sábado, 29 de janeiro de 2022

Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos / Perceptions, sensations et souffrances des Esprits. (2)

247. Para verem o que se passa em dois pontos diferentes, precisam transportar-se a esses pontos? Podem, por exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?

“Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a um tempo para muitos pontos diferentes, mas esta faculdade depende da sua pureza. Quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada tem a visão. Só os Espíritos superiores podem com a vista abranger um conjunto.”

No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão independe da luz. (Veja-se: Ubiquidade, n° 92.)

248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?

“Mais distintamente, pois que sua vista penetra onde a vossa não pode penetrar. Nada a obscurece.”

249. Percebe os sons?

“Sim, percebe mesmo sons imperceptíveis para os vossos sentidos obtusos.”

a) – No Espírito, a faculdade de ouvir está em todo o seu ser, como a de ver?

“Todas as percepções constituem atributos do Espírito e fazem parte de seu ser. Quando o reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam, porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.”

250. Constituindo elas atributos do próprio Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se às percepções?

“O Espírito unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em particular, com referência aos Espíritos elevados, porquanto os imperfeitos muitas vezes ouvem e veem, a seu malgrado, o que lhes possa ser útil ao aperfeiçoamento.”

251. São sensíveis à música os Espíritos?

“Aludes à vossa música? Que é ela comparada à música celeste? A esta harmonia de que nada na Terra vos pode dar ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem para uma doce melodia. Não obstante, Espíritos vulgares podem experimentar certo prazer em ouvir a vossa música, por lhes não ser dado ainda compreenderem outra mais sublime. A música possui infinitos encantos para os Espíritos, por terem eles muito desenvolvidas as qualidades sensitivas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que de mais belo e delicado pode a imaginação espiritual conceber.”

252. São sensíveis, os Espíritos, às belezas naturais?

“Tão diferentes são as belezas naturais dos mundos, que longe estamos de as conhecer. Sim, os Espíritos são sensíveis a essas belezas, de acordo com as aptidões que tenham para as apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto que, por assim dizer, apagam as das particularidades.”

253. Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e sofrimentos físicos?

“Eles os conhecem, porque os sofreram; não os experimentam, porém, materialmente, como vós outros: são Espíritos.”

254. E a fadiga, a necessidade de repouso, experimentam-nas?

“Não podem sentir a fadiga, como a entendeis; conseguintemente, não precisam de descanso corporal, como vós, pois que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas. O Espírito, entretanto, repousa, no sentido de não estar em constante atividade. Ele não atua materialmente. Sua ação é toda intelectual e inteiramente moral o seu repouso. Quer isto dizer que momentos há em que o seu pensamento deixa de ser tão ativo quanto de ordinário e não se fixa em um objeto determinado. É um verdadeiro repouso, mas que não é comparável ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos são suscetíveis de sentir guarda relação com a inferioridade deles. Quanto mais elevados sejam, tanto menos precisarão de repousar.”

255. Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é seu sofrimento?

“Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos.”

256. Como é então que alguns Espíritos se têm queixado de sofrer frio ou calor?

“É reminiscência do que padeceram durante a vida, reminiscência não raro tão aflitiva quanto a realidade. Muitas vezes, no que eles assim dizem apenas há uma comparação mediante a qual, em falta de coisa melhor, procuram exprimir a situação em que se acham. Quando se lembram do corpo que revestiram, têm impressão semelhante à de uma pessoa que, havendo tirado o manto que a envolvia, julga, passado algum tempo, que ainda o traz sobre os ombros.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

247. Les Esprits ont-ils besoin de se transporter pour voir sur deux points différents ? Peuvent-ils, par exemple, voir simultanément sur deux hémisphères du globe ?

« Comme l'Esprit se transporte avec la rapidité de la pensée, on peut dire qu'il voit partout à la fois ; sa pensée peut rayonner et se porter en même temps sur plusieurs points différents, mais cette faculté dépend de sa pureté : moins il est épuré, plus sa vue est bornée ; les Esprits supérieurs seuls peuvent embrasser un ensemble. »

La faculté de voir, chez les Esprits, est une propriété inhérente à leur nature, et qui réside dans tout leur être, comme la lumière réside dans toutes les parties d'un corps lumineux ; c'est une sorte de lucidité universelle qui s'étend à tout, embrasse à la fois l'espace, les temps et les choses, et pour laquelle il n'y a ni ténèbres, ni obstacles matériels. On comprend qu'il doit en être ainsi ; chez l'homme, la vue s'opérant par le jeu d'un organe frappé par la lumière, sans lumière il est dans l'obscurité ; chez l'Esprit, la faculté de voir étant un attribut de lui-même, abstraction faite de tout agent extérieur, la vue est indépendante de la lumière. (Voy. Ubiquité, n° 92).

248. L'Esprit voit-il les choses aussi distinctement que nous ?

« Plus distinctement, car sa vue pénètre ce que vous ne pouvez pénétrer ; rien ne l'obscurcit. »

249. L'Esprit perçoit-il les sons ?

« Oui, et il en perçoit que vos sens obtus ne peuvent percevoir. »

- La faculté d'entendre est-elle dans tout son être, comme celle de voir ?

« Toutes les perceptions sont des attributs de l'Esprit et font partie de son être ; lorsqu'il est revêtu d'un corps matériel, elles ne lui arrivent que par le canal des organes ; mais à l'état de liberté elles ne sont plus localisées. »

250. Les perceptions étant des attributs de l'Esprit lui-même, lui est-il possible de s'y soustraire ?

« L'Esprit ne voit et n'entend que ce qu'il veut. Ceci est dit en général, et surtout pour les Esprits élevés, car pour ceux qui sont imparfaits, ils entendent et voient souvent malgré eux ce qui peut être utile pour leur amélioration. »

251. Les Esprits sont-ils sensibles à la musique ?

« Veux-tu parler de votre musique ? Qu'est-elle auprès de la musique céleste ? de cette harmonie dont rien sur la terre ne peut vous donner une idée ? L'une est à l'autre ce qu'est le chant du sauvage à la suave mélodie. Cependant, des Esprits vulgaires peuvent éprouver un certain plaisir à entendre votre musique, parce qu'il ne leur est pas encore donné d'en comprendre une plus sublime. La musique a pour les Esprits des charmes infinis, en raison de leurs qualités sensitives très développées ; j'entends la musique céleste, qui est tout ce que l'imagination spirituelle peut concevoir de plus beau et de plus suave. »

252. Les Esprits sont-ils sensibles aux beautés de la nature ?

« Les beautés de la nature des globes sont si différentes, qu'on est loin de les connaître. Oui, ils y sont sensibles selon leur aptitude à les apprécier et à les comprendre ; pour les Esprits élevés il y a des beautés d'ensemble devant lesquelles s'effacent, pour ainsi dire, les beautés de détail. »

253. Les Esprits éprouvent-ils nos besoins et nos souffrances physiques ?

« Ils les connaissent, parce qu'ils les ont subis, mais ils ne les éprouvent pas comme vous matériellement : ils sont Esprits. »

254. Les Esprits éprouvent-ils la fatigue et le besoin du repos ?

« Ils ne peuvent ressentir la fatigue telle que vous l'entendez, et par conséquent ils n'ont pas besoin de votre repos corporel, puisqu'ils n'ont pas des organes dont les forces doivent être réparées ; mais l'Esprit se repose en ce sens qu'il n'est pas dans une activité constante ; il n'agit pas d'une manière matérielle ; son action est tout intellectuelle et son repos tout moral ; c'est-à-dire qu'il y a des moments où sa pensée cesse d'être aussi active et ne se porte pas sur un objet déterminé ; c'est un véritable repos, mais qui n'est pas comparable à celui du corps. L'espèce de fatigue que peuvent éprouver les Esprits est en raison de leur infériorité ; car plus ils sont élevés, moins le repos leur est nécessaire. »

255. Lorsqu'un Esprit dit qu'il souffre, quelle nature de souffrance éprouve-t-il ?

« Angoisses morales qui le torturent plus douloureusement que les souffrances physiques. »

256. D'où vient alors que des Esprits se sont plaints de souffrir du froid ou de la chaleur ?

« Souvenir de ce qu'ils avaient enduré pendant la vie, aussi pénible quelquefois que la réalité ; c'est souvent une comparaison par laquelle, faute de mieux, ils expriment leur situation. Lorsqu'ils se souviennent de leur corps, ils éprouvent une sorte d'impression, comme lorsqu'on quitte un manteau, et qu'on croit encore le porter quelque temps après. »

LE LIVRE DES ESPRITS – Allan Kardec.

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