quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Teoria Espírita do conhecimento - O que conhecemos?

Teoria Espírita do conhecimento - O que conhecemos?
O Espírito é, pois, o conhecedor, é o princípio inteligente da Natureza, cuja faculdade perceptiva se desenvolve através de fases sucessivas. Primeiro, temos a sensibilidade vegetal; depois, a perceptibilidade animal; por fim, a inteligência humana. Uma frase célebre de León Denis resume todo esse processo milenar: “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita­se no animal e acorda no homem”. O conceito de alma foi estudado por Kardec na introdução de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”. A Filosofia Espírita define a alma como o Espírito encarnado. O princípio inteligente, quando manifestado na matéria, produz a vida, segundo o nosso restrito conceito de vida. Assim, ele anima a matéria, é a ânimo dos latinos, a alma das coisas e dos seres. No homem, a alma é o Espírito que anima o corpo. Quando o homem morre sua alma volta ao estado de Espírito, libertase da função de alma. Não existem “almas do outro mundo”, pois estas, na verdade, são Espíritos.
Mas o que é que o conhecedor conhece, o que é que conhecemos através da nossa faculdade perceptiva e da nossa capacidade intelectiva? Há o conhecimento das coisas exteriores e o das coisas interiores. Há a percepção objetiva, que estabelece a relação sujeito objeto, e a percepção subjetiva, que faz do sujeito o seu próprio objeto. Isso quer dizer, em termos epistemológicos (na teoria das ciências) que há Ciência e há Filosofia. Como já vimos, a Ciência investiga os objetos exteriores, a Filosofia investiga a si mesma, é o pensamento debruçado sobre si mesmo. Podemos retornar às explicações de Platão: há o mundo sensível e o mundo inteligível. Temos acesso ao sensível por meio da percepção, captamos, sentimos, percebemos as coisas exteriores. Temos acesso ao inteligível por meio da razão e da intuição. São essas as duas faces da realidade. O verso e o reverso da moeda com que pagamos o direito de saber.
Desde o tempo dos gregos a nossa Civilização Ocidental vem se debatendo entre esses dois campos do conhecimento. Hoje, temos o mundo dividido em duas partes: numa se desenvolve o pensamento materialista como ideologia oficial dos Estados; noutra, o pensamento espiritualista na mesma posição. Nem uma nem outra dessas formas de pensamento, dessas sistematizações do conhecimento, conseguiu trazer nem poderá trazer ao homem a solução dos seus problemas. A Filosofia Espírita se coloca entre ambas e nos oferece a solução dialética, nos termos da velha e boa dialética de Hegel, mostrando o equívoco desse divisionismo artificial e anunciando o advento da compreensão global da realidade.
Espírito e matéria – ensina a Filosofia Espírita – são os dois elementos constitutivos do universo. Sobre ambos paira o poder unificador que é Deus. Essa, diz “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, é a trindade universal. Mas a realidade não se fecha apenas nesse tríptico, nesse esquema geral. Ela é una em essência, mas é múltipla nas suas manifestações. A lei cósmica é a da diversidade da unidade. Querer reduzir o real a um dos seus aspectos, o materialista ou o espiritualista, é simples utopia. A própria História da Filosofia nos mostra a impossibilidade de uma interpretação esquemática da realidade. Os esquemas das diversas escolas filosóficas serviram apenas de muletas do pensamento, em sua busca da verdade. Hoje, os filósofos compreendem que as escolas servem como pontos de observação, como posições estratégicas e não como trincheiras definitivas no campo de batalha do conhecimento. Não mais  se formulam  grandes  sistemas. A época dos sistemas passou. A sistemática foi substituída pela problemática: importam os problemas, não as explicações conclusivas.
A Filosofia Espírita foi uma antecipação dessa nova atitude filosófica. Na mesma época em que surgiam os dois últimos grandes sistemas filosóficos: o Positivismo de Augusto Comte e o Marxismo, os Espíritos diziam a Kardec que era necessário apresentar ao mundo uma Filosofia racional, “livre dos prejuízos do espírito de sistema”. E lhe davam as linhas mestras do novo pensamento através do processo dinâmico do diálogo, que hoje está consagrado em todo o mundo. A forma de perguntas e respostas de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, às vezes considerada como antiquada por alguns espíritas sequiosos de novidades, é hoje a forma preferida para a busca de soluções em todos os setores das atividades humanas. O diálogo é a maiêutica de Sócrates e a dialética de Platão e de Hegel ressuscitadas em nosso tempo. É o instrumento mais prático de conhecimento no plano social. E foi através dele que surgiu a Filosofia Espírita, no diálogo mediúnico de Kardec com os Espíritos.
A mediunidade se apresenta como a oportunidade do diálogo paranormal. A palavra paranormal é simplesmente uma substituta da palavra sobrenatural. Classifica o fenômeno natural inabitual a que se referia Richet. Na proporção em que os homens avançam na evolução espiritual o diálogo mediúnico se integra na normalidade. Quando Sócrates dialogava com o seu daimon (demônio ou Espírito protetor) ou quando Joana D'Arc dialogava com as suas vozes, ou quando Abrahão Lincoln (à maneira do patriarca bíblico) dialogava com os Espíritos na Casa Branca, em Washington, não estavam fora da Natureza nem de normalidades. Só a ignorância das leis naturais que regem a comunicação interexistencial (a comunicação mediúnica entre os diferentes planos de existência) levou os homens a tratarem o assunto com prevenção e excesso de superstição. O diálogo mediúnico que fez a Donzela de Orléans a empunhar a espada e salvar a França, que levou Sócrates  a impulsionar o conhecimento, que fez Lincoln assinar a lei de libertação dos  escravos  nos  Estados Unidos, que orientou Mackenzie King no governo do Canadá, e assim  por diante, levou Kardec a formular a Doutrina Espírita e oferecer ao mundo a maior síntese filosófica de todos os tempos, que é a Filosofia Espírita.
Livro: Introdução a Filosofia Espírita.
J. Herculano Pires.

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