sábado, 9 de abril de 2022

A infância / Infancy.

379. É tão desenvolvido, quanto o de um adulto, o Espírito que anima o corpo de uma criança?

“Pode até ser mais, se mais progrediu. Apenas a imperfeição dos órgãos infantis o impede de se manifestar. Obra de conformidade com o instrumento de que dispõe.”

380. Abstraindo do obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, o Espírito, numa criancinha, pensa como criança ou como adulto?

“Desde que se trate de uma criança, é claro que, não estando ainda nela desenvolvidos, não podem os órgãos da inteligência dar toda a intuição própria de um adulto ao Espírito que a anima. Este, pois, tem, efetivamente, limitada a inteligência, enquanto a idade lhe não amadurece a razão. A perturbação que o ato da encarnação produz no Espírito não cessa de súbito, por ocasião do nascimento. Só gradualmente se dissipa, com o desenvolvimento dos órgãos.”

Há um fato de observação que apoia esta resposta. Os sonhos, numa criança, não apresentam o caráter dos de um adulto. Quase sempre pueril é o objeto dos sonhos infantis, o que indica de que natureza são as preocupações do respectivo Espírito.

381. Por morte da criança, readquire o Espírito, imediatamente, o seu precedente vigor?

“Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado de seu envoltório corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez senão quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais nenhum laço exista entre ele e o corpo.”

382. Durante a infância sofre o Espírito encarnado, em consequência do constrangimento que a imperfeição dos órgãos lhe impõe?

“Não. Esse estado corresponde a uma necessidade, está na ordem da natureza e de acordo com as vistas da Providência. É um período de repouso do Espírito.”

383. Qual, para este, a utilidade de passar pelo estado de infância?

“Encarnando com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”

384. Por que é o choro a primeira manifestação da criança ao nascer?

“Para estimular o interesse da genitora e provocar os cuidados de que necessite. Não é evidente que se suas manifestações fossem todas de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se inquietariam os que o cercam com os cuidados que lhe são indispensáveis? Admirai, pois, em tudo a sabedoria da Providência.”

385. Que é o que determina a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?

“É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era.

“Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acariciais, como se fossem parcelas de vós mesmos, a tal ponto que se considera o amor que uma mãe consagra a seus filhos como o maior amor que um ser possa votar a outro. Donde nasce o meigo afeto, a terna benevolência que mesmo os estranhos sentem por uma criança? Sabeis? Não. É o que vos explicarei.”

“As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o consequente castigo exclusivamente sobre elas recai.

“Não foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos.

“Como vedes, os processos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração puro, facilmente se lhes apreende a explicação.

“Com efeito, ponderai que nos vossos lares possivelmente nascem crianças cujos Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes dos vossos, e dizei-me como poderiam estar no vosso meio esses seres, trazendo paixões diversas das que nutris, inclinações, gostos, inteiramente opostos aos vossos; como poderiam enfileirar-se entre vós, senão como Deus o determinou, isto é, passando pelo tamis da infância? Nesta se vêm confundir todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres gerados pela infinidade dos mundos em que medram as criaturas. E vós mesmos, ao morrerdes, vos achareis num estado que é uma espécie de infância, entre novos irmãos. Ao volverdes à existência extraterrena, ignorareis os hábitos, os costumes, as relações que se observam nesse mundo, para vós, novo. Manejareis com dificuldade uma linguagem que não estais acostumado a falar, linguagem mais vivaz do que o é agora o vosso pensamento. (319.)

“A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas.

“Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o universo.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

379. Is the spirit living in the body of a child as developed as that of an adult?

“Possibly even more so, if it had progressed farther before reincarnation. The imperfection of its organs is what prevents the spirit from manifesting itself. It acts according to the method available to express itself.”

380. During infancy, despite the imperfection of its organs hindering its full expression, does a spirit think as a child or an adult?

“While existing as a child, a spirit’s organs of intelligence do not give it the complete intuition of an adult as they are not yet fully developed. The individual’s intellect is narrow in scope, until age has matured his or her reason. The confusion that accompanies incarnation does not immediately end at birth; it gradually dissolves with the development of the bodily organs.

Childhood dreams do not have the same character as those of adults. Their object is almost always childish, an indication of the nature of a spirit’s thoughts. This is a perfect example that supports this answer.”

381. When a child dies, does its spirit immediately regain its former energy?

“It should, since it is free from its material envelope, but only when the separation is complete, meaning, when there is no longer any connection between the spirit and the body.”

382. During childhood, does an incarnated spirit suffer from the limitation imposed upon it by the imperfections of its organs?

“No, it is a required part of the natural order and imposed by Providence. It is a time of rest for the spirit.”

383. What is the point of a spirit experiencing childhood?

“The purpose of incarnation is the improvement of the spirit, and childhood makes a spirit more open to the impressions it receives. This may contribute to its advancement, toward which all those responsible for the child’s education and training must contribute.”

384. Why is crying the frst sound an infant makes?

“They cry in order to stimulate the interest of their mothers in them and ensure that they care for their needs. If children uttered only cries of joy before being able to speak, those around them would not be overly concerned with their needs. God’s wisdom should be admired in all designs.”

385. Where does the change that occurs in its character at a certain age, particularly upon leaving adolescence, originate? Does the spirit become adapted?

“Upon regaining consciousness, the spirit appears as it was before incarnation. You do not know the secrets that are hidden beneath the apparent innocence of children. You do not know who they are, who they have been, or who they will be. You love and cherish them regardless, as though they were a part of you. This affection is so strong that the love of a mother for her children is believed to be the greatest love that one being can have for another. What is the source of this sweet affection and tenderness that even strangers feel for a child? Do you know its origin? That is precisely what I will now explain to you.”

“God sends children into new lives and gives them all the external appearances of innocence so that they may not accuse God of being unfairly harsh. Even children with a propensity to the worst wickedness are concealed by the unconsciousness of their own acts. This deceptive innocence does not make children superior to their prior lives. It is merely the image of what they should be. If they do not match this image, they alone are to blame for the ensuing atonement.”

“God has not made children this way solely for themselves. God has also done this because of the parents, whose love is so necessary for their survival. This essential love would be greatly reduced if a child’s true shameful nature were on full display. As parents believe that their children are inherently good and gentle, they shower them with affection and care. When children no longer need this assistance, which is given to them for ffteen or twenty years, they reveal their true characters. Those who are truly good at heart remain good, but even then their characters reveal many traits that were once hidden. God’s ways are always for the best, and for the pure in heart, the explanation is always easy.”

“A child born among you may have come from a world in which it has acquired habits that are drastically different from yours. How could this new being, possessing its own passions, inclinations and tastes, adapt to your world if it came in any other fashion than the flter of infancy intended by God? This process merges together all the thoughts, characteristics and types of beings produced by all worlds in which creatures grow. At death, you fnd yourselves in a type of infancy surrounded by a new family of brothers and sisters. You are unaware of the habits, manners and relations of a world that is new to you. You fnd it diffcult to express yourselves in a language that you are not accustomed to and that is more vibrant than your thoughts today.” (See no. 319)

“Childhood also has another purpose. Spirits use the physical life to improve themselves. The weakness of youth renders them more fexible and open to the advice of those whose experience should aid their progress. This is how bad predispositions are repressed, and fawed characters are gradually reformed. This repression and reformation is a God-given duty for parents, a sacred mission for which parents are fully accountable. Childhood is not only useful, but indispensable, just like all of God’s laws that govern the universe.”

THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.

Nenhum comentário:

Postar um comentário