quinta-feira, 2 de agosto de 2012

VÍCIOS

Em verdade, viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram na dependência de pessoas ou substâncias.
Tradição é ato de transmissão oral ou escrita de costumes, lendas ou fatos levados de geração a geração através dos tempos. Quanto mais antigos, mais notáveis e fora do comum eles se tornam. Uma vez atingida tal dimensão, transformam-se em crenças inquestionáveis.
As criaturas assimilam conceitos simplesmente porque outras que elas julgam importantes e entendidas, lhes disseram que são verdadeiros. As crenças de toda espécie começaram geralmente através das histórias e dos costumes criados por alguém. Com o passar dos séculos, entretanto, tornaram-se regras éticas. Crença é a ação de acreditar naquilo que convencionamos adotar como verdade. Evidentemente, algumas são verdadeiras; outras não.
Precisamos revisar nossas concepções sobre os vícios. Não podemos entendê-los como uma problemática que abrange, exclusivamente, delinqüentes e vadios. Em verdade, viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram na dependência de pessoas ou substâncias.
Pelas crenças tradicionalistas, são tachados de criminosos e vagabundos; para nós, no entanto, representam, acima de tudo, companheiros do caminho evolutivo, merecedores de atenção e entendimento. Por serem carentes e sofridos, entregaram sua força de vontade ao poder dos tóxicos, procurando se esquecer de algo que, talvez, nem mesmo saibam: "eles próprios", pois não agüentaram suportar seu mundo mental em desalinho.
A ociosidade pode ser considerada, ao mesmo tempo, "causa e efeito " de todos os vícios.
Reportando-se à ociosidade, assim se manifestaram as Entidades Superiores: "Haverá Espíritos que se conservam ociosos (...) mas esse estado é temporário e dependendo do desenvolvimento de suas inteligências (...) em sua origem, todos são quais crianças que acabam de nascer e que obram mais por instinto que por vontade expressa."
Sob o prisma do "efeito", tais considerações podem ser analisadas conforme o que segue abaixo:
Os dependentes são julgados por muitos como criaturas intencionalmente indolentes; por outros, de forma precipitada, como "parasitas sociais" , desocupados, improdutivos e preguiçosos. Mas sem qualquer conotação ou justificativa de tirar-lhes a responsabilidade por seus feitos e decisões, não podemos nos esquecer de que o "peso do fardo" que carregam lhes dá tamanha lassidão energética que passam a viver em constante "embriaguez na alma", entre fluidos de abatimento, fadiga e tédio.
Não são inúteis deliberadamente, mas se utilizam, sem perceber, do desânimo que sentem como "estratégia psicológica" para fugirem à decisão de "arregaçar as mangas" e enfrentar a parte que lhes cabe realizar na vida. Adiam sistematicamente seus compromissos, vivem de uma maneira no presente e dizem que vão viver de outra no futuro.
Aqui está um possível raciocínio de que se utilizam: "Sei que devo trabalhar para me realizar, mas, como desconfio de minha capacidade, temo não fazer direito", Ou mesmo, "O que gosto de fazer não será aprovado pelos outros; por isso, digo a mim mesmo e aos outros que o farei no futuro. Agindo assim, não terei que admitir que não vou fazê-lo". Os toxicômanos são criaturas de caráter oscilante, não desenvolveram o senso de autonomia, vivem envolvidos numa aura fluídica de indecisão e imobilização por conseqüência da própria reação emocional em desajuste.
Protelam as coisas para um dia, talvez, nunca chegará. Fixam-se ao consumo cada vez maior de produtos narcóticos, enquanto desenvolvem atitudes emocionais que os levam à subjugação a pessoas e situações.
A ociosidade como "causa" das viciações pode ser estudada da seguinte maneira:
As velhas crenças religiosas continuam afirmando que a felicidade dos bem-aventurados consiste na vida contemplativa, no repouso absoluto nos céus, em contrapartida, que os infernos são destinados aos espíritos culpados. Conduzidos forçosamente a um mundo de expiações eternas, sem meios de reparação, ficariam condenados a viver eternamente as dores do fogo e o sofrimento não menos cruel da eterna ociosidade.
As crenças no poder dos "melhores", ou seja, dos aristocratas, fortificaram-se ainda mais no tempo dos patriarcas, das sociedades greco-romanas. Expandindo-se, essas idéias fizeram com que os homens formassem unidades produtivas com base no escravismo. As vilas romanas e gregas possuíam dezenas de criados/cativos para satisfazer a todas as necessidades dos patrícios, para que vivessem no fastio e na inutilidade.
Durante séculos, a escravidão no Brasil foi aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade dos cativeiros. Os senhores de engenho se justificavam dizendo que resgatavam os negros do paganismo em que viviam para a conversão cristã, o que lhes facultava a redenção dos pecados e lhes abria as portas da salvação. Na realidade ocultavam suas verdadeiras intenções: a mão-de-obra lucrativa, que lhes permitia a vida fácil de esbanjamento com seus familiares, para manter a aparência social.
Aprendemos com as sociedades absolutistas do passado que a ociosidade era uma peça importante na vida. Na corte, as etiquetas, jogos, bailes e saraus eram as atividades mais comuns da nobreza.
Assim pensavam os nobres na época de Luiz XV da França: "Somos uma classe que não ganha dinheiro pelo trabalho, mas o temos pela nossa genealogia; não queremos ser confundidos com os poupadores vulgares, que são a gentinha da burguesia." Pode-se afirmar que, até poucas décadas atrás, a grande maioria também assim raciocinava.
As regras e costumes do passado pesam sobre nós. Somos espíritos milenares, encarnando sucessivas vezes, adquirindo experiências e assimilando crenças, algumas verdadeiras, outras não, repetindo o que escrevemos inicialmente. Essa a razão da necessidade de revisar nossos conceitos.
Disse certa feita Sócrates: "Não é ocioso apenas o que nada faz, mas também o que poderia empregar melhor o seu tempo". A ociosidade é uma porta que se abre os vícios, é uma casa sem paredes; as "serpentes" podem entrar nela por todos os lados.
Livro: As dores da alma
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.

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