
adversaries, they may also be grouped into three categories. First, there are
those who automatically deny whatever is new or whatever they do not initiate,
and who speak without knowing what they are talking about. Everyone who refuses
to admit anything beyond the scope of their senses belongs to this group. They
do not see anything, do not want to see anything, and are even more unwilling
to delve into anything. These individuals are in fact, unwilling to see too
clearly, for fear of being forced to admit that they are mistaken. For them,
Spiritism is highly improbable, insane, utopian, and does not exist, period.
They are willfully incredulous. In this group we may also include those who
have glanced at the subject, merely to say, “I tried, but I was not able to
find any merit here” and who do not seem to be aware that half an hour is not
enough time to learn a new field of science. Second, there are those who,
although perfectly aware of the legitimacy of the phenomena, oppose it out of
self-interested motives. They know that Spiritism is true, but they attack it
because they fear its consequences. Third, there are those who find the moral
rules of Spiritism to be an extremely severe condemnation of their actions and
habits. Seriously acknowledging Spiritism is an inconvenience they neither
reject nor accept it, but prefer to close their eyes to it. The first class is
swayed by pride and conjecture; the second by ambition; the third by
selfishness. This opposition disappears over time. We should then seek a fourth
class of antagonists, those who base their antagonism on a careful and thorough
examination, providing positive and irrefutable evidence of its falsehood.
It is too much to
expect of human nature that it can be changed suddenly by Spiritist ideas.
Undoubtedly, the actions are not the same, or equally powerful, in people who
support these ideas. Nevertheless, their result, however slight it may be, is
always beneficial, if only by proving the existence of an extra-corporeal
world, and disproving the opposing materialistic doctrines. Mere observation of
Spiritist phenomena can yield the same result. However, it produces other
effects in people who understand its philosophy and see something more than
curious phenomena. The first and most common is the development of religious
notions, even in those who are indifferent to spiritual things, and even if
they are not materialists. This sentiment leads to a disregard for death – not
a desire for death because a Spiritist defends his or her life like anyone
else. It is an indifference that causes the person to accept death, when
inevitable, with resignation and without regret, as something to be welcomed
rather than feared, due to the belief in life after death. The second effect is
acceptance of the vicissitudes of life. Spiritism leads us to consider issues
from such an elevated perspective that the significance of physical life
lessens proportionally, and we are less painfully affected by its trials and
tribulations. The consequence is that we have more courage when we face
adversity, more moderation in our desires, and a more strongly rooted disgust
for the idea of shortening our lives. Spiritism teaches that suicide always
results in the loss of what we hoped to obtain. The certainty that there is a
future life, that it correlates directly with our deeds and the possibility of
meeting loved ones in the afterlife gives Spiritists solace. Likewise, a continual
observance of life beyond the grave and understanding of what has been a
mystery up to now amplifies one’s horizons infinitely. The third effect is to
encourage indulgence and understanding for the flaws of others. However, it
must be admitted that selfishness is one of the most persistent human traits
and more difficult to uproot than others. We are willing to make sacrifices if
they cost nothing, and provided that they impose no deprivation. Money
exercises an irresistible attraction and very few understand the word luxury
when it relates to themselves. Thus, the renunciation of the self is the most
eminent sign of progress.
VIII
Some ask whether
spirits teach us anything new in relation to morality, anything greater than
what Christ taught. If the Spiritist moral code is none other than that of the
Scriptures, does it serve any purpose? This method of reasoning is like that of
Caliph Omar, in speaking of the Library of Alexandria, “If,” he said, “it
contains only what is found in the Quran, it is useless, and in that case it
must be burned. If it contains anything that is not found in the Quran, it is
bad, and in that case, it also must be burned.” No, Spiritism does not preach a
moral code that is different from that of Jesus. In turn, haven’t the law of
God already been given by Moses to humanity before the time of Christ? Is the
doctrine embodied by the Ten Commandments not the same as Christ’s? Has it ever
been proposed that Jesus’ moral teachings are useless because of this? To those
who deny the usefulness of Spiritism, we ask the following question: why it is
that Christ’s moral teachings are so rarely practiced, and why is it that those
who rightly praise their value are the first to violate his paramount law of
universal charity? Not only do the spirits now confirm it, but they also show
us its practical utility. They make clear and intelligible the truths that were
previously taught as allegories, and alongside with the eternal truths of
morality they also provide us with the solution to the most abstract
psychological problems.
Jesus came to show
humanity the road to true goodness. Since God sent him to remind human beings
of the Divine law they had forgotten, why should God not send spirits to remind
them again, with greater precision, now that they are forgetting it because
they have sacrificed everything for pride and greed? Who would dare to take it
upon oneself to limit God’s power, or to dictate Divine ways? Who can say that
the appointed time has not arrived, as declared by the spirits, when previously
unknown or misunderstood truths must be openly made known to hasten humanity’s
advancement? Isn’t there something evidently Divine in the fact that spirit
manifestations are occurring in every corner of the globe? It is not the case that
a single person or prophet comes to enlighten us, but instead, it is the case
that light is breaking all around and a new world is being unfurled right
before our eyes. In the same manner that the invention of the microscope
revealed an infinitely small world, the existence of which was unsuspected
until then. Similarly, the telescope revealed thousands of worlds, the
existence of which we never suspected, spirit communications today are
revealing the existence of an invisible world surrounding us. A world that is
incessantly in contact with us and that takes part in everything we do,
completely unbeknownst to us. Soon the existence of that world, which is the
ultimate destiny for all of us, will be as indisputable as the existence of
both the microscopic world and the infinity of the universe. Is the revelation
of a new world worth nothing? Is the introduction of the mysteries of life
beyond the grave worthless? Granted, it is also true that these revelations, if
they can be called such, conflict with certain established notions that we had,
but haven’t all great scientific discoveries changed and even rescinded ideas
that were fully accepted worldwide? Were our pride not forced to yield to
evidence? The same will happen with Spiritism, which will soon assume its place
among the other branches of human knowledge.
Our communications
with the beings from the world beyond the grave enables us to see and
understand our future life. They gives us a taste of both the joys and sorrows
that await us depending on our merits, and brings Spiritualism back to those
who had reduced humanity to the status of an organized machine. We are
therefore justified in asserting that the facts of Spiritism have effectively
killed materialism. Had Spiritism done nothing more than this, it would be
entitled to recognition, but it has done much more because it has shown the
inevitable results of wrongdoings, and, consequently, the necessity of
goodness. The number of people Spiritism has brought back to a propensity of
goodness, whose bad inclinations were neutralized, and whom it has turned away
from wrongdoing, is already larger than assumed, and continues to grow every
day. The future is a fact, the reality of which is felt and understood when we
see and hear those who have left us mourning or celebrating what they did when
they were on Earth. It is no longer vague or a mere hope. Everyone who
witnesses these communications begins to reflect and feel the need for
self-examination, self-judgment and self-improvement.
IX
Opponents of
Spiritism have used the differences of opinions among Spiritists, on certain
doctrinal points, as weapons against it. It is not surprising that, at the
beginning of a new science when the preliminary observations are still
incomplete, the subject is analyzed from different perspectives, and that
contradictory theories are then put forward. Nonetheless, a thorough study of
the facts in question has already deflated three fourths of such theories,
starting with that which attributes all spirit communications to bad spirits,
as though it were impossible for God to send good spirits. This theory is
absurd because it contradicts the facts, and blasphemous because it denies
God’s power and goodness. The spirits have always advised us not to worry about
the differences of opinion existing among Spiritists, assuring us that harmony
will eventually reign. Now, we see that this harmony, with respect to most of
the points at issue, has already been established and that the remaining
conflicting opinions are disappearing day by day. To the question, “While
awaiting the establishment of harmony, upon what basis can an impartial and
fair-minded individual form an opinion regarding the relative merits of the
various theories suggested by the spirits?” The following reply was given:
“The purest light
is not obscured by any cloud; the most precious diamond is the one that is
flawless. Judge the spirits based on the purity of their teachings. Do not
forget that there are many who have not yet freed themselves from their earthly
ideas. Learn to distinguish them by their language; judge them by the sum total
of what they say; see whether there is a logical sequence in their ideas;
verify that nothing betrays ignorance, pride or malice. Ultimately, if their
communications always bear the stamp of wisdom it is proof of true superiority.
If errors did not exist in your world, it would be perfect, but it is far from
being so. You still have to learn to distinguish error from truth and need
experience to exercise your judgment in order to advance. Harmony is achieved
when good is not mixed with iniquity and when people rally spontaneously to
that principle, because they consider it to be the truth.
Moreover, never mind a few dissidents whose objections are more in form than in depth. Observe that the fundamental principles are the same everywhere, and should unite you all in a common bond: the love of God and the practice of goodness. Regardless of the method of progression and the normal conditions of your future existence, the ultimate goal is still the same: to do right, and there are not two ways of doing it.”
There may be
differences of opinion among Spiritists about a few theoretical points.
However, all of them agree on the fundamentals principles. Harmony already
exists among them, with the exception of a very small number of people who do
not yet admit the participation of spirits in the manifestations. They
attribute them to either purely physical causes, which contradicts a
fundamental Spiritist assertion that, ‘Every intelligent effect must have an
intelligent cause,’or to the refection of our own thought, which is disproved
by the facts. The other points are merely secondary and have nothing to do with
the essential core. So there may be schools that seek to illuminate the still
controversial parts of science, but there must not be rival sects. Opposition
should only exist between those who desire good, and those who desire or do
bad. A person who sincerely adopts the moral principles established by
Spiritism can neither desire wickedness nor wish ill upon his or her neighbor,
regardless of opinion. If any school of thought is wrong, enlightenment will
come soon enough if its practitioners want it honestly without clutching to
preconceived notions. In the meantime, everyone has a common bond that should
unite all in the same sentiment. They all have a common goal, and the road
traveled is irrelevant, provided it leads to the same destination. No one
should attempt to force their opinion upon others, whether pertaining to physical
or moral constraints, and anyone who would hurl insults or curses at another
would clearly be in the wrong, obviously acting under the influence of bad
spirits. Reason is the best argument, and moderation does more to ensure the
triumph of the truth than attacks tainted by envy and jealousy. Good spirits
exhort us to strive to live in harmony and to learn to love our neighbor, and
nothing malicious or uncharitable can ever come from a pure source. In this
regard and as a fitting conclusion to this book, we share the following words
from the spirit of Saint Augustine:
“Human beings have
torn one another to shreds for long enough, cursing each other in the name of a
peaceful and merciful God, whom they insult by committing such a sacrilege.
Spiritism is the link that will one day form a bond between them, by showing what
is truth and what is error. However, there will still be scribes and Pharisees
who will reject it for a very long time, exactly as they rejected Christ. Would
you like to know what spirits influence the various groups dividing 382 Allan
Kardec - The Spirits’ Book the current inhabitants of this world? Judge them by
their deeds and principles. Good spirits never incite evil. They never advise
or condone murder and violence. They never stimulate hatred, thirst for wealth
and honors, or greed for earthly possessions. Those who are kind, humane and
compassionate to all are not only friends of good spirits, but Jesus as well
because they are following the road that he has shown will lead to him.” —
Saint Augustine.
The Spirits’ Book –
Allan Kardec.
terça-feira, 6 de agosto de 2024
domingo, 4 de agosto de 2024
A mulher e a ressurreição
A mulher e a
ressurreição
1 As águas alegres
do Tiberíades ( † ) se aquietavam, de manso, como tocadas por uma força
invisível da natureza, quando a barca de Simão, conduzindo o Senhor, atingiu
docemente a praia.
O velho apóstolo,
abandonando os remos, deixava transparecer nos traços fisionômicos as emoções
contraditórias de sua alma, enquanto Jesus o observava, adivinhando-lhe os
pensamentos mais recônditos.
— Que tens tu,
Simão? — Perguntou o Mestre, com o seu olhar penetrante e amigo.
2 Surpreendido com
a palavra do Senhor, o velho Cephas deu, por um gesto, a perceber os seus
receios e as suas apreensões, como se encontrasse dificuldade em esquecer
totalmente a lei antiga, para penetrar os umbrais da ideia nova, no seu caminho
largo de amor, de luz e de esperança.
— Mestre, —
respondeu com timidez, — a lei que nos rege manda lapidar a mulher que perverteu
a sua existência. ( † )
3 Conhecendo, por
antecipação, o pensamento do pescador e observando os seus escrúpulos em lhe
atirar uma leve advertência, Jesus lhe respondeu com brandura:
— Quase sempre,
Simão, não é a mulher que se perverte a si mesma; é o homem que lhe destrói a
vida.
4 — Entretanto, —
tornou o apóstolo, respeitosamente, — os nossos legisladores sempre ordenaram
severidade e rispidez para com as decaídas. Observando os nossos costumes,
Senhor, é que temo por vós, acolhendo tantas meretrizes e mulheres de má vida,
nas pregações do Tiberíades…
— Nada temas por
mim, Simão, porque eu venho de meu Pai e não devo ter outra vontade, a não ser
a de cumprir os seus desígnios sábios e misericordiosos.
5 Assim falou o
Mestre, cheio de bondade, e, espraiando o olhar compassivo sobre as águas,
levemente encrespadas pelo beijo dos ventos do crepúsculo, continuou, num misto
de energia e doçura:
— Mas, ouve,
Pedro! A lei antiga manda apedrejar a mulher que foi pervertida e desamparada
pelos homens; entretanto, também determina que amemos os nossos semelhantes,
como a nós mesmos. ( † ) E o meu ensino é o cumprimento da lei, pelo amor mais
sublime sobre a Terra. Poderíamos culpar a fonte, quando um animal lhe polui as
águas? De acordo com a lei, devemos amar a uma e a outro, seja pela expressão
de sua ignorância, seja pela de seus sofrimentos. E o homem é sempre fraco e a
mulher sempre sofredora!…
6 O velho pescador
recebia a exortação com um brilho novo nos olhos, como se fora tocado nas
fibras mais íntimas do seu espírito.
— Mestre, —
retrucou, altamente surpreendido, — vossa palavra é a da revelação divina.
Quereis dizer, então, que a mulher é superior ao homem, na sua missão
terrestre?
— Uma e outro são
iguais perante Deus, — esclareceu o Cristo, amorosamente, — e as tarefas de
ambos se equilibram no caminho da vida, completando-se perfeitamente, para que
haja, em todas as ocasiões, o mais santo respeito mútuo. 7 Precisamos
considerar, todavia, que a mulher recebeu a sagrada missão da vida. Tendo
avançado mais do que o seu companheiro na estrada do sentimento, está, por
isso, mais perto de Deus que, muitas vezes, lhe toma o coração por instrumento
de suas mensagens, cheias de sabedoria e de misericórdia. 8 Em todas as
realizações humanas, há sempre o traço da ternura feminina, levantando obras
imperecíveis na edificação dos Espíritos. Na história dos homens, ficam somente
os nomes dos políticos, dos filósofos e dos generais; mas, todos eles são
filhos da grande heroína que passa, no silêncio, desconhecida de todos, muita
vez dilacerada nos seus sentimentos mais íntimos ou exterminada nos sacrifícios
mais pungentes. Mas, também Deus, Simão, passa ignorado em todas as realizações
do progresso humano e nós sabemos que o ruído é próprio dos homens, enquanto
que o silêncio é de Deus, síntese de toda a verdade e de todo o amor.
9 Por isso, as mulheres
mais desventuradas ainda possuem no coração o gérmen divino, para a redenção da
humanidade inteira. Seu sentimento de ternura e humildade será, em todos os
tempos, o grande roteiro para a iluminação do mundo, porque, sem o tesouro do
sentimento, todas as obras da razão humana podem perecer como um castelo de
falsos esplendores.
10 Simão Pedro
ouvia o seu Mestre, tomado de profundo enlevo e santificado fervor admirativo.
— Tendes razão,
Senhor! — Murmurou, entre humilde e satisfeito.
— Sim, Pedro,
temos razão, — replicou Jesus, com bondade. — E será ainda à mulher que
buscaremos confiar a missão mais sublime na construção evangélica, dentro dos
corações, no supremo esforço de iluminar o mundo.
11 O apóstolo do
Tiberíades ouvira as derradeiras palavras do Divino Mestre, tomado de surpresa.
Conservou-se, no entanto, em silêncio, ante o sorriso doce do Messias.
Muito distante, o
último beijo do Sol punha um reflexo dourado no leque móvel das águas que as
correntes claras do Jordão ( † ) enriqueciam. Simão Pedro, fatigado do labor
diário, preparou-se para descansar, com sua alma clareada pelas novas
revelações da palavra do Senhor, as quais, cheias de luz e de esperança
divinas, dissipavam as obscuridades da lei de Moisés.
12 Dois dias tinham
passado sobre o doloroso drama do Calvário, em cuja cruz de inominável martírio
se sacrificara o Mestre, pelo bem de todos os homens. Penosa situação de dúvida
reinava dentro da pequena comunidade dos discípulos. Quase todos haviam
vacilado na hora extrema. O raciocínio frágil do homem lutava por compreender a
finalidade daquele sacrifício. Não era Jesus o poderoso Filho de Deus que
consolara os tristes, ressuscitara mortos, sarara enfermos de doenças
incuráveis? Por que não conjurara a traição de Judas com as suas forças
sobrenaturais? Por que se humilhara assim, sangrando de dor, nas ruas de
Jerusalém, ( † ) submetendo-se ao ridículo e à zombaria? Então, o emissário do
Pai Celestial deveria ser crucificado entre dois ladrões?!
13 Enquanto essas
questões eram examinadas, de boca em boca, a lembrança do Messias ficava
relegada a plano inferior, olvidada a sua exemplificação e a grandeza dos seus
ensinamentos. O barco da fé não soçobrara inteiramente, porque ali estavam as
lágrimas do coração materno, trespassado de amarguras.
14 O Messias
redivivo, porém, observava a incompreensão de seus discípulos, como o pastor
que contempla o seu rebanho desarvorado. Desejava fazer ouvida a sua palavra
divina, dentro dos corações atormentados; mas, só a fé ardente e o ardente amor
conseguem vencer os abismos de sombra entre a Terra e o Céu. E todos os
companheiros se deixavam abater pelas ideias negativas.
15 Foi então,
quando, na manhã do terceiro dia, a ex-pecadora de Magdala se acercou do
sepulcro com perfumes e flores. ( † ) Queria, ainda uma vez, aromatizar aquelas
mãos inertes e frias; ainda uma vez, queria contemplar o Mestre adorado, para
cobri-lo com o pranto do seu amor purificado e ardoroso. No seu coração estava
aquela fé radiosa e pura que o Senhor lhe ensinara e, sobretudo, aquela
dedicação divina, com que pudera renunciar a todas as paixões que a seduziam no
mundo. Maria Magdalena ia ao túmulo com amor e só o amor pode realizar os
milagres supremos.
16 Estupefata, por
não encontrar o corpo [do] bem amado, já se retirava entristecida, para dar
ciência do que verificara aos companheiros, quando uma voz carinhosa e meiga
exclamou brandamente aos seus ouvidos:
— Maria!…
17 Ela se supôs
admoestada pelo jardineiro; mas, em breves instantes reconhecia a voz inesquecível
do Mestre e lhe contemplava o inolvidável sorriso. Quis atirar-se-lhe aos pés,
beijar-lhe as mãos num suave transporte de afetos, como fazia nas pregações do
Tiberíades; porém, com um gesto de soberana ternura, Jesus a afastou,
esclarecendo:
— Não me toques,
pois ainda não fui a meu Pai que está nos Céus!… ( † )
18
Instintivamente, a Magdalena se ajoelhou e recebeu o olhar do Mestre, num
transbordamento de lágrimas de inexcedível ventura. Era a promessa de Jesus que
se cumpria. A realidade da ressurreição era a essência divina, que manteria
eternidade ao Cristianismo.
A mensagem da
alegria ressoou, então, na comunidade inteira. Jesus ressuscitara! O Evangelho
era a verdade imutável. Em todos os corações pairava uma divina embriaguez de
luz e júbilos celestiais. Levantava-se a fé, renovava-se o amor, morrera a
dúvida e reerguera-se o ânimo em todos os espíritos. Na amplitude da vibração
amorosa, outros olhos puderam vê-lo e outros ouvidos lhe escutaram a voz
dulçorosa e persuasiva, como nos dias gloriosos de Jerusalém ou de Cafarnaum.
19 Desde essa
hora, a família cristã se movimentou no mundo, para nunca mais esquecer o
exemplo do Messias. A luz da ressurreição, através da fé ardente e do ardente
amor de Maria Magdalena, havia banhado de claridade imensa a estrada cristã, para
todos os séculos terrestres.
20 É por isso que
todos os historiadores das origens do Cristianismo param a pena, assombrados
ante a fé profunda dos primeiros discípulos que se dispersaram pelo deserto das
grandes cidades para pregação da Boa Nova, e, observando a confiança serena de todos
os mártires que se têm sacrificado na esteira infinita do Tempo pela ideia de
Jesus, perguntam espantados, como Ernest Renan, ( † ) numa de suas obras: n
— Onde está o
sábio da Terra que já deu ao mundo tanta alegria, como a carinhosa Maria de
Magdala?
Humberto de Campos
- (Irmão X) / Chico Xavier.
Livro: Boa Nova.
[1] Histoire des
origines du christianisme, par Ernest Renan: Les Apôtres, Volume 2. — Google
Books.
CONCLUSÃO / CONCLUSION – (I a V) Santo Agostinho / Saint Augustine.
CONCLUSÃO / CONCLUSION – (I a V) Santo
Agostinho / Saint Augustine.
I
Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do ímã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do universo e da marcha dos mundos. O mesmo se dá com quem, do Espiritismo, apenas conhece o movimento das mesas, no qual só vê um divertimento, um passatempo, sem compreender que esse fenômeno tão simples e vulgar, que a antiguidade e até povos semisselvagens conheceram, possa ter ligação com as mais graves questões da ordem social. Efetivamente, para o observador superficial, que relação pode ter com a moral e o futuro da humanidade uma mesa que se move? Quem quer, porém, que reflita se lembrará de que de uma simples panela a ferver e cuja tampa se erguia continuamente, fato que também ocorre desde toda a antiguidade, saiu o possante motor com que o homem transpõe o espaço e suprime as distâncias. Pois bem: Ficai sabendo, vós que não credes senão no que pertence ao mundo material, que dessa mesa, que gira e vos faz sorrir desdenhosamente, saiu toda uma ciência, assim como a solução dos problemas que nenhuma filosofia pudera ainda resolver. Apelo para todos os adversários de boa-fé e os adjuro a que digam se se deram ao trabalho de estudar o que criticam. Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério. Certamente que, se houvéssemos apresentado esta filosofia como obra de um cérebro humano, menos desdenhoso tratamento encontraria e teria merecido as honras do exame dos que pretendem dirigir a opinião. Vem ela, porém, dos Espíritos. Que absurdo! Mal lhe dispensam um simples olhar. Julgam-na pelo título, como o macaco da fábula julgava da noz pela casca. Fazei, se quiserdes, abstração da sua origem. Suponde que este livro é obra de um homem e dizei, do íntimo e em consciência, se, depois de o terdes lido seriamente, achais nele matéria para zombaria.
II
O Espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo. Não é, pois, de admirar que tenha por adversários os materialistas. Mas como o materialismo é uma doutrina cujos adeptos mal ousam confessar que o são (prova de que não se consideram muito fortes e têm a dominá-los a consciência), eles se acobertam com o manto da razão e da Ciência. E, coisa estranha, os mais céticos chegam a falar em nome da religião, que não conhecem e não compreendem melhor que ao Espiritismo. Por ponto de mira tomam o maravilhoso e o sobrenatural, que não admitem. Ora, dizem, pois que o Espiritismo se funda no maravilhoso, não pode deixar de ser uma suposição ridícula. Não refletem que, condenando, sem restrições, o maravilhoso e o sobrenatural, também condenam a religião. Com efeito, a religião se funda na revelação e nos milagres. Ora, que é a revelação, senão um conjunto de comunicações extra-humanas? Todos os autores sagrados, desde Moisés, têm falado dessa espécie de comunicações. Que são os milagres, senão fatos maravilhosos e sobrenaturais, por excelência, visto que, no sentido litúrgico, constituem derrogações das leis da natureza? Logo, rejeitando o maravilhoso e o sobrenatural, eles rejeitam as bases mesmas da religião. Não é deste ponto de vista, porém, que devemos encarar a questão. Ao Espiritismo não compete examinar se há ou não milagres, isto é, se em certos casos pode Deus derrogar as leis eternas que regem o Universo. Permite, a este respeito, inteira liberdade de crença. Diz e prova que os fenômenos em que se baseia, de sobrenaturais só têm a aparência. E parecem tais a algumas pessoas, apenas porque são insólitos e diferentes dos fatos conhecidos. Não são, contudo, mais sobrenaturais do que todos os fenômenos cuja explicação a Ciência hoje dá e que pareceram maravilhosos noutra época. Todos os fenômenos espíritas, sem exceção, resultam de leis gerais. Revelam-nos uma das potências da natureza, potência desconhecida, ou, por melhor dizer, incompreendida até agora, mas que a observação demonstra estar na ordem das coisas. Assim, pois, o Espiritismo se apoia menos no maravilhoso e no sobrenatural do que a própria religião. Conseguintemente, os que o atacam por esse lado mostram que o não conhecem e, ainda quando fossem os maiores cientistas, lhes diríamos: se a vossa ciência, que vos instruiu em tantas coisas, não vos ensinou que o domínio da natureza é infinito, não passais de cientistas pela metade.
III
Dizeis que desejais
curar o vosso século de uma mania que ameaça invadir o mundo. Preferiríeis que
o mundo fosse invadido pela incredulidade que procurais propagar? A que se deve
atribuir o relaxamento dos laços de família e a maior parte das desordens que
minam a sociedade, senão à ausência de toda crença? Demonstrando a existência e
a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a fé no futuro, levanta os ânimos
abatidos, faz suportar com resignação as vicissitudes da vida. Ousaríeis chamar
a isto um mal? Duas doutrinas se defrontam: uma, que nega o futuro; outra, que
lhe proclama e prova a existência; uma, que nada explica, outra, que explica
tudo e que, por isso mesmo, se dirige à razão; uma, que é a sanção do egoísmo;
outra, que oferece base à justiça, à caridade e ao amor do próximo. A primeira
somente mostra o presente e aniquila toda esperança; a segunda consola e
desvenda o vasto campo do futuro. Qual a mais perniciosa?
Algumas pessoas,
dentre as mais céticas, se fazem apóstolos da fraternidade e do progresso. A fraternidade,
porém, pressupõe desinteresse, abnegação da personalidade. Onde há verdadeira
fraternidade, o orgulho é uma anomalia. Com que direito impondes um sacrifício
àquele a quem dizeis que, com a morte, tudo se lhe acabará; que amanhã, talvez,
ele não será mais do que uma velha máquina desmantelada e atirada ao monturo?
Que razões terá ele para impor a si mesmo uma privação qualquer? Não será mais
natural que trate de viver o melhor possível, durante os breves instantes que
lhe concedeis? Daí o desejo de possuir muito para melhor gozar. Do desejo nasce
a inveja dos que possuem mais e, dessa inveja à vontade de apoderar-se do que a
estes pertence, o passo é curto. Que é que o detém? A lei? A lei, porém, não
abrange todos os casos. Direis que a consciência, o sentimento do dever. Mas em
que baseais o sentimento do dever? Terá razão de ser esse sentimento, com a
crença de que tudo se acaba com a vida? Onde essa crença exista, uma só máxima
é racional: cada um por si, não passando de vãs palavras as ideias de
fraternidade, de consciência, de dever, de humanidade, mesmo de progresso. Oh!
Vós que proclamais semelhantes doutrinas, não sabeis quão grande é o mal que
fazeis à sociedade, nem de quantos crimes assumis a responsabilidade! Mas por
que falo de responsabilidade? Para o cético, tal coisa não existe; só à matéria
rende ele homenagem.
IV
O progresso da
humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de
caridade, lei que se funda na certeza do futuro. Tirai-lhe essa certeza e lhe tirareis
a pedra fundamental. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra
todas as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da
sociedade. Comparando as idades e os povos, pode ele avaliar quanto a sua
condição melhora, à medida que essa lei vai sendo mais bem compreendida e
praticada. Ora, se aplicando-a parcial e incompletamente aufere o homem tanto
bem, que não conseguirá quando fizer dela a base de todas as suas instituições
sociais! Será isso possível? Certo, porquanto, desde que ele já deu dez passos,
possível lhe é dar vinte e assim por diante. Do futuro se pode, pois, julgar
pelo passado. Já vemos que pouco a pouco se extinguem as antipatias de povo
para povo. Diante da civilização, diminuem as barreiras que os separavam. De um
extremo a outro do mundo, eles se estendem as mãos. Maior justiça preside à
elaboração das leis internacionais. As guerras se tornam cada vez mais raras e
não excluem os sentimentos de humanidade. Nas relações, a uniformidade se vai
estabelecendo. Apagam-se as distinções de raças e de castas e os que professam
crenças diversas impõem silêncio aos prejuízos de seita, para se confundirem na
adoração de um único Deus. Falamos dos povos que marcham à testa da civilização
(789-793). A todos estes respeitos, no entanto, longe ainda estamos da
perfeição, e muitas ruínas antigas ainda se têm que abater, até que não restem
mais vestígios da barbaria. Poderão acaso essas ruínas sustentar-se contra a
força irresistível do progresso, contra essa força viva que é, em si mesma, uma
lei da natureza? Sendo a geração atual mais adiantada do que a anterior, por
que não o será mais do que a presente a que lhe há de suceder? Sê-lo-á, pela
força das coisas. Primeiro, porque, com as gerações, todos os dias se extinguem
alguns campeões dos velhos abusos, o que permite à sociedade formar-se de
elementos novos, livres dos velhos preconceitos. Em segundo lugar, porque,
desejando o progresso, o homem estuda os obstáculos e se aplica a removê-los.
Visto que é incontestável o movimento progressivo, não há que duvidar do
progresso vindouro. O homem quer ser feliz e é natural esse desejo. Ora,
buscando progredir, o que ele procura é aumentar a soma da sua felicidade, sem
o que o progresso careceria de objeto. Em que consistiria para ele o progresso,
se lhe não devesse melhorar a posição? Quando, porém, conseguir a soma de gozos
que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está
completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível sem a segurança nas
relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar.
Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa
senda, e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal
objetivo.
V
Os que dizem que
as crenças espíritas ameaçam invadir o mundo, proclamam, ipso facto, a força do
Espiritismo, porque jamais poderia tornar-se universal uma ideia sem fundamento
e destituída de lógica. Assim, se o Espiritismo se implanta por toda parte, se,
principalmente nas classes cultas, recruta adeptos, como todos facilmente
reconhecerão, é que tem um fundo de verdade. Baldados, contra essa tendência,
serão todos os esforços dos seus detratores, e a prova é que o próprio
ridículo, de que procuram cobri-lo, longe de lhe amortecer o ímpeto, parece
ter-lhe dado novo vigor, resultado que plenamente justifica o que repetidas
vezes os Espíritos têm dito: “Não vos inquieteis com a oposição; tudo o que
contra vós fizerem se tornará a vosso favor e os vossos maiores adversários,
sem o quererem, servirão à vossa causa. Contra a vontade de Deus não poderá
prevalecer a má vontade dos homens.”
Por meio do
Espiritismo, a humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral
que lhe é consequência inevitável. Não mais, pois, vos espanteis da rapidez com
que as ideias espíritas se propagam. A causa dessa celeridade reside na
satisfação que trazem a todos os que as aprofundam e que nelas veem alguma
coisa mais do que fútil passatempo. Ora, como o que cada um quer é, acima de
tudo, a sua felicidade, nada há de surpreendente em que se apegue a uma ideia
que faz ditosos os que a esposam.
Três períodos
distintos apresenta o desenvolvimento dessas ideias: primeiro, o da
curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta; segundo, o
do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das consequências. O
período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez satisfeita,
muda de objeto. O mesmo não acontece com aquilo que se dirige à razão e evoca reflexões
sérias. Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente. O
Espiritismo progrediu principalmente depois que foi sendo mais bem compreendido
na sua essência íntima, depois que lhe perceberam o alcance, porque tange a
corda mais sensível do homem: a da sua felicidade, mesmo neste mundo. Aí a
causa da sua propagação, o segredo da força que o fará triunfar. Vai tornando
felizes os que o compreendem, enquanto aguarda que a sua influência atinja as
massas. Mesmo quem não testemunhou nenhum fenômeno material relativo às
manifestações dos Espíritos diz para si próprio: à parte esses fenômenos, há a
filosofia, que me explica o que nenhuma outra havia explicado. Nela encontro,
por meio unicamente do raciocínio, uma solução racional para os problemas que
no mais alto grau interessam ao meu futuro. Ela me dá calma, segurança,
confiança; livra-me do tormento da incerteza. Em comparação com tudo isso,
secundária se torna a questão dos fatos materiais. Quereis, vós todos que o
atacais, um meio de combatê-lo com êxito? Aqui o tendes. Substitui-o por alguma
coisa melhor; indicai solução mais filosófica para todas as questões que ele
resolveu; dai ao homem outra certeza que o faça mais feliz; porém compreendei
bem o alcance da palavra certeza, porquanto o homem não aceita como certo senão
o que lhe parece lógico. Não vos contenteis com dizer: isto não é assim;
demasiado fácil é semelhante afirmativa. Provai, não por negação, mas por
fatos, que isto não é real, nunca o foi e não pode ser. Se não é, dizei o que o
é, em seu lugar. Provai, finalmente, que as consequências do Espiritismo não
são tornar melhor o homem e, portanto, mais feliz, pela prática da mais pura
moral evangélica, moral a que se tecem muitos louvores, mas que muito pouco se
pratica. Quando houverdes feito isso, tereis o direito de o atacar. O
Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião: Deus, a
alma, as penas e as recompensas futuras; sobretudo, porque mostra que essas
penas e recompensas são corolários naturais da vida terrestre e, ainda, porque,
no quadro que apresenta do futuro, nada há que a razão mais exigente possa
recusar. Que compensação ofereceis aos sofrimentos deste mundo, vós cuja
doutrina consiste unicamente na negação do futuro? Enquanto vos apoiais na incredulidade,
ele se apoia na confiança em Deus; ao passo que convida os homens à felicidade,
à esperança, à verdadeira fraternidade, vós lhes ofereceis o nada por
perspectiva e o egoísmo por consolação. Ele tudo explica, vós nada explicais.
Ele prova pelos fatos, vós nada provais. Como quereis que se hesite entre as
duas doutrinas?
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
CONCLUSION
I
A person whose
knowledge of terrestrial magnetism is limited to small magnetized duck figures
swimming and moving about in a water basin would find it extremely difficult to
grasp that those figurines contain the secret behind the mechanism of the
universe and the movement of worlds. Likewise, a person whose knowledge of
Spiritism is limited to table turning is in a similar position. To them these
communications are merely a form of entertainment or a pastime, and they cannot
understand how such a simple and common phenomenon connects to the biggest
questions and answers concerning social order. To the superficial observer what
connection can possibly exist between a table that turns and the future of
humanity. However, when we reflect on the idea of a simple pot simmering since
the dawn of time, which can lift its lid at the boiling point, we realize that
a powerful driving force has emerged. Human beings use this force to erase
distance and move through space. To all who believe that there is nothing beyond
the material world, know that from the table turning that triggers your mocking
a new philosophy has arisen. One that solves problems that no other system has
been able to solve.To all of Spiritism’s honest adversaries, I ask whether you
have taken the trouble to study what you criticize. I rationally remind you
that criticism is of no value unless the critic is familiar with the subject of
scorn. To ridicule something of which we have no knowledge of, and which we
have not meticulously examined, is not true criticism, but merely proof of a
lack of judgment. If a human being had proposed this philosophy there would
have been less disdain. People who claim to guide and sway public opinion would
have studied it. However, as it comes from the spirits it has therefore been
deemed an absurdity! As such, is has barely merited a single glance, deserving
of no more than the judgment of the monkey in the fable who judged a nut by its
shell. Forget its origin and assume that this book is solely the work of a
human being. Then, after carefully reading it, honestly ask yourself if you
find anything that warrants ridicule.
II
Spiritism is a
staunch opponent of materialism, and it is not surprising that materialists are
its adversaries. Materialism is a theory that many hardly dare to admit
defending (proof that its supporters are not ardent believers and that they are
dominated by their conscience), they hide behind a mask of reason and science.
It is interesting how the most skeptical people speak on behalf of religions
that they neither know nor understand any better than Spiritism. They focus
particularly on the miraculous and the supernatural, which they deny, and as
they presuppose that Spiritism is founded on the miraculous and supernatural,
they declare that it can be nothing more than a ridiculous fantasy. They do not
realize that in categorically denying the possibility of the miraculous and the
supernatural, they are denying religion itself, which is founded on revelation
and miracles. What are revelations if not extra-human communications? All the
writers of the scriptures, since Moses’ time, have spoken of this type of
communication. What are miracles if not events of an unparalleled miraculous
and supernatural nature, since they are, according to the liturgical sense,
deviations from the laws of nature? In rejecting the miraculous and the
supernatural, they reject the very basis of all religions and we should not
view the subject from this perspective. Spiritism does not necessarily settle
the question of miracles, meaning whether God, in certain cases deviates from
the eternal laws that regulate the universe. In this regard, Spiritism leaves
full freedom of choice as when it comes to belief. It dictates and proves that
the phenomena on which it is based are supernatural only in appearance and that
they only appear to be such to some because they are unusual. They are simply
outside the limits of facts known at the moment of their observation. They are
no more supernatural than all the other phenomena that science explains today,
though they appeared to be miraculous in the past. All Spiritist phenomena,
without exception, are the consequence of general laws. They reveal one of the
powers of nature, albeit an unknown power, or rather one that has not been
understood, but which observation has shown to be included in the order of
things. Spiritism, therefore, is founded less on the miraculous and the
supernatural than religion itself, and those who attack it for this reason do
so because they do not know what it truly is. Even if they were among the most
educated people, we would say to them, “If your science, which has taught you
so many things, has not taught you that the realm of nature is infinite, you
are not nearly as advanced as you think you are.”
III
You say that you
want to cure your century of the naïveté that threatens to overrun the world.
Would you prefer to see the world plagued by the skepticism that you seek to
spread? Doesn’t the absence of beliefs cause both the relaxing of family ties
and the majority of the ailments that are undermining society today? By
demonstrating the existence and immortality of the soul, Spiritism revives
faith in the future, raises the spirits of the discouraged and enables us to
bear the adversities of life with resignation.Do you call this inequity? Two
theories are offered, one denies the existence of a future life, while the
other proclaims and proves it. One explains nothing, while the other explains
everything and appeals to our reason. One justifies selfishness, while the
other provides a firm basis for justice, charity and the love of one’s fellow
human beings. One offers only the present and destroys every shred of hope,
while the other consoles us by showing the vast horizon of the future. Now,
which is the more malevolent of the two?
Some, among the
most skeptical of our challengers, portray themselves as apostles of
brotherhood and progress, but brotherhood implies objectivity and the rejection
of personality. In true fraternity, pride is a flaw. By what right do you
impose such a sacrifice on people when you tell them that death is the end for
them, and that maybe even tomorrow they will be reduced to an out of order
machine, thrown to the curb as trash? Why should people impose any sort of
deprivation on themselves? Is it more natural for them to strive to live as
comfortably as possible during the few brief seconds you grant to them? The
desire to possess as much as possible, and to enjoy the greatest amount of
pleasure arises from this. Hence, this desire naturally gives birth to jealousy
of those who possess more. From this jealousy, all it takes is one further step
to become covetous of what they possess. What holds them back from doing this?
The law? However, the law does not cover every case. Is it the conscience or a
sense of duty that governs one’s choices? What is the sense of duty based on?
Does that sense have any purpose if everything ends with our present life? One
proverb perfectly sums up this belief, “Every man for himself.” According to
this belief, brotherhood, conscience, duty, humanity and even progress are
empty words. Those who proclaim such a doctrine have no idea of how much harm
they do to society, or how many crimes they are responsible for! But why do I
speak of responsibility at all? For skeptics it is irrelevant, since they only
worship matter.
IV
The progress of
humanity results from the practical application of the laws of justice, love
and charity. These laws are founded on the certainty of a future life. If we
eliminate this certainty, we remove the cornerstone. These laws are the basis
for all others, as they comprise all the conditions of human happiness. They
alone can cure the plagues of society, and we may judge, by comparing the
various ages and populations of the Earth, the improvement that takes place in
the conditions of social life, as these laws are better understood and better
carried out. If even just a partial and incomplete application of these laws
manages to produce a noticeable improvement, imagine what it will be like when
they become the basis for all social institutions! Could this be possible? Yes,
because as human beings take ten steps forward, it is clear that they can take
twenty, and so on. In that vein, the future can be inferred from the past. We
see that the hostilities between different nations begin to soften, the
barriers that separate them are toppled by civilization, and people are joining
hands from one end of the world to the other. A larger measure of justice
governs international laws. Wars occur less frequently and do not exclude
humane feelings and attitudes. Consistency is established gradually in
relationships, while the distinctions of races and classes are erased. People
of different religious beliefs eventually set aside their preconceived notions
so that they may unite with one another in worshiping one God. We are talking
about the nations that are at the forefront of civilization (see nos. 789-793).
In all these relations, we are still far from perfection. There are still many
ruins to be torn down before the last vestiges of barbarism are cleared away,
but can those ruins withstand the relentless action of progress, which, in
itself is a law of nature? If the present generation is more advanced than the
last, why shouldn’t the next be even more advanced than ours? This will always
be the case by the force of circumstances. First, as each generation passes
away it takes supporters of old injustices and abuses with it. Therefore,
society is gradually rebuilt with new members who have thrown aside antiquated
prejudices. Second, when people want progress, they study the obstacles that
impede it and focus on the means for removing them. The progressive movement of
human society is irrefutable, therefore progress undoubtedly continues in the
future. It is in the nature of human beings to want to be happy. We want
progress to increase our happiness, otherwise progress has no purpose. Where
would we be if progress did not improve our position? When we obtain all the
gratification that we can attain through intellectual progress, we realize that
we have not obtained complete happiness, and that this happiness is impossible
without having security in relationships. We can only obtain this security
through moral progress. Thus, by the force of circumstances, we will work
tirelessly for that end, and Spiritism will offer us the most effective means
of reaching that goal.
V
People who say
that Spiritism is threatening to invade the world only confirm its power by
making such a statement. An opinion that is not based on both reason and proven
facts cannot become universal. Therefore, if Spiritism takes root everywhere
and converts every member of society including the educated class, it is clear
then that it is founded in truth. As such, all the efforts of its detractors
are in vain. In actuality, the ridicule thrown at it by those attempting to
stop it seems only to have given it new life. This fully justifies the
reassurance that is given constantly by the spirits, who have repeatedly said:
“Do not be discouraged by the opposition. Whatever they do against you will
turn to your advantage, and your most bitter rivals will serve you in spite of
themselves. The hostility harbored by individuals is no match for God’s will.”
Through Spiritism,
human beings enter a new phase, that of moral progress which is the inevitable
consequence of this belief. The rapid spread of Spiritist ideas should be no
surprise, due to the profound satisfaction they give to those who accept them
as more than just a futile pastime. People desire happiness above all things,
so it is not surprising that they would willingly embrace ideas that make them happy.
The development of
these ideas has three distinct phases. The first is that of curiosity, caused
by the strangeness of the phenomena produced; the second, that of reasoning and
philosophy; the third, that of application and consequences. The period of
curiosity has already passed. When satisfied, the mind often immediately drops
a subject for another, which does not apply to subjects that spur serious
thought and that appeal to reason. The second period has already begun, and the
third will naturally follow. The progress of Spiritism has been particularly
rapid since its essential nature and scope have been more accurately
understood, and because it touches our most sensitive quality, the desire to be
happy. This is the reason behind its wide acceptance, the secret of the
strength that makes it triumph. It causes those who understand it to be happy
while they await the extension of its influence to reach the masses. How many
individuals are there who despite never having witnessed any of the physical
phenomena of spirit manifestations, say to themselves, “Aside from these
phenomena, there is the philosophy, which explains what no other theory or
belief system has ever explained. That philosophy offers me, through arguments
based on reason, a rational solution to problems that are of the most vital
importance to my future. It gives me tranquility, security and confidence,
while delivering me from the torment of uncertainty. In comparison with this,
the question of the physical phenomena is of secondary importance.”
For people who
attack it, do you have the means to fight Spiritism successfully? Offer
something better in its place, and find a more philosophic solution to all the
problems it solves. Give people another certainty that makes them even happier.
You must understand the meaning of the word certainty, because people only
accept what appears to be logical as certain. You must not be satisfied with
simply saying that something is not so, which is much too easy to do. Rather
than just deny it, you must provide facts, showing that what we assert is not
so, has never been, and cannot be.
In addition, you
must show what you have to offer in its place. You must prove that Spiritism
does not make people better, and consequently happier, by promoting the
practice of the purest evangelical morality. A morality that is praised so much
yet practiced so little. When you have done this, you will have earned the
right to attack it. Spiritism is strong because it is based on religion itself:
God, the soul, and the rewards and atonements of the future. It shows those
rewards and atonements as the natural consequences of material life and in the
picture it presents of the future, there is nothing that even the most logical
mind can discover to be contrary to reason. What compensation can those who
deny the future offer for the suffering of the present life? They base their
teachings on skepticism, while Spiritism is based on trust in God. Spiritism
invites everyone to happiness, hope and true solidarity, the alternative is a
future in which one is reduced to nothing, with only selfishness to serve as
consolation. Spiritism explains everything, and you explain nothing. It proves
by facts, while your assertions are groundless. How do you expect the world to
be divided between these two doctrines? -
The Spirit’s Book –
Allan Kardec.