sábado, 2 de abril de 2022

Idiotismo, loucura / Mental Impairment and Insanity / Idioteco, frenezeco.

371. Tem algum fundamento o pretender-se que a alma dos cretinos e dos idiotas é de natureza inferior?

“Nenhum. Eles trazem almas humanas, não raro mais inteligentes do que supondes, mas que sofrem da insuficiência dos meios de que dispõem para se comunicar, da mesma forma que o mudo sofre da impossibilidade de falar.”

372. Que objetivo visa a Providência criando seres desgraçados, como os cretinos e os idiotas?

“Os que habitam corpos de idiotas são Espíritos sujeitos a uma punição. Sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não desenvolvidos ou desmantelados.”

a) – Não há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos nada influem sobre as faculdades?

“Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm-na muito grande sobre a manifestação das faculdades, mas não são eles a origem destas. Aí está a diferença. Um músico excelente, com um instrumento defeituoso, não dará a ouvir boa música, o que não fará que deixe de ser bom músico.”

Importa se distinga o estado normal do estado patológico. No primeiro, o moral vence os obstáculos que a matéria lhe opõe. Há, porém, casos em que a matéria oferece tal resistência que as manifestações anímicas ficam obstadas ou desnaturadas, como nos de idiotismo e de loucura. São casos patológicos e, não gozando nesse estado a alma de toda a sua liberdade, a própria lei humana a isenta da responsabilidade de seus atos.

373. Qual será o mérito da existência de seres que, como os cretinos e os idiotas, não podendo fazer o bem nem o mal, se acham incapacitados de progredir?

“É uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um estacionamento temporário.”

a) – Pode assim o corpo de um idiota conter um Espírito que tenha animado um homem de gênio em precedente existência?

“Certo. A genialidade se torna por vezes um flagelo, quando dela abusa o homem.”

A superioridade moral nem sempre guarda proporção com a superioridade intelectual e os grandes gênios podem ter muito que expiar. Daí, frequentemente, lhes resulta uma existência inferior à que tiveram e uma causa de sofrimentos. Os embaraços que o Espírito encontra para suas manifestações se lhe assemelham às algemas que tolhem os movimentos a um homem vigoroso. Pode dizer-se que os cretinos e os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e dos olhos o cego.

374. Na condição de Espírito livre, tem o idiota consciência do seu estado mental?

“Frequentemente tem. Compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação.”

375. Qual, na loucura, a situação do Espírito?

“O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e diretamente exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado, porém, ele se encontra em condições muito diversas e na contingência de só o fazer com o auxílio de órgãos especiais. Altere-se uma parte ou o conjunto de tais órgãos e eis que se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação ou as impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que seja o órgão que preside às manifestações da inteligência e da vontade o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil te será compreender que, só tendo o Espírito a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, uma perturbação resultará de que ele, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso não lhe está nas mãos deter.”

a) – Então o desorganizado é sempre o corpo, e não o Espírito?

“Sim; mas, convém não perder de vista que, assim como o Espírito atua sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões. Pode mesmo suceder que, com a continuação, durando longo tempo a loucura, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influência, de que ele não se libertará senão depois de se haver desligado de toda impressão material.”

376. Por que razão a loucura leva o homem algumas vezes ao suicídio?

“O Espírito sofre pelo constrangimento em que se acha e pela impossibilidade em que se vê de manifestar-se livremente; por isso procura na morte um meio de quebrar seus grilhões.”

377. Depois da morte o Espírito do alienado se ressente do desarranjo de suas faculdades?

“Pode ressentir-se, durante algum tempo após a morte, até que se desligue completamente da matéria, como o homem que desperta se ressente, por algum tempo, da perturbação em que o lançara o sono”.

378. De que modo a alteração do cérebro reage sobre o Espírito depois da morte?

“Como uma recordação. Um peso oprime o Espírito e, como ele não teve a compreensão de tudo o que se passou durante a sua loucura, sempre se faz mister um certo tempo, a fim de se pôr ao corrente de tudo. Por isso é que, quanto mais durar a loucura no curso da vida terrena, tanto mais lhe durará a perturbação, o constrangimento, depois da morte. Liberto do corpo, o Espírito se ressente, por certo tempo, da impressão dos laços que àquele o prendiam.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

371. Are there any grounds to the commonly held belief that individuals with developmental impairments have inferior souls?

“No, they have a human soul that is often more intelligent than you think. This soul suffers from the defciency of its means to communicate, as a mute person suffers from his inability to speak.”

372. What is God’s purpose in creating developmentally impaired beings?

“These individuals are the incarnations of spirits who are undergoing atonement. They suffer from their limitations and inability to express themselves through undeveloped or incapacitated organs.”

a) Would it be incorrect to say that the organs have no infuence on the faculties?

“We never said that the organs have no infuence. They have a very great infuence on the manifestation of the faculties, but they are not their source. There is a huge difference. A skilled musician will not make good music with a bad instrument, but this will not stop the individual from being a good musician.”

One must distinguish between the normal and pathological states. In the normal state, morality trumps material obstacles, but there are cases where matter presents such a strong resistance that it hampers or impairs the manifestations, as in developmental impairments and insanity. These are pathological cases and as the soul does not enjoy full freedom, laws originating from human societies exempt such individuals from the accountability for their actions.

373. What is the point in the existence of developmentally impaired individuals who can do neither good nor bad, and cannot progress? “Such an existence is imposed as atonement for the misuse of certain faculties. It is a time of confnement.”

a) This implies that the body of a mentally disabled person could contain a spirit that once embodied a genius?

“Yes, genius can become a curse when it is abused.”

Intellectual superiority does not always accompany moral superiority, and the greatest geniuses may be burdened by many moral trespasses for which they must atone. They often have to endure an inferior existence which is a cause of suffering for them. The barriers impairing their faculties are like shackles that restrain the movements of a strong person. The developmentally disabled person may be said to be mentally handicapped, as cripples are handicapped by their legs and the blind by their eyes.

374. Is a spirit who is developmentally impaired conscious of his or her mental condition?

“Yes, very often. It understands that the restraints hampering its actions are a trial and an atonement.”

375. When a person is insane, what is the state of that individual’s spirit?

“When a spirit is free it receives impressions directly and directly exerts its action on matter as well. When a spirit incarnates, it is in an entirely different condition and is required to act only through the designated organs. If some or all of those organs are impaired, its actions or impressions concerning those organs are interrupted. Individuals beset by such impairments become blind if they lose their eyes, deaf if they lose their ears, and so on. Imagine now that the organ responsible for manifestations of intelligence and will is partially or entirely impaired, and you will easily understand that the use of such an incomplete or distorted organ will provoke a functional distress that the spirit is fully conscious of but unable to control.”

a) Then it is always the body, and not the spirit, that is dysfunctional?

“Yes, but remember that just as a spirit acts upon matter, matter in turn reacts upon the spirit, at least to a certain extent. Due to the altered state of its receptor organs, the spirit may temporarily receive various impressions. When the insanity continues for long periods of time, the repetition of the same acts may exercise a permanent infuence on a spirit. It only ends with its complete separation from all material impressions.”

376. Why does insanity sometimes lead to suicide?

“The spirit suffers from its restriction and inability to manifest itself freely. It seeks death as a means of breaking these chains.”

377. Is the imbalance that is the underlying cause of an insane person’s suffering carried over from the physical life to the spirit world?

“The spirit may continue to feel it after death until it is completely freed from matter. This is similar to how one feels drowsy when waking from a very deep sleep.”

378. How can the brain alteration act on the spirit after death?

“It is a memory that weighs heavily on a spirit. The spirit is not aware of all that took place due to the insanity, and needs a certain amount of time to recover. This is why its agitation after death is always proportionate to the length of time that it suffered in its physical life. When a spirit is free from the body, it still feels the impression of the bonds that tied it to its physical life for a period of time.”

THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.

371. Ĉu la opinio de homoj, kiuj pensas, ke la animoj de frenezuloj kaj idiotoj estas malsuperaj, havas ian bazon?

“Ne; frenezuloj kaj idiotoj havas homan animon, kiu estas ofte pli inteligenta, ol kiel vi supozas, kaj kiu suferas pro la netaŭgeco de la rimedoj, je kiuj ĝi disponas por sia komunikado, same kiel mutulo suferas pro tio, ke li ne kapablas paroli.”

372. Kiu estas la celo de la Providenco, kreante kompatindajn estulojn, kiaj la frenezuloj kaj idiotoj?

“La Spiritoj, loĝantaj korpojn de idiotoj estas Spiritoj pagantaj pro siaj kulpoj. Tiuj Spiritoj suferas pro la ĝenateco, en kiu ili estas tenataj, kaj pro la neebleco esprimi siajn sentojn per netaŭgaj aŭ difektitaj organoj.”

— Ĉu do ne estas vere, ke la organoj ne influas sur la kapablojn?

“Ni neniam diris, ke tia influo ne ekzistas; kontraŭe, la organoj havas tre grandan influon sur la manifestadon de l’ kapabloj; sed ili ne havigas la kapablojn: jen la diferenco. Lerta muzikisto per netaŭga instrumento ne povas bone ludi, sed el tio ne sekvas, ke li ne estas bona muzikisto.”

Estas necese distingi la normalan staton je la patologia stato. En la normala stato, la moralaj kvalitoj venkas la baron, kontraŭstaratan de la materio; sed, ĉe kelkaj okazoj la materio prezentas tian kontraŭstaron, ke la manifestiĝoj de la animo estas ĝenataj aŭ kripligitaj, kiel ĉe idioteco kaj frenezeco; tiuj estas patologiaj aferoj, kaj en ĉi tiu okazo, ĉar la animo ne ĝuas sian plenan agliberecon, tial la homa leĝo mem ne konsideras la individuon responda por siaj agoj.

373. Kiu povas esti la merito de ekzistado, por estuloj, kiuj, kiel la idiotoj kaj frenezuloj, ne povas progresi pro tio, ke ili estas nekapablaj fari bonon aŭ malbonon?

“Tia stato estas pekelpago, altrudita al ili pro la misuzo, kiun ili faris el iuj kapabloj; ĝi estas haltotempo.”

— Ĉu la korpo de idioto povas do enhavi Spiriton, kiu eble animis, en antaŭa ekzistado, geniulon?

“Jes; genio estas iafoje malfeliĉego, kiam misuzata.”

La morala supereco ne ĉiam estas proporcia al la intelekta, kaj plej eminentaj geniuloj eble devas pagi multajn kulpojn; el tio ofte venas ekzistado malsupera ol tiu, kiun ili jam vivis, kaj tia ekzistado estas por ili fonto de suferoj.

La malhelpoj, kiujn la Spirito renkontas, kontraŭ liaj manifestiĝoj, estas kiel katenoj, paralizantaj la movojn de fortika viro. Oni povas diri, ke frenezulo kaj idioto estas kriplaj je la cerbo, kiel lamulo je la kruroj kaj blindulo je la okuloj.

374. Ĉu idioto, en sia stato kiel Spirito, konscias sian mensan staton?

 “Jes, ofte; li komprenas, ke la malhelpoj, rigidigantaj lian menson, estas provo kaj puno.”

375. Kiu estas la situacio de la Spirito dum frenezeco?

“En sia libera stato, la Spirito ricevas rekte ĉiajn impresojn kaj ankaŭ rekte agas sur la materion; sed, kiam enkarniĝinta, li troviĝas en tute malsamaj kondiĉoj kaj estas devigita tion fari per specialaj organoj. Se ĉiuj aŭ kelkaj el la tiacelaj organoj estas difektitaj, lia agado kaj lia sentemo, kiom tiuj dependas de la organoj, estas do interrompitaj. Se li perdas siajn okulojn, li blindiĝas; se li perdas la aŭdorganon, li surdiĝas, ktp. Prezentu al vi nun, ke la organo, direktanta la efikojn de intelekto kaj de volo, estas parte aŭ tute difektita aŭ modifita: vi facile komprenos, ke la Spirito, ne havante sub sia dispono aliajn ilojn, ol nekompletajn aŭ kriplajn organojn, vivas en konfuzo, kiun li intime sentas kaj plene konscias, sed kiun li ne kapablas forigi.”

— Ĉu do ne la Spirito, sed la korpo, estas difektita?

“Jes; sed oni ne malatentu la fakton, ke, se la Spirito agas sur la materion, ĉi tiu, ĝis certa grado, reagas sur lin, kaj ke la Spirito povas momente esti impresita de la difekto de la organoj, kiujn li uzas por sia manifestiĝo kaj ricevo de impresoj. Povas okazi, ke, kun la kresko de la tempo, kiam frenezeco longe daŭras, la ripetado de l’ samaj agoj fine havas sur la Spiriton influon, el kiu li liberiĝos nur post plena forigo de ĉia materia impreso.”

376. Kiel klarigi, ke frenezeco iafoje altrenas homon al memmortigo?

“La Spirito suferas pro sia ĝenateco kaj pro la nekapablo sin libere manifesti, kaj tial li serĉas en la morto la rimedon rompi siajn katenojn.”

377. Ĉu la Spirito de frenezulo sentas, post la morto, la efikon de l’ difekto de siaj kapabloj?

“Li povas tion senti dum iom da tempo, ĝis li estos tute for de la materio, same kiel iu, ĉe sia vekiĝo, sentas, ankoraŭ kelkan tempon, la konfuzon, en kiun la dormado lin dronigis.”

378. Kiel la difekto de la cerbo povas reefiki sur la Spiriton post la morto?

“Tio estas memoro; ia premsonĝo subigas la Spiriton, kaj, ĉar tiu ĉi ne komprenis ĉion, kio fariĝis dum lia frenezeco, tial la restarigo de liaj ideoj ĉiam postulas iom da tempo; pro tio, ju pli daŭra estis frenezeco dum la vivo, des pli longa estas ankaŭ tiu konsterno, tiu ĝenateco post la morto. Kvankam jam for de la korpo, la Spirito tamen ankoraŭ sentas kelkatempe la impreson de siaj ligiloj.”

La Libro de la Spiritoj – Allan Kardec.

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