terça-feira, 3 de julho de 2012

Serenidade

A faina incessante da vida moderna, a sede de conforto supérfluo, a ânsia pelo prazer exorbitante, as demandas injustificáveis são apresentados invariavelmente como fatores básicos para explicarem os desequilíbrios da emoção que atormenta o homem.
Não há tempo senão para viver.
Viver bem, fruindo as concessões aligeiradas que o corpo enseja–a meta para a grande maioria.
E semelhante a aventureiro ávido de prazer larga-se a criatura no cipoal das lutas, empenhando os valores de que dispões, continuando, no entanto, inquieta, aflita.
Educa-se ou se vai educando para o triunfo fácil.
Disciplina-se ou deixa-se disciplinar antegozando o sabor da vitória em sociedade.
Instrui-se ou deixa-se instruir para vencer...
Educar-se, no entanto, para conhecer, peregrinando pelos meandros da dor humana, a fim de solucionar os milenários enigmas do espírito encarnado; disciplinar- se com o objetivo de renovar as disposições íntimas, no sentido da evolução espiritual; instruir-se para vencer a sombra da ignorância tendo em vista o impositivo da vitória sobre si mesmo, são diretrizes desconsideradas por muitos que, todavia, possibilitam a felicidade em termos reais e duradouros.
De tal conquista frui o homem a satisfação da serenidade.
Marco Aurélio, referindo-se à tranqüilidade, em suas Meditações, denominava como "tranqüilo - um espírito bem ordenado".
A serenidade é o estado de ordem que tranqüiliza interiormente.
Ordem que nasce da educação disciplinada pelo exercício do dever e esclarecida pela instrução que amplia as possibilidades do conhecimento.
Acredita-se erradamente que para a serenidade são indispensáveis o conforto, a independência econômica, a estabilidade conjugal, a saúde e outros ingredientes externos considerados essenciais e raros de reunir-se num mesmo afortunado indivíduo.
Alguns cristãos, na atualidade, justificam a falta de silêncio para cultivarem a serenidade. Outros dizem-se atormentados por problemas e informam que tudo são convites ruidoso ao desalinho da mente, à enfermidade nervosa, ao desajustamento. ..
Com "olhos de ver" e "ouvidos de ouvir" naturalmente se podem descobrir fontes ricas de belezas capazes de banhar a alma de paz e harmonia.
Painéis invulgares se desenham num raio de sol, numa estrela que fulge, num sorriso de criança, num farfalhar de folhas levemente balouçadas por brisas ciciantes, no tamborilar da chuva no telhado, numa ave ligeira bailando no ar, na harmonia e no colorido de uma flor, em mil nonadas..., convidando à serenidade, a "um espírito bem ordenado".
"Não vos afadigueis pela posse do ouro", disse o Mestre.
A posse exaure aquele que possui.
"O meu reino não é deste mundo", explicou o Senhor.
Em face de tais lições é que Jesus, embora sem encontrar entre os companheiros quem se identificasse com a sua mensagem de amor, amou e serviu a todos indistintamente e quando, mais tarde, sofreu o desprezo dos que mais se beneficiaram da sua presença, expulso da compreensão dos que d’Ele dependiam no vozerio da perseguição em invulgar soledade, manteve-se sereno, acenando com bênçãos para os infelizes e amando os próprios algozes na mais eminente demonstração de que serenidade com paz íntima é conquista do espírito, independente das excentricidades do mundo, do mundo das formas.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco
Livro: Dimensões da Verdade

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