sábado, 29 de junho de 2013

O adolescente: possibilidades e limites

Na quadra primaveril da adolescência tudo parece fácil, exatamente pela falta de vivência da realidade humana. O  adolescente examina o mundo através das lentes límpidas do entusiasmo, quando se encontra em júbilo, ou mediante as pesadas manchas do pessimismo que no momento lhe dominam as paisagens emocionais. A realidade, no entanto, difere de uma como de outra percepção,  sem os altos vôos do encantamento  nem os abismos profundos do existencialismo negativo.
A vida é um conjunto  de possibilidades que se apresentam para ser  experimentadas, facultando o crescimento intelectomoral dos seres. A forma como cada pessoa se utiliza desses recursos redunda no êxito  ou  no desar, não sendo  a mesma responsável pela glória ou pelo insucesso daqueles que a buscam e nela se encontram  envolvidos.
Para o  jovem sonhador,  que tudo  vê róseo,  há muitos caminhos a percorrer,  que exigem esforço,  bom  direcionamento  de opção  e sacrifício.  Toda ascensão  impõe inevitável cota de dedicação, como é natural, até que a conquista dos altiplanos delineie novos horizontes ainda mais amplos e fascinantes.
Assim, as possibilidades do adolescente estão no investimento que ele aplica para a conquista do que traça como objetivo. Nesse período, temse pressa, porque todas as manifestações são rápidas e os acontecimentos obedecem a um organograma que não  pode ser antecipado, esperando que se consumem os mecanismos propiciatórios à sua realização.
Ansioso pelos voos que pretende desferir pensa que as suas aspirações podem ser transformadas em realidade de um para outro momento, e, quando isso não ocorre,  deixase abater por graves frustrações e desânimo. No entanto, através desse vaivém de alegria e desencanto passa a entender que os fenômenos existenciais independem das suas imposições, provindo de muitos fatores que se conjugam para oferecer resultado  correspondente.
Nessa sucessão de contrários, amadurecelhe a capacidade de compreensão e aprimorase a faculdade de planejar, auxiliandoo a colocar os pés no chão sem a perda do  otimismo,  que é fator  decisivo para o  prosseguimento  das aspirações e da sua execução contínua.
Face à constituição  da vida,  não  basta anelar  e querer, mas produzir  e perseverar. Esse meio de levar adiante os planos acalentados demonstra que há limites em todos os indivíduos,  que não  podem ser  ultrapassados,  e que se apresentam na ordem social; moral, econômica, cultural, científica, enfim, em todas as áreas dos painéis existenciais.
Os  acontecimentos são  conforme ocorrem e não consoante se gostaria  que sucedessem, isto é, nadar contra a correnteza pode exaurir o candidato que vai atirado à praia, onde chega após grandes conquistas e ali morre sem alcançar a vitória.
A sabedoria, que decorre das contínuas lutas, demonstra que se deve realizar o  que é possível,  aguardando o  momento  oportuno para novos cometimentos.  Especificamente, cada dever tem o seu lugar e não é lícito assumir diversos labores que não podem ser executados de uma só vez.
A própria organização física constitui limite para todos os indivíduos. Quando se exige do organismo além das suas possibilidades, os efeitos são negativos, portanto,  desanimadores. Daí, o limite se encontra na capacidade das resistências física, moral e mental, que constituem os elementos básicos do ser humano, e no enfrentamento com os imperativos da sociedade, da época em que se vive, etc.
Certamente,  há homens e mulheres que se transformaram em exceção,  havendo pago pesados ônus de sacrifício, graças ao qual abriram à História páginas de incomparável  beleza. Simultaneamente,  também,  houve aqueles que mergulharam no fundo abismo do desencanto, deixandose dominar  por  terríveis angústias que lhes estiolaram  a alegria de viver e os maceraram,  levandoos a estados profundamente perturbadores, porque não possuíam essas energias indispensáveis para as conquistas que planejaram.
Ao moço compete o dever de aprender as lições que lhe chegam, impregnando se das suas mensagens e abrindo novos espaços para o futuro. Quando arrebatado pelo entusiasmo,  considerar  que há tempo para semear  como  o  há para colher;  quando  deprimido, liberarse das sombras pelo esforço de ascender às regiões onde brilha a luz  da esperança, compreendendo que a marcha começa no primeiro passo, assim como o  discurso  mais inflamado  tem início  na primeira palavra.  Todas as coisas exigem planificação  e tentativa. Aquele que se recusa experimentar, já perdeu parte do  empreendimento. Não há por que recear o insucesso. Esse medo da experimentação já é,  em si mesmo,  uma forma de fracasso.
Arriscarse,  no bom sentido  do  termo,  é intensificar os esforços para produzir, mesmo que, aparentemente, tudo esteja contra.  Não realizando, não tentando, é claro que as possibilidades são infinitamente menores.  Sempre vence aquele que se encontra alerta, que labora, que persiste.
A atitude de esperar  que tudo  aconteça em favor  próprio é comodidade injustificável; e deixarse abater  pelos pensamentos pessimistas,  assim como  pelas heranças auto-depreciativas, significa perder as melhores oportunidades de crescimento interior e exterior, que se encontram na adolescência. Esse é o momento de programar;  é o campo de experimentação.
Quando o jovem começa a delinear o futuro não  significa que haja logrado a vitória ou perdido a batalha, apenas está traçando rotas que o levarão a um ou a outro  resultado,  ambos de muito  valor  na  sua aprendizagem,  em torno  da vida na  qual  se encontra.
A perseverança e o idealismo sem excesso responderão pelo empreendimento  iniciado. O adolescente não deve temer nunca o porvir, porquanto isso seria limitar as aspirações, nem subestimar as lições do cotidiano, que lhe devem constituir mensagens de advertência, próprias para ensinarlhe como conseguir os resultados superiores.
Assim,  nesse período  de formação,  de identificação  consigo  mesmo,  a docilidade no trato, a confiança nas realizações,  a gentileza na afetividade,  o trabalho constante,  ao  lado  do  estudo  que aprimora os valores e desenvolve a capacidade de entendimento,  devem ser  o  programa normal  de vivência. Os  prazeres,  os jogos apaixonantes do desejo, as buscas intérminas do gozo cedem lugar aos compromissos iluminativos, que desenham a felicidade na alma e materializamna no comportamento.
Ser jovem não é,  somente, possuir força orgânica,  capacidade de sonhar  e de produzir, mas, sobretudo, poder discernir o que precisa ser feito, como executálo e para que realizálo.
A escala de valores pessoais necessita ser muito bem considerada, a fim de que o tempo não seja empregado de forma caótica em projetos de secundária importância,  em detrimento de outros labores primaciais, que constituem a primeira meta existencial,  da qual decorrerão todas as outras realizações.
São infinitas, portanto, as possibilidades da vida, limitadas pelas circunstâncias,  pelo estágio  de evolução de cada homem e de cada mulher, que devem, desde adolescentes, programar o roteiro da evolução e seguir com segurança, etapa a etapa,  até o momento de sua autorrealização.
Livro: Adolescência e Vida.
Joanna de Ângelis / Divaldo Franco.

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