domingo, 16 de janeiro de 2022

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS / CONSIDERATIONS ON MULTIPLE LIVES (1)

222. Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação; ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos ser de invenção moderna a doutrina espírita. Constituindo uma lei da natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos, e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais. A ideia da transmigração das almas formava, pois, uma crença disseminada, aceita pelos homens mais eminentes. De que modo a adquiriram? Por uma revelação, ou por intuição? Ignoramo-lo. Seja, porém, como for, o que não padece dúvida é que uma ideia não atravessa séculos e séculos, nem consegue impor-se a inteligências de escol, se não contiver algo de sério. Assim, a ancianidade desta doutrina, em vez de ser uma objeção, seria prova a seu favor. Contudo, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação há, como também se sabe, profunda diferença, assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a transmigração da alma do homem para os animais e reciprocamente.

Portanto, ensinando o dogma da pluralidade das existências corporais os Espíritos renovam uma doutrina que teve origem nas primeiras idades do mundo, e que se conservou no íntimo de muitas pessoas, até aos nossos dias. Simplesmente, eles a apresentam de um ponto de vista mais racional, mais acorde com as leis progressivas da natureza e mais em harmonia com a sabedoria do Criador, despindo-a de todos os acessórios da superstição. Circunstância digna de nota é que não só neste livro os Espíritos a ensinaram no decurso dos últimos tempos: já antes da sua publicação numerosas comunicações da mesma natureza se obtiveram em vários países, multiplicando-se depois, consideravelmente. Talvez fosse aqui o caso de examinarmos por que os Espíritos não parecem todos de acordo sobre esta questão. Mais tarde, porém, voltaremos a este assunto.

Examinemos de outro ponto de vista a matéria e, abstraindo de qualquer intervenção dos Espíritos, deixemo-los de lado, por enquanto. Suponhamos que esta teoria nada tenha que ver com eles; suponhamos mesmo que jamais se haja cogitado de Espíritos. Coloquemo-nos, momentaneamente, num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de probabilidade para ambas as hipóteses, isto é, a da pluralidade e a da unicidade das existências corpóreas, e vejamos para que lado a razão e o nosso próprio interesse nos farão pender.

Certas pessoas repelem a ideia da reencarnação pelo só motivo de ela não lhes convir. Dizem que uma existência já lhes chega de sobra e que, portanto, não desejariam recomeçar outra semelhante. De alguns sabemos que saltam em fúria só com o pensarem que tenham de voltar à Terra. Perguntar-lhes-emos apenas se imaginam que Deus lhes pediu o parecer, ou consultou os gostos, para regular o universo. Uma de duas: ou a reencarnação existe, ou não existe; se existe, nada importa que os contrarie; terão que a sofrer, sem que para isso lhes peça Deus permissão. Afiguram-se-nos os que assim falam um doente a dizer: Sofri hoje bastante, não quero sofrer mais amanhã. Qualquer que seja o seu mau humor, não terá por isso que sofrer menos no dia seguinte, nem nos que se sucederem, até que se ache curado. Conseguintemente, se os que de tal maneira se externam tiverem que viver de novo, corporalmente, tornarão a viver, reencarnarão. Nada lhes adiantará rebelarem-se, quais crianças que não querem ir para o colégio, ou condenados, para a prisão. Passarão pelo que têm de passar. São demasiado pueris semelhantes objeções, para merecerem um exame mais sério. Diremos, todavia, aos que as formulam que se tranquilizem, que a doutrina espírita, no tocante à reencarnação, não é tão terrível como a julgam; que, se a houvessem estudado a fundo, não se mostrariam tão aterrorizados; saberiam que deles dependem as condições da nova existência, que será feliz ou desgraçada, conforme ao que tiverem feito neste mundo; que desde agora poderão elevar-se tão alto que a recaída no lodaçal não lhes seja mais de temer.

Supomos dirigir-nos a pessoas que acreditam num futuro depois da morte e não aos que criam para si a perspectiva do nada, ou pretendem que suas almas se vão afogar num todo universal, onde perdem a individualidade, como os pingos da chuva no oceano, o que vem a dar quase no mesmo. Ora, pois: se credes num futuro qualquer, certo não admitis que ele seja idêntico para todos, porquanto de outro modo, qual a utilidade do bem? Por que haveria o homem de constranger-se? Por que deixaria de satisfazer a todas as suas paixões, a todos os seus desejos, embora a custa de outrem, uma vez que por isso não ficaria sendo melhor, nem pior? Credes, ao contrário, que esse futuro será mais ou menos ditoso ou inditoso, conforme ao que houverdes feito durante a vida e então desejais que seja tão afortunado quanto possível, visto que há de durar pela eternidade, não? Mas, porventura, teríeis a pretensão de ser dos homens mais perfeitos que hajam existido na Terra e, pois, com direito a alcançardes de um salto a suprema felicidade dos eleitos? Não. Admitis então que há homens de valor maior do que o vosso e com direito a um lugar melhor, sem daí resultar que vos conteis entre os réprobos. Pois bem, colocai-vos mentalmente, por um instante, nessa situação intermédia, que será a vossa, como acabastes de reconhecer, e imaginai que alguém vos venha dizer: Sofreis; não sois tão felizes quanto poderíeis ser, ao passo que diante de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis mudar na deles a vossa posição? — Certamente, respondereis; que devemos fazer? — Quase nada: recomeçar o trabalho mal executado e executá-lo melhor. — Hesitaríeis em aceitar, ainda que ao preço de muitas existências de provações? Façamos outra comparação mais prosaica. Figuremos que a um homem que, sem ter chegado à miséria extrema, sofre, no entanto, privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Aqui está uma riqueza imensa de que podes gozar; para isto só é necessário que trabalhes arduamente durante um minuto. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra, que sem hesitar diria: Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia, se for preciso. Que importa isso, desde que me leve a acabar os meus dias na fartura? Ora, que é a duração da vida corpórea, em confronto com a eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.

Temos visto algumas pessoas raciocinarem deste modo: Não é possível que Deus, soberanamente bom como é, imponha ao homem a obrigação de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Acharão, porventura, essas pessoas que há mais bondade em condenar Deus o homem a sofrer perpetuamente, por motivo de alguns momentos de erro, do que em lhe facultar meios de reparar suas faltas? “Dois industriais contrataram dois operários, cada um dos quais podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão. Aconteceu que esses dois operários certa vez empregaram muito mal o seu dia, merecendo ambos ser despedidos. Um dos industriais, não obstante as súplicas do seu operário, o mandou embora, e este, não tendo achado mais trabalho, acabou por morrer na miséria. O outro disse ao seu: Perdeste um dia; deves-me por isso uma compensação. Executaste mal o teu trabalho; ficaste a me dever uma reparação. Consinto que o recomeces. Trata de executá-lo bem, que te conservarei ao meu serviço e poderás continuar aspirando à posição superior que te prometi.” Será preciso perguntemos qual dos industriais foi mais humano? Dar-se-á que Deus, que é a clemência mesma, seja mais inexorável do que um homem? Alguma coisa de pungente há na ideia de que a nossa sorte fique para sempre decidida, por efeito de alguns anos de provações, ainda quando de nós não tenha dependido o atingirmos a perfeição, ao passo que eminentemente consoladora é a ideia oposta, que nos permite a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das existências, sem preferirmos uma hipótese a outra, declaramos que, se aos homens fosse dado escolher, ninguém quereria o julgamento sem apelação. Disse um filósofo que, se Deus não existisse, seria mister inventá-lo, para felicidade do gênero humano. Outro tanto se poderia dizer sobre a pluralidade das existências. Mas, conforme atrás ponderamos, Deus não nos pede permissão, nem consulta os nossos gostos. Ou isto é, ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e encaremos de outro ponto de vista o assunto, unicamente como estudo filosófico, sempre abstraindo do ensino dos Espíritos.

Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que se caberia perguntar o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constituía uma existência sob uma forma qualquer. Não há meio termo: ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si mesma? Se não tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade, era progressiva, ou estacionária? Num e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que, antes de encarnar, só dispõe de faculdades negativas, perguntamos:

1.o Por que mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das ideias que a educação lhe fez adquirir?

2.o Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?

3.o Donde, em uns, as ideias inatas ou intuitivas, que noutros não existem?

4.o Donde, em certas crianças, o instinto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?

5.o Por que, abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados do que outros?

6.o Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton?

Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos, pois que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor que ele consagra igualmente a todas suas criaturas?

Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: são mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcional ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, um milheiro de indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu encubra todos os dias precedentes ao em que os reunistes e que, em consequência, acreditais que todos nasceram na mesma ocasião. Perguntareis naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e jovens outros, instruídos uns, outros ainda ignorantes. Se, porém, dissipando-se a nuvem que lhes oculta o passado, vierdes a saber que todos viveram mais ou menos tempo, tudo se vos tornará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta em oposição à mais rigorosa equidade: é que apenas vemos o presente e não o passado. A este raciocínio serve de base algum sistema, alguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral, e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo que uma outra teoria lhe dá explicação simples, natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam àquela que explica?

À vista da sexta interrogação acima, dirão naturalmente que o hotentote é de raça inferior. Perguntaremos, então, se o hotentote é ou não um homem. Se é, por que a ele e à sua raça privou Deus dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é, por que tentar fazê-lo cristão? A doutrina espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela, não há muitas espécies de homens, há tão somente homens cujos Espíritos estão mais ou menos atrasados, porém, todos suscetíveis de progredir. Não é este princípio mais conforme à justiça de Deus?

         O Livro dos Espíritos - Allan Kardec.

222. Some people object that the dogma of reincarnation is not new, and merely a revival of Pythagoras’ theory. We have never claimed that Spiritism was a modern invention. On the contrary, it is a result of natural law. Therefore, it must have existed since the beginning of time, and we have always striven to prove that traces of it are found in the earliest chronicles of antiquity. Pythagoras was not the author of metempsychosis, but borrowed it from Indian and Egyptian philosophers, who had already maintained this theory for ages. The idea of soul transmigration was a widespread belief, admitted by the most eminent thinkers of that time.

Where did this idea come from? Through revelation or intuition? We do not know, but it may be safely assumed that no concept could have survived ages and commanded the respect of the most esteemed members of the human race if it had not been based on some solid ground of truth and reason. The ancient roots of this doctrine should therefore be considered an argument in its favor, rather than an objection. At the same time, it must not be forgotten that there is a fundamental difference between the antique doctrine of metempsychosis and the modern doctrine of reincarnation, namely, that the spirits who teach the latter categorically reject the idea that the human soul can be embodied by an animal, and vice versa.

The spirits who now teach the dogma of multiple corporeal lives reaffrm a theory that was born in the earliest ages of history, and that has maintained a position of importance up to the present day for a vast majority of people. However, they present this dogma in a manner that is more rational, more compliant with the natural law of progress, and more in harmony with the wisdom of the Creator by stripping away the embellishments and exaggerations added by superstition. A circumstance worthy of note is the fact that it is not in this book alone that the doctrine in question has been instructed in recent years. Even before its release, numerous publications of a similar nature had already been circulated in various countries, and their number has greatly increased since. Here we may ask why it is that the statements of all spirits are not in agreement. We will revisit this matter later.

For now we will review this topic from a perspective that is entirely irrespective of any assumed declarations of the spirits. Let us suppose that they made no statement whatsoever in regard to it, and even that the very existence of spirits had not been surmised. Placing ourselves on neutral ground for a moment and admitting the possibility of the hypotheses pertaining to the variety and unity of corporeal lives, let us see which of these is most in line with reason and our own interests.

There are people who reject the idea of reincarnation simply because they do not like it, declaring that their present life has been quite enough for them, and that they have no desire to restart a similar one. We would like to ask these people whether they think that God has asked them their wishes and opinions in regulating the universe. Either the law of reincarnation exists, or it does not. If it exists, no matter how displeasing it may be to them, they are compelled to submit to it because God does not ask their permission to enforce it. It is as if a sick person were to say, “I have suffered enough today, I do not chose to suffer tomorrow.” Regardless of his or her opposition, that person must continue suffering, not only tomorrow, but day after day, until cured completely. Likewise, if it is their destiny to live again physically, they will reincarnate and live again. Will it serve them to rebel against necessity in vain, like a child refusing to go to school, or a condemned criminal refusing to go to prison? They must submit to their fate, no matter how unwilling they may be to do so. Such objections are too foolish to merit more serious examination. However, in order to reassure them, we will say that the Spiritist doctrine of reincarnation is by no means as terrible as they imagine it to be, and that if they studied it in depth, they would realize that they have nothing to fear. They would understand that each new life depend solely on their own behavior, that they will be happy or unhappy depending on their actions in this present life, and that they may even raise themselves above the danger of falling into the quicksand again due to their actions in this life.

We are assuming that those whom we are addressing believe in some sort of afterlife and that they do not anticipate annihilation or losing their soul to a universal whole, like so many drops of rain in the ocean. If you believe in a future life, you probably do not think that it will be the same for all because, in that case, what would be the point of doing good? Why would human beings exercise any form of self-control? Why should they not satisfy all their passions and desires, even at the expense of the rest of the world, if the result is the same no matter what? If, on the other hand, you believe that the future will be happier or less happy according to what one does in life, wouldn’t you want to be as happy as possible in the future, since it will be for eternity?

Do you consider yourself to be one of the most excellent beings who has ever walked the Earth, and that you are thereby are entitled to supreme happiness? No. You admit, then, that there are some who are better than you, and who consequently are entitled to a higher standing, although you do not deserve to be counted among sinners. Place yourself, then, for a moment, in this situation and imagine that someone comes to you and says, “You are suffering; you are not as happy as you could be and you are seeing others enjoying pure happiness. Would you like to exchange your position for theirs?” “Of course,” you reply, “how do I do that?” “Very simple, all you need to do is redo what you have done badly, and try to do it better.” Would you hesitate to accept the offer, even at the cost of several lifetimes of trials? Let us look at an even more straightforward example. Imagine that someone approaches a person who, although not completely destitute, is forced to suffer a life of poverty due to a small income, and says to him or her, “Here is an immense fortune that can be yours, on the condition that you work hard for one minute.” The laziest person would say, without hesitation, “I am ready to work for one minute, two minutes, an hour, a whole day if necessary! What is a day’s labor in comparison to the certainty of wealth and comfort for the rest of my life?” What is the duration of a corporeal life in comparison to eternity? Less than a minute, less than a second.

We sometimes hear people say, “God, who is supremely good, cannot force a human being to restart a series of trials flled with anguish and tribulations.” Is there more kindness in sentencing people to eternal suffering for a few moments of error than in giving them the means to make amends for their faults?

      “Two manufacturers each had a worker who hoped to one day become their employers’ partners. However, both workers wasted their day and deserved to be fred. One of the manufacturers dismissed the bad worker, despite heartfelt pleas. This working person was unable to obtain any other employment and died of poverty. The other manufacturer said to the worker ‘You have wasted a day. You owe me compensation for the loss you have caused me. You have done your work poorly and you owe me for it. Start over again. If you do a good job I will not fre you, and you may still seek the higher position that I had promised you.” Do we really need to ask which manufacturer has proven to be the most humane? Would God, the paradigm of mercy itself, be more infexible than a just and compassionate person? The idea that our actions for a few years decide our fate for eternity, in spite of the fact that we could not reach perfection, while we were on Earth flls the mind with anguish. Meanwhile, the opposite idea is incredibly consoling as it gives us hope. Without choosing a side for or against multiple lives, and without admitting that either hypothesis is preferable, we contend that no one would prefer, if the matter were left to his or her own choice, to sustain a sentence against which there is no appeal. A philosopher once said, “If God did not exist, it would be necessary to invent one. ”That is what one could say about the concept of multiple lives. As we have already stated, God does not ask our permission when creating Divine plans, nor does God consult our preferences; things either are, or they are not. We will now investigate the probability and consider this topic from a different perspective, the philosophical point of view. We will not include any teachings imparted by the spirits.

If reincarnation does not exist, it means we have only one corporeal life. If the present corporeal life is the only one we are going to have then each person’s soul is created at the same time as his or her bodies. However, if we assume the preexistence of the soul we need to determine the state of the soul before it is united with the body. If the soul existed before the body, we must establish whether this state of being constitutes an existence. There is no middle ground. Either the soul existed before its union with the body, or it did not. If it existed, what was its condition? Did it possess self-awareness? If not, it must have been nearly comparable to non-existence. If it possessed individuality, it must have been either progressive or stationary. In either case, what was its degree of advancement upon uniting with the body? If, on the contrary, we assume that the soul is born into existence at the same time as the body, or that, prior to the birth of the body, it possesses only negative faculties, we have to ask the following questions:

1. Why do souls have such a diversity of aptitudes, independent of the ideas acquired by education?

2. From where does the special aptitude for certain arts and sciences exhibited by many children at a very young age originate, while others remain inferior or mediocre for their entire lives?

3. From where do some individuals derive the innate or intuitive ideas that others lack?

4. From where do some children derive an instinctual gravitation towards vice or virtue, or innate senses of dignity or wrongdoing, which often contrasts with the circumstances into which they were born?

5. Why is it that some people, independent of education, are more advanced than others?

6. Why is it that some human beings are savages and others civilized? If you took a Khoikhoi baby from its mother’s breast, and raised it in our most renowned schools, could you successfully make this baby a Laplace or Newton?

We would ask what philosophy or theosophy can resolve these problems? Either the souls of human beings are equal at birth or not, that we cannot doubt. If they are equal, why are there so many different aptitudes? Do they depend on the physical attributes of each child? This would be the most unfair and immoral hypotheses because in that case it makes a person a mere machine. People would not be responsible for their actions, but would have the right to place all the blame for their wrongdoings on the imperfections of their physical structure. If, on the other hand, souls are created unequal, God must have created them this way. In that case, why is this inherent superiority granted to some and denied to others? Would such partiality be consistent with God’s justice and the equal love God gives to all creatures?

On the contrary, if we admit the existence of multiple lives everything is easily explained. At birth, human beings possess the level of insight that they acquired previously. They are more or less advanced, depending on the number of lives they have previously had and how close or far they are from the common starting point. This is similar to how in a company made up of individuals of all different ages, each person has a degree of development and experience proportionate to the number of years lived. The succession of years for the life of the body is equivalent to what the succession of lives is for the life of the soul.

Imagine that one thousand people of every age, from an infant to an eighty-year-old, were brought together in one place at the same time. Suppose that their past is hidden from you, and you, in your ignorance, imagine them all to have been born on the same day. You would naturally wonder how some are big and some are small, some are old while others are young, some are educated and others ignorant. But if their past was revealed and you discovered that some had lived longer than others, all these differences would be explained. God, out of divine justice, could not create souls either more or less perfect. Given our multiple corporeal lives, the differences in qualities that we see around us is still consistent with strict equality because everything has roots, not in the present, but in the past. Is this reasoning based on any preconceived system or hypothesis? No. Instead it is founded upon the clear and undeniable fact that natural aptitudes, in addition to intellectual and moral development, are all different. This cannot be explained by any current theory, while the explanation is simple, natural and rational by using a new theory. Does it make sense to prefer a theory that does not explain this fact over one that does?

In regard to the sixth question, one will quickly dismiss the Khoikhoi as an inferior race. To this we simply ask whether a Khoikhoi is or is not a human being. If it is a human being, why has God denied it the privileges granted to the Caucasian race? If it is not a human being, why try to make it Christian? Spiritist philosophy is much more wide-ranging than all of that, because it acknowledges that there are not several species of human beings but only humans as a whole, and only recognizes human beings whose spirituality is more or less backward, but who are all capable of the same progress. This view of the human race is more in line with the concept of God’s justice, is it not?

THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.

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